Um trio aparentemente simples, soando em textura folk e vôos ousados: voz, violão e percussão. Sim, foi assim que Luciana Souza se apresentou pela primeira vez no Rose Hall, Allen Room, um dos palcos do Jazz at Lincoln Center, grande centro do jazz de Nova York dirigido pelo trompetista Wynton Marsalis. Pra quem não é acostumado com as maravilhas da música instrumental ou pra quem está acostumado apenas com sonoridade artificial dessas musas padronizadas do pop que se ouve por aí – aquela instrumentação carregada de recursos e efeitos eletrônicos –, fica difícil acreditar que um trio acústico, nessa formação, venha soar com sustância e com a capacidade de empolgar uma grande platéia. Mas foi acompanhada apenas do virtuoso guitarrista e violonista Romero Lubambo e do cosmopolita percussionista Cyro Baptista, que Luciana Souza mostrou o porquê é sempre indicada ao prêmio Grammy e é uma das cantoras mais bem avaliadas pela crítica do The New York Times, Downbeat, JazzTimes e outros grandes holofotes da mídia norte-americana. Luciana Souza, apesar de também fazer uso da linha do jazz-pop, tenta dissociar-se de ser mais uma “Diana Krall” ou mais uma “Norah Jones”. Ficou evidente que após o sucesso comercial de Diana Krall, já a partir de meados dos anos 90, e de Norah Jones nesse início de século, grandes gravadoras como a Blue Note, Verve e Columbia Records começaram a procurar outras “Dianas” e outras “Norahs”. Isso é, aliás, um fator mercadológico que cristaliza e padroniza a música fazendo dela um objeto moldável estritamente para o lucro, desprezando seu inerente propósito artístico. Sim, o lucro deve existir – já que sem ele a gravadora não teria como financiar novos projetos e nem o artista teria como fazer carreira –, mas a tradição e a personalidade musical devem ser elementos casados em prol de um estilo que não seja moldado pelas regras do mercado, mas seja um desabrochar natural que venha da alma e da formação do próprio artista – o mercado, por sua vez, deveria ter o papel apenas de reconhecer e valorizar a arte resultada desse processo. Luciana Souza mostra bem isso: sua música enfatiza a MPB, a tradição afro-brasileira, a bossa nova, o samba, a música nordestina, bem como conhecimentos, técnicas e substâncias que ela foi adquirindo ao longo da sua formação musical, a qual engloba o pop, o jazz e a música erudita. Não é a toa que Luciana já colaborou com músicos legendários como o compositor erudito Osvaldo Golijov, o saxofonista Miguel Zenon, a bandleader e arranjadora Maria Schneider, os pianistas Herbie Hancock e Danilo Perez, dentre tantos outros músicos excepcionais que a admiram. Trata-se, portanto, de uma cantora não só com bases sólidas, mas com talento e estilo próprios. Pra quem quiser conferir, basta adquirir o último disco da cantora, Tide, lançado em 2009 pela Verve Music. Cantando em inglês e português, Luciana empolgou a grande platéia do Rose Hall ao interpretar clássicos brasileiros e composições próprias acompanhada do violão de Romero Lubambo e do quite de percussão de Cyro Baptista: boa parte do repertório está também em Tide, indicado ao Grammy em 2010. No show é só o trio. Na ficha técnica do novo álbum consta, além de Lumbambo e Baptista, Larry Koonse(guitarra), Larry Goldings(piano, órgão), Larry Klein (baixo eléctrico), Vinnie Colaiuta (bateria) e Rebecca Pigeon (voz). Acesse o link abaixo ouça o show e acompanhe a narração em inglês pelo script (read the script):
The Necks: Bleed
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There is a diverting theory that modernist developments in the visual arts
were mirrored in the evolving language of jazz: the rigid melodies of
classic s...
Há 7 horas
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