Por Vagner Pitta & Luís Delcides
O apoio que a MTV deu à iniciativa do Blog Farofa Moderna em 2009 e 2010, nos proporcionou muitos bons frutos: além da credencial para conhecer e entrevistar músicos, documentar shows e estar antenado com o cenário e os bastidores, tivemos o privilégio de divulgar essa forma de arte chamada jazz para mais pessoas interessadas, as quais, antes, só tinham ouvido falar de um ou outro panteão de ouro – Miles Davis, por exemplo, sempre foi o músico mais superestimado na mídia mundial e, portanto, o mais conhecido pelo público em geral. Pois bem, essa galera “mais esperta” (constituída, em sua maioria, de jovens que vão de adolescentes a pessoas na casa dos 40 anos de idade), que usa a internet para conhecer meios alternativos de arte – como o jazz e a música instrumental brasileira –, agora tem a oportunidade de estar antenada não só com a história do jazz, mas principalmente com o jazz contemporâneo: o som feito pra nós e com as características populares do nosso tempo, já que o jazz é nada mais do que uma música-arte que desde sempre se baseou na cultura popular americana – hoje juvenilmente entendida como a “cultura pop”, o cerne principal da MTV. E no primeiro dia do Brigestone Music Festival, acontecido de 19 à 22 de Maio de 2010, eu e o fotógrafo-jornalista Luiz Delcides, responsável pelo site de eventos Paulicéia do Jazz, conversamos com o trompetista Christian Scott, um dos novos músicos adeptos à tendência de fazer um “novo jazz”, onde as influências da cultura pop e da chamada música urbana (o neo-soul, o hip hop, a música eletrônica) são os elementos principais.
O Bridgestone Music e a Mídia
É sempre maravilhoso escutar um swingão, um hardbop dos anos 50 com solos transcendentais de John Coltrane e Lee Morgan “quebrando tudo”! Mas esse som, que antes era antenado com a soul music e a cultura popular da sua época, já está eternizado na história do jazz, enquanto o jazz atual, repleto de músicos excepcionais e inovadores, precisa de mais atenção na grande mídia para que mais pessoas cheguem até ele. E o festival Bridgestone Music, se não tivesse sido interrompido em 2011, já se configuraria como um dos mais importantes eventos do gênero na América Latina, um evento de nível internacional patrocinado pela Bridgestone Brasil, que foi idealizado para não deixar o público brasileiro de “mãos abanando” em termos de jazz contemporâneo: tanto que o requinte, o sucesso e o clima de ineditismo com os quais essa terceira edição se realizou, só evidenciaram que no Brasil há, definitivamente, um público ávido, uma demanda por esse tipo de música. Mas os canais midiáticos ainda precisam atualizar esse público. Aliás, em se tratando da mídia como um todo, da mesma forma que canais do pop e rock – como a MTV, por exemplo, – já não vêem mais lógica em falar do rock’n’roll de Elvis Presley e Beatles mais do que falam de bandas de rock contemporâneo como Radiohead e The Libertines – a não ser em um ou outro programa ou documentário especial –, os divulgadores mais reacionários do jazz aqui no Brasil deveriam “cair na real” e parar com a repetição de falar sempre e sempre e sempre do jazz de 50 anos atrás, de jazzistas como Miles Davis, John Coltrane, Billie Holliday e etc. No jazz, mais do que em qualquer outro gênero musical, é importantíssimo nunca se esquecer dos mestres e da história, mas os divulgadores deveriam ter, pelo menos, um equilíbrio em mostrar tanto a tradição quanto o atual, pois o jovem também quer conhecer a música da sua época, a música que tenha sua cara, a música que sintetize seu atual contexto social; e os novos músicos e as novas bandas, por suas vezes, precisam formar seus públicos. Esses divulgadores deveriam, portanto, mostrar mais bandas e músicos do jazz contemporâneo, pois o que presenciamos na mídia especializada em música no Brasil é que ou ela nunca fala de jazz ou, quando fala, é sempre sobre o jazz dos anos 50 e 60, enquanto novas bandas e novos músicos que estão mudando a cara do jazz nos últimos anos ficam à mercê, são desprezados. Atualmente, aliás, quem faz esse papel de informar previamente as pessoas sobre o jazz contemporâneo é a internet: os poucos sites, blogs e portais que constituem a chamada “mídia alternativa”, onde as pessoas mais curiosas acabam encontrando arte e cultura de qualidade. Mas há, com a tendência da plena inclusão digital no Brasil, uma demanda crescente de pessoas que gostam de jazz – ou que estão procurando conhecê-lo – e querem estar por dentro, sim, do que anda acontecendo atualmente com essa música que é um fenômeno mundial. E foi exatamente o resultado desse paradigma que presenciamos na terceira edição do excelente e extinto Bridgestone Music Festival, acontecido do dia 19 ao 22 