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Podcast - Jazz Contemporâneo: John Hollenbeck, Ted Nash, Alex Sipiagin, Donny McCaslin & Ben Allison!!!

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O baterista e compositor John Hollenbeck
Olá queridos colegas! Sejam bem vindos a mais um podcast do Blog Farofa Moderna, editado para o  Portal MTV em meados do ano de 2010. Este programa é mais um dedicado ao jazz contemporâneo, mostrando cinco geniais músicos e compositores que não nos chegam ao conhecimento aqui em solo brasileiro. Ou seja, esses músicos -- bem conhecidos em solo americano, diga-se de passagem -- ou são menos "famosos" fora de Nova Iorque ou são lembrados  mais como músicos preferidos de outros músicos mais mundialmente famosos, os chamados musician's musician  -- e/ou suas carreiras solo não são divulgadas como mereciam. Há vários músicos nas condições de musician's musician, mas os músicos de que falo têm carreiras solos que deveriam ser mais celebradas, haja vista a importância e a contribuição das suas obras para o jazz contemporâneo. Os músicos apresentados são: o trompetista russo e naturalizado americano Alex Sipiagin, o baterista John Hollenbeck, oo saxtenorista Ted Nash, o saxtenorista Donny McCaslin e, por fim, do contrabaixista Ben Allison -- todos músicos experientes, passados da idade dos quarenta anos e que fazem um som muito inteligente e contemporâneo, com a cara do século 21. Abaixo, os músicos e seus respectivos álbuns apresentados no podcast:

O trompetista Alex Sipiagin (disco: Equilibrium, de 2003) 
O baterista John Hollenbeck (disco: For, de 2007, com o The Claudia Quintet)
O saxofonista Ted Nash (disco: Ted Nash & Double Quartet - Rhyme and Reason, de 1999)
O saxtenorista Donny McCaslin (disco: Declarations, de 2009)
O contrabaixista Ben Allison (disco: Think Free, de 2010)

Podcast - Guitarristas do Jazz: De Wes Montgomery a Kurt Rosenwinkel!!!

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Wes Montgomery


Olá amigos! Sejam bem vindos a mais um programa de podcast comentado aqui no Blog Farofa Moderna. Seguindo aqui com nossa série sobre os instrumentos do jazz, apresento-vos alguns dos grandes guitarristas da história e do jazz contemporâneo. Até os anos 40 a guitarra era apenas um instrumento que tinha o papel de acompanhante dentro das bandas e big bands de jazz - e nada mais do que isso. Mas o guitarrista Charlie Christian mudaria para sempre os rumos da guitarra: não só por ter sido um dos primeiros grandes solistas da guitarra amplificada nos anos 40, mas também por ter configurando o estilo do bebop para esse instrumento com grande técnica e swing, se tornando referência até os dias de hoje não só para jazzistas, mas até para roqueiros e blueseiros.

George Benson
Depois de Charlie Christian nos anos 40, os anos 50 revelou o grande Wess Montgomery, guitarrista de Indianápolis que, inicialmente, tinha uma banda com seus irmãos Monk Montgomery (baixo) e Buddy Montgomery (bateria), conjunto chamado Mastersounds e, que inevitavelmente viria a ser apelidado de Montgomery Brothers. Foi na banda do vibrafonista Lionel Hampton, berço de grandes músicos dos anos 40 e 50, que Wess Montgomery passou a mostrar sua técnica ao público de jazz mais abragente. Nos anos 60, com sua fama de versátil - pois ele era capaz de tocar tanto jazz como rhythm'blues - ele sairia da falida gravadora Riverside para gravar pela Verve, o que acabou lhe dando fama em suas gravações mais comerciais relacionada à "black music" da época (caminho que George Benson exploraria com mais afinco depois de sua morte). Em 1965, com 43 anos, ele morre, deixando uma grande legião de admiradores.

Wess Montgomery era um autodidata: ele desenvolveu seu próprio modo de tocar guitarra, utilizando o polegar ao invés da palheta para dedilhar seus improvisos, bem como usando seqüência de oitavas em partes da improvisação, o que acabou sendo sua marca registrada. Esse estilo de dedilhar com o dedo polegar é, até hoje, uma técnica assustadora para guitarristas que se dedicam a estudar jazz.
Depois de Wess Montgomery, o próximo guitarrista de jazz que assustaria a crítica e público com sua técnica foi George Benson (sim, esse George Benson que nas ultimas décadas tem sido um dos mais famosos e premiados cantores da pop music americana). Assumidamente inspirado em Wess, Benson também usa tanto a palheta pra improvisar quanto o polegar. Aliás, até o estilo de improvisar usando seqüência de oitavas, marca registrada de Wess, George Benson também passou a adotá-lo.

Perfil: o pianista Dave Brubeck, o saxofonista Paul Desmond e o quarteto ímpar – literalmente ímpar !!!

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Dave BrubeckPaul Desmond

  The Way You Look Tonight [Jazz At Oberlin, 1953] Blue Rondo a La Turk [Time Out, 1959] Take Five [Time Out, 1959] Far More Blue [Time Further Out, 1961] Unsquare dance [Time Further Out, 1961] Bru's boogie woogie [Time Further Out, 1961] It's A Raggy Waltz [Dave Brubeck Quartet at Carnegie Hall] Tokyo Traffic [Jazz Impressions of Japan, 1966] Coração Sensível [Bossa Nova USA, 1962] World's Fair [Time Change, 1963] Shim Wa [Time Change, 1963] Tritonis [Tritonis, 1980]

Podcast Perfil - A saga e o estilo do maestro Moacir Santos, um dos maiores mestres da música brasileira !!!

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Coisas (Forma), de 1965
The Maestro (Blue Note), de 1972
Saudade (Blue Note), de 1974
Carnival Of the Spirits (Blue Note), de 1975
Opus 3, nº 1 (Discovery), de 1978 
Ouro Negro (Adventure Music), de 2001
Choros & Alegria (Biscoito Fino), de 2005

Podcast - Perfil: o freebop rasante de Eric Dolphy, o pioneiro do avant-garde jazz que se inspirava em Charlie Parker e Edgar Varèse...

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Olá senhoras e senhores! Sejam bem vindos a mais um podcast da série Perfil, onde apresento o perfil de ninguém mais ninguém menos que Eric Dophy, mestre da flauta, clarineta e saxofone alto. Abaixo, estão relacionados os álbuns que usei para delinear a personalidade do músico que foi um grito no cenário vanguardista americano dos anos 60, o músico que popularizou o uso do clarinete-baixo (o chamado clarone), o músico que lançou o Out to Lunch, um dos álbuns mais intrincados e sofisticados da história do jazz...Caso tenham a capacidade de ouvir música moderna sem enjoar, apreciem este podcast e outros registros da obra de Dolphy, sem moderação!!!

Iron Man (1963)

The Illinois Concert (1963)

Out There (1960)

Eric Dolphy In Europe Vol. 1 (1961)

The Quest (with Mal Wadron, 1961)

Far Cry (with Booker Little, 1960)

Hot And Cool Latin (1959)

Other Aspects (1960)

Out to Lunch (1964)


Podcast - Free Jazz e Improvisação Livre em São Paulo: o surgimento de um novo cenário de improvisadores...

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Olá galera, depois de mais de um ano sem editar um novo programa para o nosso Podcast Farofa Moderna, trago-vos um inédito  falando do novo cenário de músicos de improvisação livre de São Paulo -- sejam bem vindos, pois, a mais um programa comentado aqui no blog. Leiam e ouçam!

