BandCamp - Música Independente!
Bandcamp!
Site do Vagner Pitta: Acervo de jazz: discos e fotos!
Site do Pitta
Siga-nos no twitter: dicas, vídeos, links gerais sobre música!!!
Twitter/Siga-nos!
Confira todos os links que indicamos no Farofa Moderna Links!
Best Albums
Facebook do Vagner Pitta
Grupo no Facebook
Last.Fm - Playlists de Vagner Pitta
last.fm - Playlists
Confira nosso acervo de vídeos!!!
Great Videos!
contato.vagnerpitta@hotmail.com
OBS: Produtores, músicos, escritores e outros que quiserem divulgar no Blog Farofa Moderna, consultem nossas políticas na página ABOUT US e contate-nos.
Para uma melhor visualização do blog, use o navegador Google Chrome/To better view the blog, use the Google Chrome browser

Welcome to Blog Farofa Moderna! Search bellow:

Highlights: ensaios, lançamentos, curiosidades, posts mais lidos e etc

Música Erudita!
Eric Dolphy
Eletronic+Jazz!
London Improvisers
Hamilton de Holanda
Mario Pavone
Lançamentos!
Max Roach!

Views since May/ 2010

Translate

Improvising with Numbers - Collage in Music: de Zappa a Zorn, seis álbuns que exemplifica o uso da colagem na música!!!


Uma das tretas mais intrigantes -- e às vezes até inútil -- que um pesquisador musical possa ter é tentar rotular ou categorizar determinados músicos, criadores, artistas e compositores pós-modernos: isso porque uma das características do pós-modernismo é o ecletismo, a ausência de uma dicotomia entre tradição e vanguarda e de um conflito entre popular e erudito. Frank Zappa (1940–1993), Alfred Schnittke (1934—1998) e John Zorn, dentre outros, são, cada um ao seu modo e cada um com suas características estéticas, alguns dos maiores nomes da música pós-moderna -- e se eles podem ser considerados vanguardistas e radicais, eles também podem ser considerados, de certa forma, tradicionalistas, pois já aplicaram misturas diversas entre estilos de musicas mais radicais e estilos de músicas mais tradicionais. Neste post apresento-vos cinco registros pioneiros para um dos procedimentos pós-modernistas: a colagem musical. Muitos dizem que este procedimento criativo foi precedido pelo compositor americano Charles Ives (1874-1954): considerado o primeiro grande compositor americano, ele foi um revolucionário que precedeu várias descobertas reveladas pelos grandes compositores europeus da música moderna: em suas composições, além de beirar ao atonal e ao cacofônico, ele fazia uso de recortes de trechos de hinos tradicionais, canções populares, de temáticas indígenas e de aspectos do jazz e do blues. Décadas depois, após as tantas novidades e um suposto esgotamento das várias possibilidades os quais a música moderna já havia revelado, a técnica da colagem passaria a ser explorada como uma nova possibilidade composicional: Frank Zappa com Lumpy Gravy, Luciano Berio com sua "Sinfonia" e Alfred Schnittke com sua Sinfonia No.1 e seu Concerto Grosso No.1 são exemplos pós-modernos e pioneiros do uso da colagem com recortes diretos e indiretos, ou seja, recortes esses que poderia aparecer através de citações indiretas a determinadas obras e períodos históricos ou de trechos retirados diretamente de peças compostas por outros compositores. Schnittke, aliás, foi além: ele usou, sim, recortes diretos em peças suas, mas seu trunfo foi unir procedimentos que vinham desde a música renascentista, o barroco, o clássico e o romântico até chegar na música moderna, criando uma linguagem composicional que ele chamou de "poliestilismo". Em "Sinfonia" (1969), obra revolucionária que une a voz (falada e em coral) com uma orquestração cacofônica, Luciano Bério (1925-2003) usou recortes de trechos literários de James Joyce e Samuel Beckett e de peças de Debussy, Ravel, Stravinsky, Schoenberg, Webern, Brahms e até contemporâneos como Hindemith, Boulez e Stockausen, com maior destaque para as citações da Sinfonia nº 2 de Mahler. Em Lumpy Gravy -- álbum gravado um pouco antes que a "Sinfonia de Bério", lembre-se --, Zappa levou a colagem ao extremo da criatividade, precedendo algo que John Zorn faria quase 20 anos depois no álbum The Big Gundown, onde transverteu as composições de Ennio Morricone em arranjos nada convencionais. E como vocês verão, até o grande improvisador Eric Dolphy (1928–1964) já flertava com as possibilidades colagem: as faixas reunidas no álbum Others Aspects (1960-64) precede, quase como uma premonição, alguns aspectos entre voz e cacofonia vistos na "Sinfonia" de Bério. Contudo, é preciso lembrar que, apesar dos tais exemplos advindos desde a década de 60, a técnica da colagem ainda foi pouco explorada na música contemporânea e ainda pode ser vista como um procedimento criativo inesgotável. A esperança, então, é de que apareça muitos outros artistas que sejam capazes de trabalhar com este procedimento.