de Maio de 2010 no bairro de Moema, em São Paulo: só uma minoria – digamos que 1/3 da galera – conhecia, efetivamente, o som de Christian Scott, Don Byron, Dave Holland, Jason Moran, Christian McBride e outros músicos presentes no evento; a grande maioria das pessoas que foram prestigiar o festival até tinham a informação de que aquele evento acabava de lhes dar a oportunidade de presenciar importantíssimos músicos do jazz contemporâneo, mas elas não tinham nem idéia de como se configura o jazz atualmente – muitas nunca nem tinham ouvido tais músicos, e outro tanto delas, movidas pelo glamour do evento, estavam ali em sua primeira audição “live” em relação à uma banda de jazz. O festival, em si, foi um sucesso: o organizador acertou na escolha de músicos criativos, grandes portais e jornais – como o Estadão, Folha, Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, Radio Eldorado, MTV e o Portal UOL – o divulgaram, os ingressos foram bem procurados, a produção foi excelente e pontual nos bastidores e o público, mesmo os que não conheciam tanto o jazz, mostraram entusiasmo nos shows, o que mostra que as pessoas não precisam ser ricas ou intelectuais pra começar a ouvir e curtir jazz. Mas é óbvio que depois do evento, ao fazer nossas reflexões, concluímos que se a mídia brasileira já tivesse o hábito de divulgar mais a música instrumental que anda acontecendo – mesmo que ocasionalmente –, o público do jazz e da música instrumental brasileira seria bem maior e bem mais informado. Pessimista com essa situação, um colega, o músico Rubens Akira, chegou a dizer que muitas pessoas chegaram ali no Bridgestone Music achando que iam ouvir algo parecido com aquele tipo de música divulgado na excelente série/ coleção “Clássicos do Jazz” do Jornal Folha de São Paulo, porque o ultimo grande feito da mídia com relação à divulgar o jazz massivamente foi, justamente, esse tipo de série promocional que a Folha lançou alguns anos atrás, e muitas pessoas ali presentes acharam que iam compreender aqueles sons simplesmente por terem uma coleção de clássicos do jazz em sua estante . Exemplo: não fossem os críticos, os blogueiros e os divulgadores mais antenados, poucas pessoas seriam capazes de enxergar as influencias de Miles Davis no som de Christian Scott apenas por ter adquirido o CD dessa coleção que vem com um encarte e uma compilação de temas do mítico trompetista. Mas se por um lado a Folha lançou essa coleção promocional sobre os mestres do jazz – com CD’s de Miles Davis, John Coltrane, Art Blakey, Chick Corea, John McLaughlin, Herbie Hancock e etc –, por outro lado em seu editorial o jazz e a música instrumental brasileira não têm nenhum espaço regular ou ocasional, a não ser quando um ou outro jornalista mais antenado resolve usar o rodapé do jornal para registrar o óbito de algum músico representativo ou quando há um evento anual, há algum festival importante, como aconteceu com o Bridgestone: aí nosso colega, o jornalista Fabricio Vieira ou jornalistas veteranos do porte de Roberto Mugiatti, por exemplo, têm a oportunidade de usar um pequeno espaço no caderno Ilustrada ou do caderno de cultura do Estadão pra tratar o jazz com o devido respeito e atenção que ele merece. Resultado: como o Estadão, a Folha, a Abril e todos os grandes veículos jornalísticos segregam a música instrumental contemporânea, documentando apenas o sertanejo, o pop e rock internacional, a maioria do público do jazz só conhece bossa nova (porque essa ainda é divulgada ocasionalmente como se fosse a ultima cereja da cultura e canção brasileira), o jazz produzido nos anos 40, 50, 60 e o fusion comercial dos anos 70 – como se o jazz contemporâneo e a música instrumental produzida no Brasil nessas últimas décadas fossem algo inferior ou não merecessem nenhuma atenção. Se em São Paulo há esse descaso, nesse sentido os cariocas interessados em música instrumental – ao menos os que lêem jornal – têm o privilégio de estarem antenados através da coluna dominical que o jornalista Luiz Orlando Carneiro – também um dos presentes no Bridgestone – mantém no Jornal do Brasil, onde são divulgados novos discos, novos músicos e novos acontecimentos do jazz em território nacional e internacional. Já para os visitantes do Blog Farofa Moderna, não existe esse problema, pois em três anos de existência, e agora com o apoio da MTV, conseguimos atingir a meta de ser um espaço alternativo para pessoas que gostam de jazz: e nossa meta tem sido alcançar a excelência em informar os apreciadores sobre o que anda acontecendo no jazz contemporâneo – tanto, que músicos como Christian McBride, Dave Holland, Jason Moran, Don Byron e Uri Caine, todos os presentes no Bridgestone Music 2010, já vinham sendo mostrados aqui a bastante tempo.
