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Jazz & Arts: As geniais impressões de Ted Nash em Portrait in Seven Shades












Bem vindo ao universo das grandes peças escritas para big bands contemporâneas. Nos últimos anos ao menos quatro álbuns com big bands ou grandes ensembles tiveram merecidos destaques: Sky Blue de Maria Schneider, Congo Square de Wynton Marsalis, a free improvisation Exploding Star Orchestra with Bill Dixon (projeto de Rob Mazurek) e Appearing Nightly de Carla Bley. Wynton Marsalis é, sem dúvida, o maior compositor de jazz das últimas décadas no que diz respeito à peças de grande porte – suas suítes temáticas, peças jazzísticas para balé moderno, ou até mesmo suas pioneiras peças eruditas para conjuntos de câmera e orquestra sinfônica são célebres e elogiadas por maestros exigentes e universais do porte do alemão Kurt Masur e do japonês Seigi Osawa. Contudo, quem gosta de trabalhos orquestrais ou para big bands, e esteve acompanhando os últimos realizados no âmbito do jazz norte-americano, há de concordar que a compositora Maria Schneider e sua orquestra vinham dominando os holofotes com álbuns muito bem elaborados e, por consequência, muito bem aclamados pela crítica especializada – tratando-se estritamente de big band, Maria foi, merecidamente, a “diva” dos anos 2000, a grande bandleader escolhida pela Downbeat para essa década. No mesmo período, o poderoso Wynton Marsalis, que nesse âmbito de peças extensas esteve mais focado em escrever obras para orquestras sinfônicas do que para combos de jazz, também lavrou dois álbuns extraordinários com a sua Lincoln Center Jazz Orchestra, mas sem monopolizar toda aquela grande atenção e unanimidade que ele detinha em torno de si na década de 90: um é o A Love Supreme, uma releitura fantástica para big band da icônica obra que Coltrane compôs originalmente para quarteto na década de 60 e o outro é, justamente, o Congo Square, uma composição que une a big band LCJO com o grupo africano Odadaa!, ensemble de Gana, numa moderna celebração às origens do jazz e da música afro-americana que já podiam ser vistos e sentidos desde o início do século XIX na praça Congo Square em New Orleans, o único lugar onde os negros escravos podiam celebrar sua música e dança, bem como mostrar o que tinham aprendido com a música protestante da época – e aí nesse álbum, tanto a composição em si como a interação entre big band e ensemble de tambores e vozes são, no mínimo, geniais. (Click nas tags no final do post para acessar as obras para big band de Wynton Marsalis e Maria Schneider)