 Eric Dolphy - Other Aspects (1960-1964)

 Trata-se de um álbum póstumo do grande improvisador da fase post-bop e free do jazz e que faleceu em 1964, após lançar os revolucionários álbuns Free Jazz (como colaborador de Ornette Coleman, em 1960) e o Out To Lunch (Blue Note, 1964). Talvez o Others Aspects não seja um álbum de colagens propriamente ditas, mas trata-se de um álbum que mistura recortes de diversos elementos da música tradicional e do avant-garde, do jazz e do blues, da música oriental e da música erudita do século XX. As faixas deste álbum, gravadas entre 1960 a 1964, estavam reunidas em fitas e faziam parte da coleção pessoal de Eric Dolphy, ficando na obscuridade até 1985, quando Hale Smith, um amigo do músico, entregou as gravações para produtores da Capitol Records e Blue Note. Others aspects é diferente de qualquer outro álbum do catálogo de Dolphy, pois abrange vários outros aspectos que ele não mostrou na sua discografia de jazz. A peça "Jim Crow" (em protesto às Leis de Jim Crow, responsáveis por delimitar espaços reservados para brancos e negros nos EUA de 1987 a 1965) foi composta pouco antes do falecimento do músico e mostra uma mistura de canto lírico, blues e improvisações livres um pouco semelhante de como seria em "Sinfonia", composta por Luciano Berio anos depois. Já na faixa "Improvisations and Tukras", a flauta de Dolphy é acompanhada por instrumentos como a tabla e a tamboura, soando algo como uma raga indiana e mostrando suas conexões com a música oriental. Outra conexão interessante é a admiração que Dolphy tinha pelo revolucionário compositor erudito Edgar Varèse: as duas partes da peça "Inner Flight" remetem-se às peças que o compositor francês escreveu para flauta solo (em especial à peça "Density 2,5" que o jazzista chegou a estudar e a gravar). As outras faixas são de Eric Dolphy improvisando livremente ao sax solo com acompanhamento de Ron Carter, na época seu inseparável amigo. Enfim..., talvez não haja nenhum outro álbum da época com este amálgama e talvez Dolphy tenha sido o primeiro a fazer tais misturas... -- não dá para dizer, precisamente, quem foi o primeiro a fazer misturas desse tipo, visto que procedimentos criativos e inovadores, em geral, vão surgindo no andamento de processos que podem se desenrolar por anos a fio. Mas se o álbum "Out to Lunch" e suas participações em álbuns vanguardistas do jazz já fazem de Dolphy um artista revolucionário, Others Aspects, então, já coloca o músico como uma sumidade que estava à frente da sua época! Não era à toa, aliás, que Zappa passou a adorar Dolphy como uma das suas principais inspirações! Clique aqui para ouvir um podcast a respeito do mestre dos sopros!


 Frank Zappa - Lumpy Gravy (1968)