Rômulo Alexis

Flavio Lazzarin, João Ciriaco, André Calixto
Marcos Moreira Motta
Rubens Akira
Alex Dias

Biaggio Vessio

Flavio Lazzarin, Luiz Galvão

Mnstr Combo: participações de Flávio Lazzarin (bateria, percussão), Rubens Akira (bateria, trompete, clarone), Vagner Pitta (violino), Renato Atunes (cello), Alex Dias (contrabaixo), João Ciriaco (contrabaixo), Luiz Galvão (guitarra), Romulo Alexis (pocket trumpet), Thiago Salas, entre outros...

Duo Flac: Flávio Lazzarin (bateria, percussão), André Calixto (sax e clarineta)

Aparelho AntiTerror:  Alex Dias (contrabaixo), João Ciriaco (contrabaixo) e Flávio Lazzarin (bateria e percussão)

Mnemosine 5: Biaggio Vessio (guitarra), Romulo Alexis (pocket trumpet), Vagner Pitta (violino), Luiz Gubeissi (contabaixo) e Marcos Moreira Motta (bateria).


Podcast - Perfil: a magnífica trilha do pianista Horace Silver, do hard bop ao jazz-funky !!!

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Horace Silver Trio (1953)
Horace Silver with Jazz Messengers (1954)
6 Pieces of Silver (1956)
Blowin' the Blues Away (1959)
Song for My Father (1964)
The Jody Grind (1967)
Serenade to A Soul Sister (1968)
It's go to Be Funky (1993)
Hardbop Grandpop (1996)

Olá colegas! Sejam bem vindos a mais um programa do nosso Podcast Farofa Moderna. Este episódio, que foi ao ar originalmente em meados de 2010 quando eu andava a escrever um blog no Portal MTV, trata da grande contribuição do pianista e compositor americano Horace Silver para o jazz no período do hardbop, iniciado em meados dos anos 50, até o desabrochar do jazz-funky e do soul jazz nas décadas de 60 e 70. Na verdade, o próprio Silver foi um dos fundadores do estilo de jazz conhecido como hard bop quando se associou com o baterista Art Blakey para formar, em 1954, o lengendário The Jazz Messengers, provavelmente a maior banda e "escola" da história do jazz. Mas o hard bop foi apenas um início para Horace Silver... Acima está a seleção de discos abordados neste podcast. Ouçam!

Podcast e o Box "Wynton Marsalis 50 Anos": o perfil e a atemporalidade do mestre que representou o renascimento do jazz na era da pósmodernidade!

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Certa feita, eu vi uma piada em inglês na internet que dizia mais ou menos assim: "Os fãs do trompetista Wynton Marsalis são mais ferozes ao defendê-lo do que os fanáticos por Jimmy Hendrix ou Ozzy Osbourne". A piada, descabida ou não, fazia referência a um fato inquestionável: Wynton criou uma obra ímpar sem concessões comerciais ou apelos às tendências da cultura pop, ganhou vários prêmios Grammy e outras honrarias com ela, já chegou na casa dos milhões de discos vendidos e, consequentemente, fez seu público em escala mundial -- e com esse público, claro, também vieram os detratores. Wynton, membro de uma representativa família de músicos de New Orleans, acaba  de completar 50 anos de vida -- na carreira, já são 30 anos de glória ininterrupta. Mas apesar de toda sua fama, ele não é uma unânimidade -- nem em New Orleans, nem em Nova York, nem em lugar algum do planeta. Talvez nenhum músico da história do jazz tenha sido odiado com a mesma proporção que é tão amado quanto Wynton Marsalis, que, além de venerado trompetista e compositor, também é o manda-chuva do Jazz at Lincoln Center, em Nova Iorque: a lista de ouvintes que lhe odeiam inclui numerosos fãs de músicos progressistas como Miles Davis, Anthony Braxton e John Zorn, haja vista a sua já manifestada concepção contrária a esses e outros músicos libertários, os quais, portanto, são impedidos por ele de se apresentarem no seu Jazz at Lincoln Center;  porém, a lista de ouvintes que lhe amam inclui uma grande leva de americanos nacionalistas e aqueles fãs que são apegados ao jazz nas suas formas mais autênticas, além de numerosos apreciadores de música erudita, já que ele brilhou nestes dois ramos musicais, sendo um intransigente defensor das tradições; e há, por que não?, aqueles ouvintes que, embora sejam apegados à música de vanguarda, também conseguem apreciar a obra do trompetista com o deleite que um fã de rock sente ao ouvir, esporadicamente, um concerto de Beethoven. Tido por muitos como um líder genial e virtuoso, Wynton Marsalis é considerado o responsável pelo fenômeno do "renascimento do jazz" que se iniciou em  meados das décadas de 80 e 90: não à toa, em 1990 ele apareceu na capa da revista Time -- onde foi consagrado na condição de "trumpet master" e como o principal expoente da "nova era do jazz" iniciada naquela época -- e, em 1997, ele ganhou um prêmio Pulitzer pela genial e extensa composição Blood on the Fields. Tido por outros como um músico exibicionista e retrógrado, Wynton já chegou a ser acusado de, sozinho, retardar o processo de evolução do jazz nessas últimas décadas: isso porque, através do seu impactante sucesso, a maioria dos músicos foram direta ou indiretamente influenciados por sua concepção de resgate aos valores deixados pela tradição, além do já citado fato de que ele fundou um mega centro de jazz, o chamado Jazz at Lincoln Center, onde só contrata músicos que tenham essa visão revivalista.

Podcast - O poderoso som e fraseado do trompete. Seis trompetistas: de Dizzy Gillespie à Dave Douglas!

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Woody Shaw
Dave Douglas
Dizzy Gillespie (Duets, 1957)
Miles Davis (Live at Lincoln Center, 1964)
Woody Shaw (Rosewood, 1977)
Wynton Marsalis ( Wynton Marsalis, 1981)
Roy Hargrove (Vibe, 1992)
Dave Douglas (Constellations, 1995)
+++++

Mais um dos nossos podcasts comentados, este que foi lançado no Portal MTV em meados de 2009. Desde o início da história do jazz o trompete -- um instrumento pequeno, mas muito agudo, e de intensidade poderosa -- é  considerado para muitos o instrumento que mais personifica o jazz, a começar pela sua posição de linha de frente dentro das bandas de New Orleans e nas big bands da Era Swing, enquanto os outros instrumentos eram incumbidos apenas de acompanhá-lo. Reza a lenda que um dos primeiros músicos de jazz, o trompetista Buddy Bolden, tinha o sopro tão forte que as pessoas conseguiam ouvi-lo tocar do outro lado do Rio Mississipi, em New Orleans. Depois vieram trompetistas como King Oliver, Louis Armstrong -- talvez, o trompetista mais conhecido de todos os tempos, ao lado de Miles Davis -- até chegar na era Bebop na década de 40 com o bochechudo Dizzy Gillespie. Assim, mesmo tendo mais saxofonistas do que trompetistas a partir de determinado momento, o trompete marcou o jazz através da figura desses grandes sopradores. Neste programa, apresentarei 6 trompetistas: partindo do chamado Jazz Moderno até o Contemporâneo. E é com Dizzy Gillespie e o saxofonista Charlie Parker que começa a onda do bebop, ou seja, o Jazz Moderno. O sopro de Dizzy era forte, seu dedilhado e articulação eram ágeis e ele ainda conseguia tocar as notas mais agudas do trompete -- um desafio que deixava todos os trompetistas da época frustrados e, claro, com inveja. Dizzy Gillespie foi um dos primeiros e maiores virtuoses da história do Jazz. A faixa que apresento neste programa é a  Wheatleigh Hall, do disco Duets de 1957 (com os saxofonistas Sonny Rollins e Sonny Stitt). Dizzy foi o pai do Bebop, subgênero que vamos ouvir na maioria das faixas deste programa, mas em estilos variados, de acordo os músicos e suas épocas.

Perfil - Podcast: o trompetista Miles Davis, o músico de jazz mais pop da história, um artista de várias fases e faces.