Ted Nash, o músico e compositor

Enfim, se você gosta de big bands e já curtiu os trabalhos citados, irá gostar da boa notícia que esse post traz. Na verdade, o que quero com esse post é glorificar o último projeto do, até então, subestimado compositor e saxofonista Ted Nash, um dos 15 membros da Lincoln Center Jazz Orchestra e um dos cinco componentes do grupo progressista de compositores nova-iorquinos chamado Jazz Composers Collective. Quem esteve antenado na carreira de Maria Schneider e Wynton Marsalis e ouviu os últimos trabalhos de ambos para big band, pode se arriscar sem medo à adquirir o último disco de Ted Nash chamado Portrait in Seven Shades, uma obra constituída de sete movimentos que une a arte do jazz -- do bebop ao free jazz -- com impressões de sete dos maiores mestres das artes plásticas: Chagall, Dali, Matisse, Monet, Picasso, Pollock e Van Gogh. Já na casa dos cinqüenta anos de idade, Nash nunca foi um saxtenorista “estrela” ou uma “celebridade” do jazz como era Michael Brecker ou como são Branford Marsalis e Joe Lovano: até o final da década de 90, por exemplo, sua repercussão se resumia na atuação como um dos grandes solistas da Lincoln Center Jazz Orchestra, de Wynton Marsalis. Após a fundação do Jazz Composers Collective – que além de Nash, é composto pelo contrabaixista Ben Allison, pelo pianista Frank Kimbroug, pelo saxofonista Michael Blake e pelo trompetista Ron Horton – Ted Nash iniciou uma sequência primorosa de projetos peculiares e álbums muito bem compostos – a começar pelo fabuloso álbum Rhyme & Reason (Arabesque, 1999), que traz composições super modernas numa interação entre um quarteto convencional de jazz -- sax-piano-baixo-bateria -- com um quarteto de cordas, tendo a violinista Miri Ben Ari e o próprio Wynton Marsalis como convidados especiais. Pois bem, daí em diante álbuns e projetos cada vez mais distintos e requintados viriam a surgir: dentre eles, destaca-se o quinteto Still Evolved (registrado pela Palmetto Records num disco homônimo em 2003, também com a participação de Wynton), o quinteto Odeon constituído por sax/clarineta, acordeon, tuba, violino e bateria (registrado pela Palmetto Records no disco La Espada de La Noche, de 2005) e o Mancini Project (um projeto, também pela Palmetto, que revisita as composições de Henry Mancini em formato de quarteto sax-piano-bateria-baixo). Com trabalhos de tanto requinte e distinção, Ted Nash não demorou para ser considerado umas das grandes revelações do início do século, conquistando críticos da mídia nova-ioquina e formando seu público de admiradores. O próprio Wynton Marsalis, como excelente descobridor de talentos que sempre foi, já mostrava admiração pelo saxofonista desde seus primeiros trabalhos, dispondo-se a ser um “sideman de luxo” em seus discos. Aliás, foi através da sua elegância e distinção como solista e compositor, que Nash ganharia a confiança de Wynton Marsalis. Além de ser um convidado especial em seus discos, Wynton passou a lhe encomendar arranjos para sua big band. E o fruto dessa amizade de confiança é justamente essa peça chamada Portrait in Seven Shades: talvez por estar focado em composição para orquestra sinfônica (ou em outros projetos) e não estar mais disposto a escrever novas obras para a Lincoln Center Jazz Orchestra num primeiro momento, Wynton Marsalis chamaria Ted Nash em particular para solicitar uma nova composição para sua big band – “Gostaria que você escrevesse, para gravar num futuro próximo, uma nova composição para a LCJO, mas preciso de um bom tema”, solicitou. Daí o tema que Nash escolheu foi a pintura moderna, universo que tanto lhe fascinou desde suas primeiras visitas nos museus de Nova Iorque, quando se mudou para a cidade aos 17 anos. Com recentes audições públicas no Jazz at Lincoln Center, a Portrait in Seven Shades é a primeira peça registrada em álbum com a Lincoln Center Jazz Orchestra que não foi escrita por Wynton Marsalis, mas sim por um membro da big band. Ted Nash, se continuasse a sofrer o ostracismo que vinha sofrendo na década de 80 e 90, até poderia ser visto, daqui uns 50 anos, como um daqueles saxofonistas célebres que não chegaram a ser grandes líderes, mas se eternizaram por serem grandes solistas de big bands como as de Duke Ellington ou Count Basie: falo de saxofonistas como o tenor Paul Gonçalves ou o alto Johny Hodges, por exemplo. No entanto, seus já citados trabalhos como líder à frente de combos e, agora, sua obra escrita para a big band LCJO, mostram o quanto ele ainda pode contribuir para o jazz: ou seja, no futuro Nash poderá ser visto não só como um dos grandes solistas da legendária Lincoln Center Jazz Orchestra, mas também como um dos maiores compositores que o jazz do início do século 21 produziu. A peça Portrait in Seven Shades é a principal obra em cartaz no Jazz at Lincoln Center para ser apresentada na série de concertos “Jazz and Art” onde também serão apresentadas obras de compositores que fazem alusão ao universo das artes como Duke Ellington (em “Degas Suite”), Coleman Hawkins (em “Picasso”), Maria Schneider (em “Some Circles”, para Kandinsky) e Jim McNeely.