 Até que se prove o contrário Lumpy Gravy foi o primeiro registro a mostrar o uso da colagem de forma extensiva, algo que só John Zorn faria duas décadas mais tarde -- aliás, este é um álbum imprescindível para entender não apenas o uso da colagem na música, mas para compreender a origem da instigante identidade erudita que Zappa adotaria após sua fase rock'n'roll. Fanático por Igor Stravinsky, Edgar Varèse, Maurice Kagel e Eric Dolpy, Frank Zappa foi uma personalidade única na música do século XX: sendo um dos grandes nomes do rock'n'roll e um compositor autoditada de criatividade incalculável, ele influenciou uma legião de bandas e artistas que iam dos Beatles ao compositor Pierre Boulez, um dos nomes centrais da musica erudita moderna. Lançado em 1968, Lumpy Gravy é o primeiro disco solo de Zappa, que na época era guitarrista e líder da banda de rock The Mothers of Inventions. Na verdade, o conceito do disco começou a ser trabalhado em 1966, quando o produtor Nick Venet, da Capitol Records, deu à Zappa a oportunidade dele gravar um disco de música orquestrada, já que sua grande paixão era a música erudita. Produzido originalmente para a Capitol, a versão original de Lumpy Gravy pode ser considerado o registro mais raro de Zappa, já que ele encontrou resistências por parte da gravadora para lançar maiores tiragens, editando-o novamente no formato de cartucho para a MGM Records, que também se recusou a permitir que o disco fosse lançado com a versão original. O material é composto por peças que intercalam diálogos surreais gravados dentro de um piano e em efeitos radiofônicos com colagens transcendentais através de uma grande variedade de recortes. Sendo um álbum de essência orquestral, há influências e recortes com quase tudo o que se podia imaginar até à época: jazz, rock, músicas tradicionais, improvisações livres, efeitos eletroacústicos, música erudita moderna, blues, música africana e etc. Para a empreitada, Zappa conseguiu reunir uma grande variedades de músicos do jazz e do rock de Los Angeles, nomeando o conjunto de Abnuceals Emuukha Electric Symphony Orchestra: na ficha técnica da versão original constam, por exemplo, músicos como o guitarrista Eric Clapton (na época aclamado nos muros da Inglaterra com a expressão "Clapton is God" por causa dos seus inflamados e inspiradores solos de guitarra) e o baterista Shelly Many, um dos grandes músicos do "west coast", que inclusive já havia gravado com Ornette Coleman o legendário álbum "Tomorrow is the Question", um dos álbuns precursores do free jazz. Atualmente, pode ser encontrada a versão alternativa de Lumpy Gravy pela Rykodisc, selo responsável por relançar diversas outras raridades da discografia de Zappa.


 John Zorn - The Big Gundown - John Zorn plays the music of Ennio Morricone (1985)

 Quase vinte anos mais tarde de Zappa ter lançado Lumpy Gravy, John Zorn também lançaria um álbum onde o uso da colagem é semelhantemente extensivo: o fantástico The Big Gundown. Quer dizer, o uso da técnica da colagem em The Big Gundown de Zorn é semelhante ao uso da mesma em Lumpy Gravy de Zappa, mas, lógico, difere-se deste em personalidade musical e em contemporaneidade. Aqui, Zorn é menos sarcástico e menos "erudito" e "orquestral" que Zappa, apesar de não mais (a)diverso do que este no conjunto da obra. The Big Gundown faz alusão ao filme de mesmo nome dirigido por Sergio Sollima e estrelado por Lee Van Cleef, com trilha sonora do compositor italiano Ennio Morricone. A idéia central do álbum é a música de Ennio Morricone: usando temas e trechos das trilhas sonoras compostas pelo compositor, Zorn aplica a eles arranjos instrumentais nada convencionais com uma infinidade de recortes estilísticos que vão da klezmer music (música judaica), passa pelo free jazz, pelo grind e hardcore rock, em algum momento engloba guitarras ao estilo da "surf music", percussões brasileiras e afro-americanas, improvisações livres com vozes, toca-discos, instrumentos diversos até sonoridades e ruídos dos filmes, além de arranjos guturais e eletrônicos inclassificáveis. Trata-se de um álbum inclassificável de muitos fragmentos e, portanto, um álbum de colagem. Participam do álbum uma troupe de músicos do jazz, do rock experimental e da avant-garde do cenário da Downtown nova-iorquina tais como o guitarristas Fred Frith, Bill Frisell e Vernon Reid, o percussionista Bobby Previte, o tecladista Anthony Coleman, o saxofonista Tim Berne, o pianista Wayne Horvitz, o organista Big John Patton, o vocalista Mike Patton, o DJ Christian Marclay, o gaitista Toots Thielemans e até músicos brasileiros como o percussionista Cyro Baptista e o baterista Duduka Fonseca. Dedicado à tarefa de produzir, arranjar e reger o projeto, John Zorn não aparece aqui com seu sax gritante como o faz em outros álbuns: essa tarefa fica ao iconoclasta saxofonista Tim Berne. The Big Gundown é, enfim, um dos maiores álbuns dos anos 80 e um dos melhores registros da imensa discografia de Zorn -- aquele, aliás, que o tornou célebre!