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Superestimado e alçado à categoria das personalidades artísticas mais influentes do século XX, o trompetista Miles Davis -- e não o gênero do jazz, infelizmente -- está na moda aqui em solo tupiniquim: pelo menos enquanto durar a mostra "Queremos Miles" (uma paráfrase ao álbum We Want Miles) elaborada pelo museu francês Cité de La Musique e bancada por aqui pelo Banco do Brasil e pelo SESC. Neste blog, contudo, Miles é apenas mais um dentre os tantos criadores do jazz já abordados. Sim, claro, Miles foi genial -- e não é difícil entender o porquê --, mas uma das mediocridades que combatemos aqui é, justamente, aquela coisa do cara resumir o jazz em  meia dúzia de músicos, como se o jazz não tivesse mais ninguém além de Miles, Coltrane, Shorter, Bill Evans, Herbie Hancock e etc.

Mas, enfim, considerando a repercussão da referida  mostra, e considerando nosso prazer e missão de propagar o jazz dentre os amantes do gênero -- iniciantes ou jazzófilos --, vos apresento aqui um programa de podcast que tenta traçar um perfil geral da obra do mestre.  Era julho de 2009, ano de aniversário de pelo menos três álbuns clássicos de Miles Davis -- Birth of the Cool (1949), Kind of Blue (1959) e Bitches Brew (1969) --,  quando eu tinha acabado de ser chamado para manter um blog dentro do Portal da MTV, onde fiquei até início de 2011. Eu também acabara de ler o livro "Kind of Blue: A História da Obra Prima de Miles Davis" de Ashley Kahn. Como eu já vinha desenvolvendo a idéia de produzir alguns podcasts comentados para este blog, aqui neste espaço, então levei a idéia para os responsáveis pela edição de música do Portal MTV  para fazê-lo no novo blog também: assim criei a série "Perfil" para relatar por meio de podcasts a obra de grandes mestres do jazz e da música instrumental brasileira, onde Miles Davis, naturalmente, teria de ser eventualmente abordado. Pois bem, ao produzir este programa, me deparei com a árdua tarefa de mostrar, em uma única vez, todas as fases de um músico que iniciou sua carreira no bebop dos anos 40, foi um grande melodista em sua fase "cool", passou pelo hard bop, lançou discos com big band no estilo "third stream", iniciou o jazz modal, criou o "jazz fusion" e flertou com o rock, com o pop e até com o hip hop em sua fase final nos anos 80 e início dos anos 90 -- isto é, o cara realmente deixou sua marca por quase todas as transformações acontecidas no jazz a partir do início da sua modernidade. Abaixo os álbuns abordados:


Podcast - A expressividade dos saxofones na história do Jazz. Seis saxofonistas: de John Coltrane à Joshua Redman.

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Este programa de podcast, gravado em meados de 2009 no Portal MTV, aborda a família do saxofone com saxofonistas de vários estilos e épocas, partindo do jazz moderno e englobando o contemporâneo.  Aqui apresento seis saxofonistas -- três, pioneiros do jazz moderno; e três pioneiros do jazz contemporâneo -- em quatro tipos diferentes de saxofone -- sax alto, sax tenor, sax soprano e sax barítono --, fazendo um link entre passado e presente. Sabe-se que se o trompete -- instrumento de sonoridade intensa, aguda e poderosa -- teve uma trajetória determinante para o início do jazz e para o início da sua modernidade enquanto música-arte dotada de técnica, o saxofone, por sua vez, foi o instrumento mais expressivo e dinâmico deste gênero,  aquele que, inicialmente atrelado ao romantismo jazzístico, seria o responsável pelas principais mudanças estéticas do gênero a partir dos anos 50:  isto é, hoje em dia o saxofone já não é o principal instrumento do jazz -- talvez por causa   da banalização que o mesmo sofreu nas últimas décadas do século XX, através de músicos que aderiram às estéticas comerciais de sonoridade melosa e brega --, mas nas décadas de 40, 50 e 60 foram principalmente os saxofonistas -- Lester Young, Charlie Parker, Sonny Stitt, Sonny Rollins, John Coltrane, Ornette Coleman, dentre tantos outros -- quem embalaram as gigs e ditaram as mudanças que esta música sofreu eu seu apogeu já com áurea de principal arte musical americana da era moderna. Uma curiosidade é que o naipe do saxofone era o que mais tinha duelos entre os músicos, bem como diversidade de estilos e sonoridades: isto é, enquanto Charlie Parker, Sonny Rollins e John Coltrane levavam a galera dos jazz clubs à histeria com seus vôos pirotécnicos através de um bebop veloz e intrincado, românticos como Lester Young e Paul Desmond eram capazes de fazer a galera chorar, tamanha a expressividade melódica e a sonoridade "cool" e suave que conseguiam emitir.

Podcast - Big Bands Contemporâneas: Maria Schneider Orchestra versus Lincoln Center Jazz Orchestra, de Wynton Marsalis!

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Olá pessoal! Trago-voz mais um programa do nosso podcast aqui no blog Farofa Moderna. Este programa (originalmente publicado em 04/11/2009, no Portal MTV) mostrará duas das principais big bands do jazz contemporâneo, ou seja, duas das principais orquestras do jazz desse início de século. Uma delas é a Lincoln center Jazz Orchestra, orquestra dirigida pelo trompetista Wynton Marsalis e que foi a orquestra que dominou toda a década de 90 no sentido de ganhar prêmios e as primeiras posições nos rankings da mídia especializada. A outra big band é a Maria Schneider Orchestra, orquestra fantástica dirigida pela compositora e arranjadora Maria Schneider que tem sido muito premiada e elogiada desde o início da década de 2000. Para fazer uma alusão bem simples, se Wynton Marsalis fosse hoje uma espécie de Duke Ellington, Maria Schneider seria um Stan Kenton ou um Count Basie: tamanha a importância desses dois bandleaders para o jazz contemporâneo. Maria Schneider é uma inovadora contemporânea que traz inspirações do mestre arranjador Gil Evans. Wynton Marsalis é um tradicionalista criativo que se inspira nos conceitos de Duke Ellignton e cria orquestrações inusitadas e personalíssimas.

Podcast - Perfil: Hermeto Pascoal, o "Bruxo dos Sons", e sua música revolucionária, cosmopolita e... Universal !!!

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E aí, Galera?! Seja bem vindos a mais um programa do nosso Podcast Farofa Moderna, este originalmente produzido  para o Portal MTV em meados de 2009 -- e foi um post que teve milhares de acessos imediatos. Este programa fez parte da série "Perfil", onde eu tentei traçar uma série de perfis musicais de grandes mestres do jazz e da música instrumental brasileira. Trata-se do primeiro programa onde eu traço um perfil de um músico brasileiro: o escolhido, claro, não poderia deixar de ser o maior deles: o compositor e multiinstrumentista Hermeto Pascoal, o grande inovador da Música Instrumental Brasileira. Hermeto além de grande compositor e arranjador, é um experimentalista que toca uma infinidade de instrumentos como flauta, bombardino, escaleta, saxofone, trompete, piano, acordion, violão, além de fazer uso de uma infinidade de recursos como os sons da voz, sons do corpo, sons de animais, de brinquedos e etc.

