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Grupo Um: a banda e sua 'trilogia', um tratado do "fusion vanguardista" brasileiro!!!


Os brasileiros adeptos aos sons mais fusionistas e progressivos, no que diz respeito à revolução musical advinda da exploração -- livre, interativa e composicional -- das várias sonoridades instrumentais possibilitadas pelo aparato parafernálico que os anos 70 revelou, não podem se queixar da falta de um material que represente o pioneirismo tupiniquim nos campos da música experimental e de fusão: além da música revolucionária de Hermeto Pascoal -- o 'sumo sacerdote', o 'mago', o 'bruxo' da música criativa brasileira --, pelo menos três grupos, dentre os tantos, são obrigatórios nas estantes dos amantes da música instrumental brasileira: o pioneiro trio Azymuth, do baterista Ivan Conti "Mamão", o Grupo Um, dos irmãos Lelo e Zé Eduardo Nazário, e o Cama de Gato, do saxofonista Mauro Senize. Neste post, falo do Grupo Um, uma banda incendiária de jazz-fusion totalmente independente e de cunho vanguardista, considerada um dos ícones representantes da chamada "Vanguarda Paulistana", movimento de São Paulo constituído de um circuito rico de cantores, músicos e bandas tais como Luiz Tatit (fundador do Grupo Rumo), Ná Ozzeti, Arrigo Barnabé, Divina Increnca e vários outros, todos adeptos às novas sonoridades e às artes vanguardistas as quais o Brasil e o mundo puderam conhecer a partir dos anos 60, mais propriamente a partir do advento da miscelânea musical setentista: essa emergente galera de artistas, surgidas em São Paulo após o boom tropicalista, curtiam desde as novas harmonias do dodecafonismo, passando pela poesia marginal, englobando as distorções psicodélicas do rock, a miscelânea do fusion até a música eletroacústica, diferindo dos tropicalistas no sentido de adotar uma identidade urbana e não antropofágica.



No caso do Grupo Um, fundado em 1976, além do uso da estética do jazz-fusion fundada por Miles Davis em 1969, ainda houve uma associação clara com o free jazz representado por gênios como Cecil Taylor, John Coltrane e Anthony Braxton, músicos esses que, desde cedo, os irmãos Nazário admiravam -- elementos das estéticas fusionistas e vanguardistas seriam agregados à brasilidade dos componentes do grupo, numa forma elaborada e interacional. Junto à eles, chegaram para constituir o projeto de formação da banda o legendário contrabaixista Zeca Assumpção (na época recém-formado pela aclamada Berklee School Of Music, nos EUA) e o saxofonista Mauro Senise (que havia estudado com o clarinetista Paulo Moura e seria revelado como um músico proeminente sob os tentos do Hermeto Pascoal & Grupo). O desafio era o seguinte: criar uma música instrumental inédita que trouxesse, ao mesmo tempo, a liberdade do free jazz, toda a psicodelia das sonoridades do rock e fusion (com o uso dos moogs e sintetizadores afins, teclados e pianos elétricos, casados com os instrumentos acústicos já conhecidos e outros instrumentos da world music, tais como tablas orientais e quites percussivos referentes à world music africana) e que exprimisse, enfim, o resultado de uma sonoridade toda brasileira, com nuances brasileiras, com harmonias brasileiras, com rítmos brasileiros -- seria uma tipo de música progressista brasileira com a pretenção de soar totalmente diferente de outras ondas progressistas já conhecidas, ainda que se pudesse fazer uso delas enquanto inspiração -- aliás, os músicos do Grupo Um teriam cuidado até mesmo de não soarem redudantes em relação às sonoridades inovadoras já impostas por músicos brasileiros como Egberto Gismonti e o próprio Hermeto Pascoal, com os quais tocaram inicialmente. Em uma entrevista à revista virtual +SOMA, no seu décimo número, o tecladista Lelo Nazário e o baterista Zé Eduardo Nazário deixaram bem claro: "Todos nós sempre gostamos de jazz, que é uma música muito rica e complexa, que permite a criação de estruturas formais, escritas, mas que admite elementos criativos que dependem do momento em que são tocados. Braxton, Taylor e Coltrane trilharam este caminho, bem como diversos outros artistas que admirávamos. Tínhamos o cuidado de nunca copiar e o resultado do trabalho mostra isso". Ainda na mesma entrevista eles falam sobre o movimento "Vanguarda Paulista" e a relação deles com todo aquele momento inovador que acontecia na música instrumental e na canção brasileira, tendo Hermeto Pascoal como um dos maiores expoentes, mas sendo eles mesmos contribuintes e, ao mesmo tempo, independentes: "O Hermeto é uma pessoa muito calorosa e gentil, sempre nos tratamos mutuamente com muito respeito e admiração. Acho que a nossa passagem pelo seu grupo trouxe novos elementos à música que ele fazia, da mesma forma que a sua experiência e conhecimento nos enriqueceram bastante. Com o Egberto se deu o mesmo, acredito. Com relação ao Lira Paulistana ('casa' do movimento "Vanguarda Paulistana"), é preciso lembrar que o Lira, na época, era apenas uma minúscula gravadora que lançava artistas com trabalhos de produção independente. Existiam alguns idealistas ali que realmente ajudavam os músicos em toda essa parte de produção e divulgação dos trabalhos vinculados à gravadora. Entretanto, quando o Lira foi “encampado” pela gravadora Continental, acabou se tornando uma pequena subsidiária da companhia, nada mais. Com relação à vanguarda paulista de 80, sou amigo de vários artistas como o Arrigo Barnabé e a Ná Ozzetti, mas todos eles estavam trabalhando para criar, principalmente, canções de vanguarda. Nós nos dedicávamos a criar música instrumental". Depois da formação inicial e de um tempo de maturação e busca de uma identidade própria através de pesquisas e apresentações aqui e acolá, acontecimentos destilados a partir de 1976, o Grupo Um só lançaria seu primeiro estouro em 1979: o álbum Marcha Sobre a Cidade (Lira Paulistana). A banda ainda lançaria outros manifestos inovadores como Reflexões Sobre a Crise do Desejo (1981) e A Flor de Plástico Incinerada (1982), concluindo, aí, uma verdadeira e sintetizante trilogia daqueles espamos radicais e inovadores.