 Gustav Mahler/Uri Caine - Urlicht/Primal Light (1998)

 O tecladista Uri Caine, também um dos parceiros de John Zorn no cenário da Downtown, é outro dos músicos criativos que já se atreveram ao uso da colagem musical. Em uma série de álbuns pelo selo Wynter & Wynter, ele recria peças de compositores clássicos de uma forma tão ousada e debochada que intriga até o mais sensato amante de música erudita. Nas mãos de Caine as Variações Golberg de Bach, as Variações Diabelli de Beethoven, as fugas de Schumman, as sonatas de Mozart, o Tristão e Isolda de Wagner e as sinfonias de Mahler são totalmente destruídas e desviadas dos propósitos das partituras originais. Em Urlicht/Primal Light, por exemplo: Caine começa com uma interpretação até identificável e lírica de Funeral March, um trecho da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler, mas, de forma sempre inesperada, vai acrescentando explosivas improvisações livres, efeitos eletrônicos e remixes não menos que transcendentais, transvertendo totalmente a linguagem clássica da peça. O disco segue com outros trechos de peças de Mahler, como o 3º Movimento da Sinfonia nº 1 ou o Adagietto da Sinfonia nº 5: sendo relidos com canto lírico, esses temas vão ganhando intrigantes e nervosas intervenções de bateria e piano, seguidas de passagens intrusas de klezmer music e outros estilos que podem ou não ser residentes do jazz: post-bop, ragtime, funk, noise, livre improvisação, música árabe e outras colagens que deixa o ouvinte apreensivo e na espectativa o tempo todo. Assim como as todas as outras "releituras" de peças clássicas lançadas por Uri Caine, o álbum Urlicht/Primal Light, lançado em 1998, chegou a ter, na época, um considerável sucesso de crítica, ainda que tenha causado estranhamento até mesmo em pessoas de ouvidos mais ousados. Não obstante, o gigante Gustav Mahler parece receber um "carinho" todo especial de Caine. Ao todo, são três os discos que abordam Mahler: Urlicht/Primal Light, Gustav Mahler In Toblach: I Went Out This Morning Over The Countryside e Gustav Mahler: Dark Flame. O "Uri Caine Ensemble" que compõe esses álbuns é formado por músicos como o trompetista Dave Douglas, o fenomenal clarinetista Don Byron, o violinista Mark Feldman, o trompetista Ralph Alessi, o baterista Joey Baron, o baixista Drew Gress, o altoísta Greg Osby, o baterista Ralph Peterson, dentre muitos outros grandes músicos evidenciados na década de 90.


Christian Marclay - More Encores (1988) & Live Improvisations (1994)


Um dos colaboradores de Zorn em The Big Gundown, o improvisador Christian Marclay não é um artista de formação musical propriamente dita: ele é um artista plástico e, em paralelo, um performer baseado na arte do "turntablism", ou seja, manipulações sonoras com toca-discos -- algo como um DJ de hip hop, mas baseado em improvisação livre. Aliás, já é desde o início da década de 70 -- em paralelo aos primórdios do hip hop, responsável por popularizar a arte de se fazer música com toca discos -- que Marclay vem realizando diversas experiencias e gravações usando uma infinidades de discos de vinis e montagens sonoras através de improvisações livres em tempo real. More Encores (1988) e Live Improvisations (1994) são dois dos registros mais brilhantes de Marclay. Em More Encores Marclay trabalha na manipulação de discos de uma variedades de músicos de vários estilos musicais como Chopin, Louis Armstrong, Serge Gainsbourg, Maria Callas, John Zorn, Fred Frith, Johann Strauss, Martin Denny, John Cage e etc. Em Live improvisations o DJ faz um duo com o percussionista/baterista e manipulador de eletrônicos alemão Günter Müller, onde eles também fazem o uso da colagem e desfiguram trechos de músicas pré-gravadas, criando pontes entre a colagem e a música produzida por laptop: há recortes relacionados a Bert Kamephert Singers & Orchestra, temas popularescos como a canção da "A Bela e a Fera" e sonoridades advindas das trilhas dos filmes de faroeste de John Wayne. Renomado performer e artistas plástico com influências do dadaísmo, pop art, movimento fluxus e John Cage, Christian Marclay, se não é um músico de conhecimentos catedráticos, é um dos grandes precursores dos DJ's e um dos notáveis improvisadores da música pós-moderna!

Nenhum comentário:

Outros Excelentes Sites Informativos (mais sites nas páginas de mídia e links)