Sem querer fazer um programa necessariamente cronológico, inicio tocando faixas do álbum Montreaux Jazz Festival de 1979, época que Hermeto Pascoal já ficara famoso internacionalmente - ele chegou até a tocar com Miles Davis e participar de uma das suas gravações anos antes nos EUA. Depois toco as faixas "Minxing Pot", "Slave Mass" e "Chorinho Pra Ele", do lengendário disco Slave Mass (Missa dos Escravos), um clássico da discografia de Hermeto. Seguem-se as faixas "Suíte Paulistana" e "Alexandre, Marcelo e Pablo" do disco Zabumbe-buá, um dos mais experimentais dos discos de Hermeto. Depois exploro sua volta ao Brasil com faixas dos álbuns Festa dos Deuses (1992), Hermeto Pascoal & Grupo (1989) e Cérebro Magnético (1980). Por fim, termino o pograma com faixas de álbuns mais recentes como Eu e Eles (1999) e Mundo Verde Esperança (2003). Caso queiram saber mais sobre Hermeto Pascoal, ouçam o Podcast Miscelânea Vanguardiosa, onde o músico Ricardo Sá Reston traça um perfil cronológico do grande mestre.

Podcast - Orgão Hammond B3: do gospel das igrejas ao jazz-funk e acid-jazz dos bailes e clubes noturnos!

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Soulive Trio

Seguindo com nossa série de podcasts sobre trago-vos um programa, postado no Portal MTV em 27/10/2009, sobre esse instrumento musical fantástico chamado Hammond B3. Gospel! Soul-Jazz! Funk! Rock! Acid Jazz! Jazz Contemporâneo! Esse foi, mais ou menos, o  percursso que o orgão seguiu dentro do universo da música norte-americana, sendo que até bandas de rock progressivo como Yes, Emserson, Lake & Palmer e Pink Floyd usariam este instrumento em suas músicas. Antes da década de 40 o modelo compacto de orgão vigente era o pipe organ ou o orgão de fole. Na década de 40 surje o orgão Hammond, já sintetizado e eletrônico, o que permitia ao músico criar dinâmicas e efeitos só possivel nesse instrumento. Até a década 50, o orgão era um instrumento mais comum em igrejas protestantes afro-americanas ou em clubs de regiões de maioria negra onde se podia apreciar blues. No jazz, alguns pianistas, como Fats Waller, já vinham usando o orgão pra criar certas nuances e arranjos. Mas foi com Jimmy Smith que o orgão chegou, de fato, aos clubes de jazz de Nova Iorque. Jimmy Smith, evidenciado em meados dos anos 50 pela gravadora Blue Note, ficou famoso não só por ter popularizado o orgão no jazz, mas por ter trago junto consigo a pegada do gospel e soul, criando um  estilo que seria rotulado de Soul-Jazz. Vários organistas como Jimmy McGriffy, Jack McDuff, Richard Groove Holmes saíram de suas cidades para presenciar Jimmy Smith nos clubes mais famosos de NY, dentre eles Small's, Caffe Bohemia, Birdland, dentre outros. Neste podcast nós ouviremos, também da mesma época que Jimmy Smith, o organista Jack McDuff, que foi o cara que revelou o guitarrista George Benson. Aqui McDuff está numa gravação de 1961, Soul Summit, com os saxofonistas Gene Ammons e Sonny Stitt. O nome da faixa: Suffle Twist!

Podcast - A "cover mania" no jazz contemporâneo: versões originais e jazzísticas de Björk, Radiohead, Pavement & Soundgarden!

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Jason Moran plays Björk
Brad Mehldau plays Radiohead
James Carter plays Pavement
Brad Mehldau plays Soundgarden



O jazz quase sempre foi uma música-arte, preponderantemente de requinte instrumental, que se deixou influenciar pela música popular: isso desde os tempos longínquos do cinema e do Circuito Broadway , responsáveis popularizar muitos dos históricos standards que influenciaram o jazz desde a era swing, a partir de meado dos anos 20, até os desdobramentos da linguagem bebop (hard bop e post-bop), que atingiram seu limite nos anos 60. Após a revolução do rock'n'roll dos Beatles, nos anos 60, após a revolução do jazz-rock e da disco music nos anos 70, após a revolução da pop music de Madonna, The Police e Michael Jackson, foi impossível que o jazz não sofresse um mínimo de influência dessas transformações musicais que, por mais sintéticas e atreladas ao entretenimento que fossem, foram transformações que mudaram a cultura de povos em todo o mundo e, por conseqüência, também influenciaram as outras manifestações artísticas pós-modernas: a pintura, as artes cênicas, o cinema e afins. Recentemente, após a fase de retomada das tradições do jazz acústico iniciada no início dos anos 80 pela geração de jovens músicos conhecida como "young lions", uma nova geração de músicos contemporâneos começaram a expelir a influência da cultura pop no jazz: músicos como Brad Mehldau e Jason Moran, bem como bandas como o The Bad Plus e Esbjorn Svensson Trio, não só começaram a incorporar os covers do pop-rock contemporâneo em seus repertórios, como também passaram mostrar influências da música pop em suas composições. Esses jovens músicos dos anos 90 cresceram ouvindo o rock e a música pop das décadas passadas e se depararam, já na fase adulta, com os estouros de bandas como Red Hot Chili Peppers, Oasis e Radiohead, bandas evidenciadas nas décadas de 90 e 2000: é o que justifica a influência dessas bandas em suas criações.  

Baseado nestes desdobramentos contemporâneos, eu produzi um programa de podcast (que foi ao ar no Portal MTV, no dia 12/11/2009), onde você ouvirá quatro canções pop e suas releituras jazzísticas, exemplos de três músicos do jazz que aplicaram releituras em hits do pop contemporâneo em seus álbuns: primeiro a exótica e vanguardista cantora islandesa Björk com sua canção Joga (presente no álbum Homogenic, 1997) e logo em seguida a versão instrumental com o trio do pianista Jason Moran (versão que está no disco Facing Left, de 2000); depois toco Radiohead com Paranoid Android (faixa do disco Ok Computer), mostrando em seguinda a versão instrumental com o Brad Mehldau Trio, faixa que está no disco Largo... (aliás, é preciso salientar que o pianista Brad Mehldau é um mestre dos covers do pop-rock contemporâneo); já no terceiro bloco mostro a faixa My First Mine (do disco Slanted & Enchanted, 2002) com a banda de indie rock Pavement para, logo em seguida, tocar a versão instrumental com a banda do saxofonista James Carter (essa versão está no disco Gold Sounds, inteiramente com composições do Pavement na versão jazzística - e esse foi o único álbum de covers que James Carter gravou); por fim, encerro o programa com a faixa Black Hole Sun do Soundgarden (faixa do disco A-Sides, 1997), mostrando em seguida a versão do pianista Brad Mehldau com seu trio (esta versão está no disco Live, de 2009 - e prestem atenção no solo do contrabaixista Gerry Grenadier nesta faixa!). Boa Audição!

Podcast: Jazz Contemporâneo - Kurt Rosenwinkel, Wynton Marsalis, Ken Vandermark, Ted Nash & Bocato!

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Galera é o seguinte: o período do nosso blog no Portal MTV acabou  e estou re-postando aqui meus podcasts que publiquei por lá. Este fala sobre o Jazz Contemporâneo: uma salada - ou uma farofa - de estilos; uma fusão e confusão de estéticas sonoras. Tudo é válido no chamado Jazz Contemporâneo: um mesmo músico pode tocar tradicional com um swing retrô e no disco seguinte impregnar psicodelia e eletrônica em sua música. As influências de outros idiomas musicais como o rock, o funk, o pop e o hip hop chegam a não só ficarem claras, como até chegam a ser predominantes em alguns discos de músicos de Jazz. Mas o interessante é que mesmo englobando outros estilos musicais, o Jazz sempre terá sua identidade própria, o que nos permite dizer, por exemplo: "Cara, essa composição tem batidas de hip hop, mas é Jazz". Assim como cada músico, mesmo quando muito eclético, consegue mostrar uma identidade jazzística que lhe é própria.