Recentemente, a 'Trilogia' do Grupo Um recebeu novas reedições em CD do selo Editio Princeps, conduzido pelos irmãos Nazário. Elas incluem as versões remasterizadas, belos encartes com fotos e textos e algumas faixas adicionais que não couberam nos compactos LPs na época original de lançamento. Na nova versão em CD do álbum Marcha Sobre a Cidade, por exemplo, a arte do LP encontra-se fielmente reproduzida, e o livreto traz, adicionalmente, comentários sobre as composições e uma breve história do conjunto – em textos dos próprios músicos – além de fotos inéditas da banda. No álbum Reflexões Sobre a Crise do Desejo, as notas ficam por conta de Luiz Nazário, que explicita todo o propósito reflexivo do álbum. Apesar desses adendos e de outros -- os quais só quem comprar os discos poderão desfrutá-los --, abaixo teço algumas observações próprias no sentido genéricamente musical:

O álbum Marcha Sobre a Cidade traz Lelo Nazario no piano eletrônico e na percussão, Zeca Assumpção no baixo eletrônico, piano e percussão, Zé Eduardo Nazario na bateria, percussão, tabla e khena do Laos, Carlinhos Gonçalves na percussão, Mauro Senise no sax soprano, sax alto e flauta e Roberto Sion no sax soprano (faixa 8): o álbum começa com a faixa de título matemático e cifrado [B(2)1O-O.75-K.78]-P(2)-[O(4)8-O.75-K77] (o que lembra a esquematização de nomenclaturas de Anthony Braxton), tendo, aí, um desenvolvimento que consiste na proliferação rítmica na base de um groove nordestino e improvisos livres na base de um acorde só; segue-se a faixa "Sangue de Negro" a qual consiste apenas em improvisos livres de bateria em repostas aos vocais africanos; Marcha sobre a cidade, a faixa título, inicia-se com um tema breve, desenvolvido depois na forma de conversações arrítmicas compartilhadas por baixo, bateria, piano Rhodes e sax, para depois seguir na marcha de um walking bass mais delineável, embora o discurso continue livre; a quarta faixa "A Porta do Sem Nexo" é parcialmente calcada na livre improvisação, só que num clima ambient e intimista, desembocando depois num tema de groove ao estilo de uma espécie de afro-samba. Essas quatro faixas já sintetiza a identidade do grupo: trata-se de faixas estratégicamente estruturadas para abrigar elementos musicais diversos, que vão desde os grooves brasileiros, passa pela liberdade do free jazz e abrange o leque de sonoridades do fusion e da world music.


O Reflexões Sobre a Crise do Desejo já conta com a participação de Rodolfo Stroeter (Pau Brasil, Divina Increnca, Symmetric Ensemble) no baixo e do multiinstrumentista alemão Felix Wagner (Divina Increnca, Symmetric Ensemble)tocando clarineta (Eb) e piano elétrico. Trata-se de um disco que reafirma a maturidade do grupo através de composições que mostram mais ousadia não só no sentido da improvisação livre, mas, principalmente, no sentido composicional, levando em conta a complexidade dos temas: a maioria das faixas duram em média de três a quatro minutos, mas algumas delas, como a melodiosa "Homem de Wolfsburg" e "América Latina" são constituídas por temas e improvisos ligeiros, quase sempre livres; a terceira faixa, "Vida", é constituida de duas partes [a) "N'Daê" e b) "Dadão"], as quais consistem no uso de um vocal evocativo e na exploração dos quites de percussão provenientes do samba e da música nordestina (tamborin, pandeiros, berimbau, apitos e etc); já a faixa "Mobile/Stabile" é a mais radical, pois ela leva ao estremo a cacofonia através dos improvisos torrenciais dos instrumentos acústicos embaralhados com os ruídos eletrônicos dos sintetizadores(tendência que seria ampliada pelo grupo no disco seguinte, A Flor de Plástico incinerada); por fim, a faixa título, Reflexões Sobre a Crise do Desejo, é um free jazz coletivizado em um trio acústico com Lelo ao piano, Zé Eduardo na bateria e Rodolfo Stroeter no contrabaixo acústico.

Já sobre o terceiro e último álbum da trilogia do grupo, recebi um release especial de relançamento do Utopia Estudio, responsável pela remasterização digital da gravação original de 1982. Leia-o abaixo.




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