Portrait in Seven Shades, a obra

Portrait in Seven Shades é uma peça em sete movimentos escrita para big band. Cada movimento é dedicado a um grande mestre da pintura. São eles Picasso, Van Gogh, Monet, Matisse, Chagall, Dalí e Pollock. Envolto na extrema dificuldade de escolher apenas sete pintores – já que o saxofonista é um amante inveterado da pintura moderna e conhece muito sobre vários pintores –, Ted Nash limitou sua escolha em artistas principais que viveram num período de cem anos, fazendo uma alusão aos cem anos de idade do jazz: ou seja do fim do período impressionista com Monet, passando pelo surrealismo de Dalí até o expressionismo abstrato dos anos 50 e 60 com Jackson Polock – Nash acredita, enfim, que é possível fazer uma alusão desse período com o período entre o nascimento e desenvolvimento do jazz, no qual o idioma musical sofreu transformações similares às das artes. Com essa peça genial o compositor tenta captar, portanto, todo o universo sentimental e lúdico de cada um desses pintores, transformando essas impressões em música no âmbito do jazz. Por exemplo: no movimento Van Gogh, Ted Nash expressa, através de uma balada convencional na voz de Yola Nash, a tristeza de um pintor genial não reconhecido que vendeu apenas um quadro em vida e era apaixonado por uma prostituta; em Monet, Nash imprime uma harmonia impressionista com solos divididos entre alguns membros da big band, tentando captar as pinceladas do mestre francês; em Pollock mostra uma conexão entre o bebop, da época “beatnik” do início da carreira do pintor, com o free jazz, que capta tão bem sua fase expressionista e abstrata – é um dos pontos altos da peça, onde Nash mostra essas impressões através de frases e improvisos fragmentados – onde se destacam os improvisos de Wicliffe Gordon ao trombone e Bill Schimmell ao acordeão –, improvisos e arranjos os quais tentam captar os jorros e espirros de tinta que Pollock aplicava sobre suas telas; para Chagall, Nash compôs uma peça que capta um pouco da música erudita e da klezmer music (música judaica), fazendo alusão à influência judaica na vida e obra enigmática de Marc Chagall – destaque para Wicliffe Gordon na tuba, Natalie Bonin no violino, Bill Schimmel no acordeão e o próprio Ted Nash na clarineta (conjunto que, aliás, lembra a banda Odeon do disco La Espada de La Noche); já em Dalí, outro ponto alto da peça, Nash capta bem o surrealismo do pintor através de um groove contemporâneo e solos de sax e trompetes sobrepostos que criam efeitos até então inimagináveis (aí só ouvindo mesmo pra se ter uma idéia); já Matisse, por sua vez, expressa a dança e o swing com melodias e harmonias que imprimem bem o realismo de cores característico da pintura do mestre fauvista; por fim, o movimento denominado Picasso tenta expressar a origem espanhola do pintor cubista através de um clima espanho com um “flamenco” no início, seguido de “arpejos quadrados” sobrepostos e um desenvolvimento no swing do bop – onde Wycliffe Gordon, ao trombone, e Wynton Marsalis, ao trompete, aplicam solos no mínimo estonteantes – para, depois, voltar ao clima espanhol no fim do movimento.


Encomendada por Wynton Marsalis, diretor artístico do Jazz at Lincoln Center e líder da Lincoln Center Jazz Orchestra, a obra foi gravada em 2007 e lançada no íncio de 2010. Ted Nash conta que, para desenvolver os temas e arranjos, teve que pedir para que Wynton Marsalis, junto à presidência do Jazz at Lincoln Center, contatasse o Museu de Arte Moderna de NY , o MoMA, para permitir que ele tivesse acesso ao acervo e aos registros da biblioteca, onde poderia estudar as características de cada pintor. Gravado e lançado pelo selo inédito do próprio Jazz at Lincoln Center – já que Wynton Marsalis rompeu com as majors fonográficas para lançar seus trabalhos independentemente, trabalhos esses que serão distribuídos pela Orchard em lojas e no formato digital na internet (postura inovadora já adotada por músicos de sucesso como Maria Schneider e Ken Vandermark), Portrait in Seven Shades é um dos principais e maiores lançamentos de jazz do ano e, por que não, o melhor trabalho para big band de 2010. Vale a pena adquirir! Eu ia fazer o upload de duas faixas para colocar na audição de Maio aqui no Blog Farofa Moderna, mas um cidadão usuário do Youtube já disponibilizou as faixas para audição com slides de imagens em cada vídeo. Ouçam e assistam!


Clique nas imagens para ver e ouvir.

DalíPicasso






MatisseChagallVan GoghPollock

2 comentários:

Roberto Cuzco disse...

Não é o Ivo Perelman que faz uma "sinestesia" parecida entre arte abstrata e free? Pois eu ouvi as faixas e achei fantástico esses arranjos de big band, sobretudo as faixas Pollock e Dalí! Vida longa ao Ted Nash!

Valeu tambem Vagner por nos proporcionar essas coisas. Aqui no farofa dificilmente as pessoas ficam sem conhecer do que esta rolando no mundo jazz. Eu fico sumido por uns tempos, mas sempre passo aqui pra conferir as ultimas novidades.


Abraço e paz!

Vagner Pitta disse...

Pois é Roberto, esteve sumido mesmo, heim!

Sim. O Ivo Peralman faz uma "sinestesia" muito forte entre suas pinturas e sua forma free de tocar: é influenciado por Pollock e outros pintures daquele estilo expressionista abstrato. Ele é um músico de free jazz muito interessante mesmo.


Agora, o Ted Nash já é numa "praia" mais de composição e mainstream. Esse cara não para de impressionar: quase todos os trabalhos dele lançados na ultima década soam peculiares, são projetos primorosos mesmo.


E repito o que disse: VIDA LONGA AO TED NASH!


Abraços!

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