Neste primeiro podcast do Blog Farofa Moderna que publiquei no Portal MTV (03/08/2009) eu apresento cinco músicos que, com suas bandas, vêm lançando trabalhos fantásticos neste início do século 21. A faixa que inicia o podcast é um blues moderno chamado Minor Blues, tema do disco The Next Step (2001), composto pelo guitarrista Kurt Rosenwinkel, um dos guitarristas de timbre mais diferenciado do jazz atual. A segunda faixa é In the Loop, que está no disco de mesmo nome lançado em 2006 pelo saxofonista Ted Nash (reparem no diálogo esperto do saxofone de Ted Nash com o trompete de Marcus Printup). A terceira faixa, Sucker Punch, está no disco Target or Flag (1998) da banda experimentalista Vardermark Five, liderada pelo saxofonista Ken Vandermark: aqui o quinteto de Chicago impregna psicodelia e improvisações livres ao seu jazz. A quarta faixa, Where Y'all At do disco From the Plantation to the Penitentiary (2007), é um jazz funkeado com spoken word (quase perto do estilo do rap), onde o trompetista Wynton Marsalis critica alguns problemas da sociedade americana - como o racismo, por exemplo, e a própria atidude dos negros que chegam a ser conivente com tais problemas. E a ultima faixa, Acid Samba (2000) é uma sonzeira fantástica do trombonista brasileiro Bocato. Boa Audição à todos!

Podcast: Blood on the Fields, de Wynton Marsalis, a primeira obra de jazz a ganhar um Pulitzer!

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Muitos críticos e apreciadores têm reservas contra o trompetista Wynton Marsalis, apesar dele ser um músico já com status de “lenda viva”, tendo estabelecido um grande rol de fãs em todo o mundo. Sim, ele tem idéias e posições contraditórias e incoerentes, que vão na contramão das tendências mercadológicas e de  qualquer espécie de vanguardismo que já quis se instaurar no jazz: eu mesmo, não concordo com o fato dele desclassificar certos aspectos do avant-garde e a influência do hip hop e do pop no jazz contemporâneo – há muita coisa a considerar, há muitos trabalhos inovadores que fizeram ou fazem uso de tais elementos para impor novas facetas. Mas, independente de um determinado músico ter seus próprios preconceitos, aquela coisa preconceituosa de “a primeira impressão é a que fica” não serve para justificar críticas e rechaços quando o assunto é jazz: se Wynton é conservador em suas idéias e posições filosóficas acerca da cultura americana, por outro lado suas obras expressam uma ousadia que poucos músicos e compositores adquiriram durante a história do jazz – o que prediz que todo crítico ou apreciador deveria pesquisar mais aspectos da música do trompetista de New Orleans antes de proferir julgamentos baseado em impressões ligadas à sua personalidade cotidiana. Como trompetista Wynton Marsalis é o único músico da história do Grammy a ser laureado em dois gêneros musicais diferentes em simultâneo: antes de ser premiado com mais sete prêmios Grammy, em 1983 ele ganhou um prêmio na categoria “Best Instrumental Soloist” pelo disco de música erudita Carnival (com o regente Raymond Leppard e a National Philharmonic Ochestra) e, na mesma ocasião, ganhou mais uma estatueta na categoria “Best Instrumental Solo” pelo fraseado inovador e estonteante de “Knozz-Moe-King”, no disco Think of One, álbum estrelado pelo seu primeiro grande quinteto, que inaugurava o renascimento do jazz através do estilo do neo-bop. Esse fato já prenunciava que sua carreira de trompetista na música erudita seria tão grande quanto sua carreira no jazz: o trompetista Maurice André (considerado por muitos o maior trompetista da música erudita do século 20) chegou a dizer que Wynton era, provavelmente, o maior trompetista de todos os tempos e, na esfera do jazz, muitos especialistas chegaram a afirmar que acabava de surgir o mais fantástico trompetista da história – os mais céticos e imparciais diminuíam dizendo: “Não, Wynton não é o maior trompetista da história do jazz, mas é, provavelmente, o maior desde Dizzy Gillespie e Clifford Brown”. Mas o que muitos não previam – principalmente os críticos mordazes – é que esse mesmo trompetista conseguiria ser, também, o maior compositor norte-americano da sua geração: depois de apresentar discos cheio de composições ousadas como Think of One (1983), Black Codes (From the Underground) (1985), Blue Interlude (1991) e On This House, On This Morning (1994), Wynton se consagraria, definitivamente, como um dos maiores compositores da história da música americana ao ser o primeiro músico e compositor de jazz a ganhar o Pulitzer pelo álbum Blood on the Fields (1997), entrando para o seleto rol de gênios compositores tais como Aaron Copland e John Adams. Antes de Wynton, o único compositor de jazz cogitado para receber a maior honraria da mídia e dos intelectuais americanos fora Duke Ellington, mas a tradição era dar o prêmio à gênios da música escrita, ou seja, da música erudita, já que o jazz sempre fora mais ligado à arte do improviso. Alguns compositores eruditos como Debussy, Aaron Copland, Stravinsky e Leonard Berstein já haviam usado elementos primordiais do blues e do jazz em suas composições. Mas no campo do jazz, poucos compositores conseguiram chegar ao patamar do rigor técnico e inventivo dos maiores compositores eruditos. Duke Ellington já mostrara, ainda na década de 30 e 40, que uma composição de jazz poderia ser tão elaboradamente escrita e arranjada quanto qualquer composição erudita. Charles Mingus tomou para si a responsabilidade de elevar a escrita jazzística à um patamar tão inventivo e cerebral quanto as obras de Stravinsky. Wynton Marsalis, por sua vez, está indo além: após ganhar o prêmio Pulitzer, o compositor passou a se dedicar integralmente na intersecção entre a arte do jazz e a arte da escrita erudita, unindo os dois universos em um punhado de obras tais como All Rise (sua primeira sinfonia para orquestra e big band, estreada pela Lincoln Center Jazz Orchetra e a Filarmônica de Nova Iorque em 2000), Quarteto de Cordas nº 1, A Fiddler's Tale (obra camerística em resposta à A História do Soldado, de Stravinsky) e suas duas recentes sinfonias, a Blues Symphony (escrita em homenagem a Martin Luther King, estreada pela Lincoln Center Jazz e a Orquestra Sinfônica de Atlanta) e a Swing Symphony (sua terceira sinfonia, estreada pela Lincoln Center Jazz Orchestra e a Filarmônica de Berlim em 2010). Esses três compositores máximos do jazz, Wynton, Duke e Mingus, foram os únicos que mostraram que a diferença entre o jazz e música erudita está apenas na linguagem, e que a escrita jazzística podia ser tão elaborada e cerebral quanto à erudita – ou que, numa “terceira via” – algo que já havia sido proposto por Ghunter Schuller em seu “Third Stream”, no início da década de 50 –, a fusão entre as duas linguagens é um terreno imenso no qual poucos criadores ousaram e ousam explorar suas possibilidades.

