Sobre poesia, a primeira vez que falei aqui no blog foi em 2009 indicando aos nossos leitores o livro "Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século 21, de Manuel Costa Pinto -- porque pensei: "nem só de jazz e música improvisada os jazzófilos (os mais ousados) vivem" (rs). Então, até pela proposta básica deste blog, expressa em seu próprio nome "Farofa Moderna", eu senti a necessidade de engrossar a farofa cultural aqui apresentada com outros ingredientes, outras informações e opiniões sobre outros tipos de arte, sendo a música erudita, o cinema e a poesia três dessas artes que eu aqui desejei abordá-las desde o início. Como eu estava muito ocupado com o trabalho, os estudos e com pesquisas e escritos sobre novos músicos e compositores os quais eu estava descobrindo ou acabara de descobrir, exitei em abrir um espaço no blog pra falar de poesia ou de qualquer outro assunto não ligado estritamente ao jazz -- nosso foco principal --, já que não teria o tempo suficiente e, por isso, não poderia fazê-lo eficientemente. Mas como explicitei no recente post que escrevi sobre a poetisa Sylvia Plath, além de escrever ocasionalmente sobre a arte da poesia e seus poetas, agora eu também publicarei aqui alguns dos meus próprios poemas: assim, tiro a poeira dos meus escritos poéticos e os compartilho com os muitos amigos e visitantes brasileiros e portugueses os quais por aqui passam, um público que, acredito eu, já demonstra uma fruição natural para as artes. E pra iniciar, deixo um poema meu sobre a própria arte de escrever poemas:
Visão
um poema
não
nasce um tema de corpo em feto
um poema
nem fato ou certo
de algo
é
uma música com rimas dançantes
não é um poema
senão aos amantes
do dólar
um poema
teima
teima com algo que existe
à maneira da fé
que existe no inexistir realmente
mas é
algo lá dentro
e queima
não mente
um poema
é algo em fermento
é a linguagem em forma de uma criatura vindoura
é a criatura de lingua presa
na manjedoura
de espinhos
e quando ela nasce não traz pão nem vinho
apenas um grito inaudível
a poesia
é uma asia que reaparece
sempre que a vida some ou murcha
ou desvanece
e ela some
ou por pérolas
ou por cinzas
tanto faz
a poesia sempre será a dor transvertida de girassol
e o formol
dos imortais da linguagem
um poema usa tanto a dor para a arte
como parte
também
da ferida para a felicidade
hipócrita
sem nunca alcançar
a verdadeira
ele nem sempre
é honesto
e nem precisa
não é do seu gesto
ser
sempre
ético
ou limpo
a poesia é a arte
de dizer tudo
sem a obrigação de dizer algo
é a arte
de dizer tudo
sem precisar do estandarte
da lógica
é a arte
de como dizer tudo
sem que ninguém entenda uma parte
sequer
(...à Ferreira Gullar)
Por Vagner Pitta (concluído em 04/02/2011)
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