Especificamente em Blood on the Fields, Wynton Marsalis usa e abusa da ousadia típica do rigor da escrita erudita através de um projeto eminentemente jazzístico. Aliás, acima de tudo, Blood on the Fields é um ousado trabalho de pesquisa, colagem e de arranjo musical baseado na escravidão e na origem da cultura americana. Trata-se de uma composição jazzística moderna com o mesmo rigor erudito de um oratório ou uma ópera contemporânea, onde estão impressos os mais variados elementos musicais ligados ao jazz e a toda a cultura americana: a obra aborda desde elementos arcaicos e históricos como as work songs (canções indeterminadas, entoadas pelos negros enquanto trabalhavam nas fazendas de algodão), o negro spirituals (canções negras espirituais), o blues, o gospel (a canção protestante americana, oriunda do sul dos EUA), o bluegrass (estilo originário da country music), o ragtime, os rítmos afro-latinos, o second line (ritmo característico das bandas tradicionais de New Orleans) e o swing, até elementos modernos como a linguagem bebop, o post-bop e o avant-garde. O exotismo, a riqueza de efeitos e detalhes, é impressionante: sincopações saltitantes, cantos e contracantos sobrepostos, efeitos de surdinas inusitados, dissonâncias contrastantes, scat vocais (improvisação com a voz), gritos, vozes em coro, melodias espirituais entoadas, palmas, cacofonias, além dos solos inflamados de saxofones, trombones e trompetes e dos recursos tradicionais de percussão (como, por exemplo, o uso do pandeiro fazendo a vez da bateria em algumas partes). Ademais, por detrás de toda a riqueza do arranjo musical está o uso estratégico da voz para ditar uma temática baseada na escravidão norte-americana. Na verdade, a Blood on the Fields está registrada na Boosey & Hawkes (empresa especializada em editar e publicar partituras de obras clássicas – do moderno ao contemporâneo), como uma peça escrita para big band de jazz e três vocalistas, mas Wynton usa as vozes dos próprios músicos para ditar, em coro falado, a estória temática da obra: estória de um casal de negros, Jessé e Leona, que são tirados da África para trabalhar como escravos nos EUA. Os destaques ficam por conta da cantora Cassandra Wilson e John Hendricks nos vocais, de James Carter em alguns solos de sax barítono e clarone, de Herlin Riley na bateria e percussão, de Wyclife Gordon na tuba e Michael Ward no violino.

A exemplos de como aconteceu em outras obras dramáticas da história da música erudita ocidental – “Fidelio” de Beethoven, “Pasifal” de Wagner e “Wozzeck” de Alban Berg – em Blood on the Fields Wynton Marsalis mostra, de forma inovadora, como uma peça de jazz também pode fazer uso do drama para impor uma expressão musical exuberante: com moldes criativos na escrita, na orquestração, na rítmica e na improvisação. O drama por detrás de Blood on the Fields é sobre um casal de negros que são tirados de seus países na África para trabalhar como escravos nos EUA. Wynton diz que a obra não é, necessariamente, uma obra centrada na escravidão em si, mas no processo que levou os negros escravizados à se tornarem americanos de corpo, mente e alma. A estória é a seguinte: tirados dos seus países e das suas famílias, Jesse (na voz de Miles Griffit) e Leona (na voz de Cassandra Wilson) se conhecem e ainda no porão do navio que os transportava. Ele é um ex-príncipe e ela uma plebéia. E por ele ter vindo da realeza, sua arrogância prevalece de tal forma que ele não a aceita como uma igual: mesmo depois dela cuidar dos seus ferimentos, após uma tentativa de fuga. Já nos EUA, ele é posto ao trabalho e a todos os sofrimentos da escravidão, o que lhe faz questionar suas origens e sua personalidade. No meio, entre Jesse e Leona, o drama evidencia o personagem Juba (na voz de John Hendricks), um velho guru com quem Jesse eventualmente passaria a se aconselhar. Juba aconselha Jesse a encontrar sua nova identidade, lhe aconselha a amar sua nova terra, a aprender a cantar com alma (pois isso lhe aliviaria as dores) e lhe aconselha a questionar como ele gostaria de ser chamado quando fosse livre: “nigger, colored, negro, black, afro-american, african-american or the next name (maybe just american)?”. A relação com Leona, os conselhos de Juba e o sofrimento das chicotadas fazem com que Jesse adquire humildade para aceitar sua nova terra e mudar seu carácter. Ouçam!


Bridgestone Music: Podcast & Entrevista com o trompetista Christian Scott – O "new jazz" e a necessidade de uma mídia atuante...

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Por Vagner Pitta & Luís Delcides
Fotos: Mila Maluhy
O apoio que a MTV deu à iniciativa do Blog Farofa Moderna em 2009 e 2010, nos proporcionou muitos bons frutos:  além da credencial para conhecer e entrevistar músicos, documentar shows e estar antenado com o cenário e os bastidores, tivemos o privilégio de divulgar essa forma de arte chamada jazz para mais pessoas interessadas, as quais, antes, só tinham ouvido falar de um ou outro panteão de ouro – Miles Davis, por exemplo, sempre foi o músico mais superestimado na mídia mundial e, portanto, o mais conhecido pelo público em geral. Pois bem, essa galera “mais esperta” (constituída, em sua maioria, de jovens que vão de adolescentes a pessoas na casa dos 40 anos de idade), que usa a internet para conhecer meios alternativos de arte – como o jazz e a música instrumental brasileira –, agora tem a oportunidade de estar antenada não só com a história do jazz, mas principalmente com o jazz contemporâneo: o som feito pra nós e com as características populares do nosso tempo, já que o jazz é nada mais do que uma música-arte que desde sempre se baseou na cultura popular americana – hoje juvenilmente entendida como a “cultura pop”, o cerne principal da MTV. E no primeiro dia do Brigestone Music Festival, acontecido de 19 à 22 de Maio de 2010, eu e o fotógrafo-jornalista Luiz Delcides, responsável pelo site de eventos Paulicéia do Jazz, conversamos com o trompetista Christian Scott, um dos novos músicos adeptos à tendência de fazer um “novo jazz”, onde as influências da cultura pop e da chamada música urbana (o neo-soul, o hip hop, a música eletrônica) são os elementos principais.


O Bridgestone Music e a Mídia

É sempre maravilhoso escutar um swingão, um hardbop dos anos 50 com solos transcendentais de John Coltrane e Lee Morgan “quebrando tudo”! Mas esse som, que antes era antenado com a soul music e a cultura popular da sua época, já está eternizado na história do jazz, enquanto o jazz atual, repleto de músicos excepcionais e inovadores, precisa de mais atenção na grande mídia para que mais pessoas cheguem até ele. E o festival Bridgestone Music, se não tivesse sido interrompido em 2011, já se configuraria como um dos mais importantes eventos do gênero na América Latina, um evento de nível internacional patrocinado pela Bridgestone Brasil, que foi idealizado para não deixar o público brasileiro de “mãos abanando” em termos de jazz contemporâneo: tanto que o requinte, o sucesso e o clima de ineditismo com os quais essa terceira edição se realizou, só evidenciaram que no Brasil há, definitivamente, um público ávido, uma demanda por esse tipo de música. Mas os canais midiáticos ainda precisam atualizar esse público. Aliás, em se tratando da mídia como um todo, da mesma forma que canais do pop e rock – como a MTV, por exemplo, – já não vêem mais lógica em falar do rock’n’roll de Elvis Presley e Beatles mais do que falam de bandas de rock contemporâneo como Radiohead e The Libertines – a não ser em um ou outro programa ou documentário especial –, os divulgadores mais reacionários do jazz aqui no Brasil deveriam “cair na real” e parar com a repetição de falar sempre e sempre e sempre do jazz de 50 anos atrás, de jazzistas como Miles Davis, John Coltrane, Billie Holliday e etc. No jazz, mais do que em qualquer outro gênero musical, é importantíssimo nunca se esquecer dos mestres e da história, mas os divulgadores deveriam ter, pelo menos, um equilíbrio em mostrar tanto a tradição quanto o atual, pois o jovem também quer conhecer a música da sua época, a música que tenha sua cara, a música que sintetize seu atual contexto social; e os novos músicos e as novas bandas, por suas vezes, precisam formar seus públicos. Esses divulgadores deveriam, portanto, mostrar mais bandas e músicos do jazz contemporâneo, pois o que presenciamos na mídia especializada em música no Brasil é que ou ela nunca fala de jazz ou, quando fala, é sempre sobre o jazz dos anos 50 e 60, enquanto novas bandas e novos músicos que estão mudando a cara do jazz nos últimos anos ficam à mercê, são desprezados. Atualmente, aliás, quem faz esse papel de informar previamente as pessoas sobre o jazz contemporâneo é a internet: os poucos sites, blogs e portais que constituem a chamada “mídia alternativa”, onde as pessoas mais curiosas acabam encontrando arte e cultura de qualidade. Mas há, com a tendência da plena inclusão digital no Brasil, uma demanda crescente de pessoas que gostam de jazz – ou que estão procurando conhecê-lo – e querem estar por dentro, sim, do que anda acontecendo atualmente com essa música que é um fenômeno mundial. E foi exatamente o resultado desse paradigma que presenciamos na terceira edição do excelente e extinto Bridgestone Music Festival, acontecido do dia 19 ao 22 de Maio de 2010 no bairro de Moema, em São Paulo: só uma minoria – digamos que 1/3 da galera – conhecia, efetivamente, o som de Christian Scott, Don Byron, Dave Holland, Jason Moran, Christian McBride e outros músicos presentes no evento; a grande maioria das pessoas que foram prestigiar o festival até tinham a informação de que aquele evento acabava de lhes dar a oportunidade de presenciar importantíssimos músicos do jazz contemporâneo, mas elas não tinham nem idéia de como se configura o jazz atualmente – muitas nunca nem tinham ouvido tais músicos, e outro tanto delas, movidas pelo glamour do evento, estavam ali em sua primeira audição “live” em relação à uma banda de jazz. O festival, em si, foi um sucesso: o organizador acertou na escolha de músicos criativos, grandes portais e jornais – como o Estadão, Folha, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Radio Eldorado, MTV e o Portal UOL – o divulgaram, os ingressos foram bem procurados, a produção foi excelente e pontual nos bastidores e o público, mesmo os que não conheciam tanto o jazz, mostraram entusiasmo nos shows, o que mostra que as pessoas não precisam ser ricas ou intelectuais pra começar a ouvir e curtir jazz. Mas é óbvio que depois do evento, ao fazer nossas reflexões, concluímos que se a mídia brasileira já tivesse o hábito de divulgar mais a música instrumental que anda acontecendo – mesmo que ocasionalmente –, o público do jazz e da música instrumental brasileira seria bem maior e bem mais informado. Pessimista com essa situação, um colega, o músico Rubens Akira, chegou a dizer que muitas pessoas chegaram ali no Bridgestone Music achando que iam ouvir algo parecido com aquele tipo de música divulgado na excelente série/ coleção “Clássicos do Jazz” do Jornal Folha de São Paulo, porque o ultimo grande feito da mídia com relação à divulgar o jazz massivamente foi, justamente, esse tipo de série promocional que a Folha lançou alguns anos atrás, e muitas pessoas ali presentes acharam que iam compreender aqueles sons simplesmente por terem uma coleção de clássicos do jazz em sua estante . Exemplo: não fossem os críticos, os blogueiros e os divulgadores mais antenados, poucas pessoas seriam capazes de enxergar as influencias de Miles Davis no som de Christian Scott apenas por ter adquirido o CD dessa coleção que vem com um encarte e uma compilação de temas do mítico trompetista. Mas se por um lado a Folha lançou essa coleção promocional sobre os mestres do jazz – com CD’s de Miles Davis, John Coltrane, Art Blakey, Chick Corea, John McLaughlin, Herbie Hancock e etc –, por outro lado em seu editorial o jazz e a música instrumental brasileira não têm nenhum espaço regular ou ocasional, a não ser quando um ou outro jornalista mais antenado resolve usar o rodapé do jornal para registrar o óbito de algum músico representativo ou quando há um evento anual, há algum festival importante, como aconteceu com o Bridgestone: aí nosso colega, o jornalista Fabricio Vieira ou jornalistas veteranos do porte de Roberto Mugiatti, por exemplo, têm a oportunidade de usar um pequeno espaço no caderno Ilustrada ou do caderno de cultura do Estadão pra tratar o jazz com o devido respeito e atenção que ele merece. Resultado: como o Estadão, a Folha, a Abril e todos os grandes veículos jornalísticos segregam a música instrumental contemporânea, documentando apenas o sertanejo, o pop e rock internacional, a maioria do público do jazz só conhece bossa nova (porque essa ainda é divulgada ocasionalmente como se fosse a ultima cereja da cultura e canção brasileira), o jazz produzido nos anos 40, 50, 60 e o fusion comercial dos anos 70 – como se o jazz contemporâneo e a música instrumental produzida no Brasil nessas últimas décadas fossem algo inferior ou não merecessem nenhuma atenção. Se em São Paulo há esse descaso, nesse sentido os cariocas interessados em música instrumental – ao menos os que lêem jornal – têm o privilégio de estarem antenados através da coluna dominical que o jornalista Luiz Orlando Carneiro – também um dos presentes no Bridgestone – mantém no Jornal do Brasil, onde são divulgados novos discos, novos músicos e novos acontecimentos do jazz em território nacional e internacional. Já para os visitantes do Blog Farofa Moderna, não existe esse problema, pois em três anos de existência, e agora com o apoio da MTV, conseguimos atingir a meta de ser um espaço alternativo para pessoas que gostam de jazz: e nossa meta tem sido alcançar a excelência em informar os apreciadores sobre o que anda acontecendo no jazz contemporâneo – tanto, que músicos como Christian McBride, Dave Holland, Jason Moran, Don Byron e Uri Caine, todos os presentes no Bridgestone Music 2010, já vinham sendo mostrados aqui a bastante tempo.


Entrevista com Christian Scott


Ao encontrarmos com o trompetista Christian Scott, após o ensaio para a passagem de som, falamos do Blog Farofa Moderna e do site de eventos Paulicéia do Jazz. Falamos de como o jazz era visto como uma musica elitista no Brasil. Ele, curioso, por se tratar de um blog ligado à MTV: disse que divulgar aos jovens, independente de classes, era o caminho. Eu disse que fazíamos nossa parte e estávamos dando uma pequenina contribuição, oferecendo 80 ingressos gratuitos para os visitantes do blog Farofa Moderna e do Portal MTV através de um concurso cultural. Ele elogiou nossa iniciativa e disse que “gostaria muito de conversar com essa galera” (os ganhadores dos ingressos). A entrevista com Christian e seu quinteto – composto por jovens de 20 a 27 anos – começou em tom de conversa, já que eu estava sem o equipamento de gravação. Já no camarim, o jornalista Luiz Delcides nos apresentou e deu às boas vindas aos membros da banda. Minha primeira observação foi a respeito do curioso design do trompete de Christian, que ele mesmo nomeou como “Katrina” (em alusão ao tsunami que devastou New Orleans em 2005): ele disse ter se inspirado no trompete de Dizzy Gillespie, mas o design era dele mesmo. Também perguntei de onde vinha aquele sopro intimista, quando ele sopra suave, a maioria das vezes com surdina, e sai “ar” e “som” juntos (conferir isso na balada “Isadora”): ele me disse que essa técnica de sopro se chama “whisper” e o primeiro músico a desenvolvê-la foi, curiosamente, o trompetista Clifford Brown – depois, Miles Davis seria um dos grandes adeptos. “Por falar em Clifford Brown, quais os trompetistas que lhe influenciam? Miles Davis seria o principal deles”? Christian me disse que não gostava dessa palavra “influência”, pois a achava “perigosa”, tendenciosa; disse-me que eles não queriam ser vistos como uma “influência” de algo já estabelecido, mas queriam ser vistos como eles mesmos. Retifiquei-me, substituindo a palavra “influência” por “inspiração”. Ele sorriu e disse-me: “Ah ok, ok, essa palavra é bem melhor...bem, não só Miles Davis me inspira, mas também Dizzy Gillespie, Clifford Brown e Booker Little – você conhece Booker Little? Antes que eu respondesse, Christian olhou para o baterista e disse: “Pergunte algo à esse cara; ele é o grande cara da banda, ele é a nossa grande influência” – todos eles deram risadas quase em tom de algazarra. Perguntei ao baterista Jamire Williams qual musico da história do jazz o inspirava e também perguntei, descaradamente, onde estava o “swing” da banda e a resposta foi: “Não ligamos pra essa coisa de swing, cara! Mas um cara que me inspira é o baterista Baby Dodds”. Fiquei curioso pelo fato dele citar um dos primeiros grandes bateristas do jazz: Baby Dodds. Em seguida, para provocar mais ainda eu lhes joguei a máxima: “Mas o Wynton Marsalis diz que jazz sem swing não é jazz”. Christian Scott olhou para os companheiros, todos olharam pra ele desconfiados e deram risadas quase em tom de algazarra, outra vez. Christian virou pra mim e disse: “Ok, man! He said that...voce conhece Louis Armstrong? Voce conhece Kid Ory? Eles foram músicos do início, anos 10 e 20, quando essa música já se chamava jazz, e no som da época deles ainda não tinha o swing. O swing foi um elemento que surgiu depois; então não precisamos ter esse “swing” pra sermos rotulados como músicos de jazz”. Falei que conhecia, sim, Louis Armstrong e Kid Ory e aproveitei, para perguntar se ele, por nascer em New Orleans, se sentia influenciado pela tradição dos trompetistas da cidade e pela riqueza cultural que sempre existiu por lá: “Sim, de certo modo fui influenciado, pois nasci em New Orleans e meu tio (o legendário saxofonista Donald Harrison) e meu pai, Clinton Scott, eram músicos, saxofonistas. Mas apesar de ter tido educação musical em casa, nós não tínhamos muitas condições; após a high scholl tive que me mudar de New Orleans para estudar na Berklee School of Music em Boston e, depois, para Nova Iorque para tentar ganhar algum dinheiro; por isso não me vejo como um músico representante de um lugar só.” Em seguida, perguntei sobre a concepção da banda: “Vocês usam batidas de hip hop e elementos do rock e da música pop, como, por exemplo, a canção “The Eraser”, de Thom Yorke (vocalista do Radiohead), umas das faixas do seu último disco Yesterday You Said Tomorrow. Isso é uma tendência ou uma tentativa de deixar o som mais acessível aos jovens? Qual o contexto da banda?”O guitarrista Matthew Stevens tomou a frente para explicar: “Nós não estamos preocupado com os rótulos; queremos apenas fazer a música que tenha a ver com nosso contexto, por isso usamos tais elementos, pois crescemos ouvindo rock, pop e hip hop, mas nada disso importa mais do que nossa música”. Christian Scott, por sua vez, emendou dizendo: “Cada músico da banda é também compositor, e eu escrevo a maioria das músicas. O que importa pra gente é a improvisação, é criar nossa música com a nossa história”. Em seguida falei que os pianistas Robert Glasper e Aaron Parks pareciam trilhar o mesmo caminho. Perguntei pra eles o que eles achavam do jazz dos últimos anos: eles disseram que não se interessavam pelo jazz dos outros músicos e que tinha muito “lixo” acontecendo; disseram que não iam opinar sobre outros músicos, que podiam falar apenas da música deles e que eles nem gostam tanto de ouvir o jazz produzido nessas ultimas décadas, preferiam ouvir outros estilos de música (bandas pop, hip hop e etc). Perguntei ainda ao Christian: “Se você pudesse dizer algo para os jovens brasileiros, para que eles ouvissem mais jazz, o que você falaria? Christian apenas me disse: “Não falaria nada, pois, se eu falasse, eles não iam obedecer – os jovens não obedecem imposições –; o que podemos fazer é apresentar nosso som e deixar que as pessoas escolham ou não escutar nosso jazz”. O jornalista Luiz Delcides encerrou a entrevista perguntando quais músicos brasileiros eles gostavam: Christian Scott citou Seu Jorge; o guitarrista citou Romero Lubambo e “um músico branco de cabelão até os ombros”. Perguntei: “Seria o Hermeto Pascoal?”. Ele disse: “Yes, yes, he is a genius; he is too crazy, man”! Luiz Delcides os alertou para o fato de que Hermeto Pascoal estaria em São Paulo na semana seguinte fazendo apresentações em uma das unidades dos Sescs da cidade. Eles lamentaram dizendo que não poderiam vê-lo porque teriam que ir direto para Nova Iorque. Saímos de lá com a seguinte conclusão: enquanto esses músicos, jovens, querem fazer um som atual, necessariamente rebelde, e querem virar a página dos anos 80 e 90, nós brasileiros ainda estamos focados no jazz dos anos 60...


Christian Scott Quintet: o Show

jO show de Christian foi estupendo. Esteticamente, já sabíamos que as inspirações no acid jazz, no fusion, no pop e hip hop lembram a ultima fase de Miles Davis, só que a sonoridade acústica, a interatividade dos músicos e a quantidade de improviso afastam-nos da possibilidade de acharmos o jazz do Christian Scott Quintet uma música de teor estritamente comercial, como foram alguns projetos da fase pop de Miles. E no show, imperou a arte. As baladas encantaram os mais serenos. Lampejos de funky, hip hop e texturas do pop e rhythm’n’blues ficaram evidentes, mas ficou óbvio para o público, principalmente aos que já conheciam a banda ou algo de jazz contemporâneo, que a concepção ali era transformar esses elementos em algo estritamente instrumental, algo estritamente jazzístico e contemporâneo -- algo que os críticos norte-americanos ja rotularam de "New Fusion". Mas os temas e os improvisos foram totalmente acessíveis às pessoas, apesar da estética contemporânea. Enquanto solista principal, o trompetista Christian Scott não foi aquele improvisador de sequências abruptas de notas ou de fraseados intrincados – algo que, realmente, não é sua característica –, mas seus solos, a maioria composto por notas longas e melódicas, se limitaram à ditar dinâmica da banda: ditando quando que ela poderia soar mais suave e ou com mais intensidade. A influência de Miles Davis no uso da surdina, no registro médio e no uso de escalas ficou evidente no trompete de Christian; mas ele também mostrou quase a capacidade de um Dizzy Gillespie no quesito de atingir as notas mais agudas com uma sonoridade forte e penetrante, momentos esses onde os músicos atingiram um certo clímax e a platéia os presentearam com palmas efusivas. O baterista Jamire Williams era o que dava a intensidade sonora junto ao trompete de Christian: sua bateria era ritmicamente carregada e conseguia evidenciar os ritmos citados, sem impor um groove ou um swing repetitivo. Já a função do guitarrista Matthew Stevens foi “temperar” a banda com uma textura mais “elétrica” e “rocky”, sutilmente psicodélica em algumas partes. Quanto ao repertório, composto quase inteiramente por composições próprias, os destaques foram os temas K.K.P.D, onde o baterista aplicou uma explosiva introdução, e a bela balada “The Eraser” (canção de Thom Yorke, da banda Radiohead). Porem, em determinado momento, Christian incitou os colegas a tocarem algo no ritmo do bebop, puxando um tema de Miles Davis, “Milestone”, o que provocou uma salva de palmas na platéia – aí o trompetista realmente impressionou com frases mais cheia de notas, uma certa dose de bop virtuosístico. Em suma, o Christian Scott Quintet impressionou os que não os conheciam e superou as expectativas de quem já tinha adquirido seus discos. Não foi um show de exibicionismo técnico. Foi um show de mais dinâmica, mas com muitos momentos de êxtases. Foi uma das mais aplaudidas entre as oito bandas que participaram da 3ª edição do Brigestone Music. Para quem não foi ao show e quer conhecer o som do Christian, só acessar o link abaixo e ouvir um podcast no Blog Farofa Moderna do Portal MTV.





Outros Excelentes Sites Informativos (mais sites nas páginas de mídia e links)