Entrevista com Christian Scott
Ao encontrarmos com o trompetista Christian Scott, após o ensaio para a passagem de som, falamos do Blog Farofa Moderna e do site de eventos Paulicéia do Jazz. Falamos de como o jazz era visto como uma musica elitista no Brasil. Ele, curioso, por se tratar de um blog ligado à MTV: disse que divulgar aos jovens, independente de classes, era o caminho. Eu disse que fazíamos nossa parte e estávamos dando uma pequenina contribuição, oferecendo 80 ingressos gratuitos para os visitantes do blog Farofa Moderna e do Portal MTV através de um concurso cultural. Ele elogiou nossa iniciativa e disse que “gostaria muito de conversar com essa galera” (os ganhadores dos ingressos). A entrevista com Christian e seu quinteto – composto por jovens de 20 a 27 anos – começou em tom de conversa, já que eu estava sem o equipamento de gravação. Já no camarim, o jornalista Luiz Delcides nos apresentou e deu às boas vindas aos membros da banda. Minha primeira observação foi a respeito do curioso design do trompete de Christian, que ele mesmo nomeou como “Katrina” (em alusão ao tsunami que devastou New Orleans em 2005): ele disse ter se inspirado no trompete de Dizzy Gillespie, mas o design era dele mesmo. Também perguntei de onde vinha aquele sopro intimista, quando ele sopra suave, a maioria das vezes com surdina, e sai “ar” e “som” juntos (conferir isso na balada “Isadora”): ele me disse que essa técnica de sopro se chama “whisper” e o primeiro músico a desenvolvê-la foi, curiosamente, o trompetista Clifford Brown – depois, Miles Davis seria um dos grandes adeptos. “Por falar em Clifford Brown, quais os trompetistas que lhe influenciam? Miles Davis seria o principal deles”? Christian me disse que não gostava dessa palavra “influência”, pois a achava “perigosa”, tendenciosa; disse-me que eles não queriam ser vistos como uma “influência” de algo já estabelecido, mas queriam ser vistos como eles mesmos. Retifiquei-me, substituindo a palavra “influência” por “inspiração”. Ele sorriu e disse-me: “Ah ok, ok, essa palavra é bem melhor...bem, não só Miles Davis me inspira, mas também Dizzy Gillespie, Clifford Brown e Booker Little – você conhece Booker Little? Antes que eu respondesse, Christian olhou para o baterista e disse: “Pergunte algo à esse cara; ele é o grande cara da banda, ele é a nossa grande influência” – todos eles deram risadas quase em tom de algazarra. Perguntei ao baterista Jamire Williams qual musico da história do jazz o inspirava e também perguntei, descaradamente, onde estava o “swing” da banda e a resposta foi: “Não ligamos pra essa coisa de swing, cara! Mas um cara que me inspira é o baterista Baby Dodds”. Fiquei curioso pelo fato dele citar um dos primeiros grandes bateristas do jazz: Baby Dodds. Em seguida, para provocar mais ainda eu lhes joguei a máxima: “Mas o Wynton Marsalis diz que jazz sem swing não é jazz”. Christian Scott olhou para os companheiros, todos olharam pra ele desconfiados e deram risadas quase em tom de algazarra, outra vez. Christian virou pra mim e disse: “Ok, man! He said that...voce conhece Louis Armstrong? Voce conhece Kid Ory? Eles foram músicos do início, anos 10 e 20, quando essa música já se chamava jazz, e no som da época deles ainda não tinha o swing. O swing foi um elemento que surgiu depois; então não precisamos ter esse “swing” pra sermos rotulados como músicos de jazz”. Falei que conhecia, sim, Louis Armstrong e Kid Ory e aproveitei, para perguntar se ele, por nascer em New Orleans, se sentia influenciado pela tradição dos trompetistas da cidade e pela riqueza cultural que sempre existiu por lá: “Sim, de certo modo fui influenciado, pois nasci em New Orleans e meu tio (o legendário saxofonista Donald Harrison) e meu pai, Clinton Scott, eram músicos, saxofonistas. Mas apesar de ter tido educação musical em casa, nós não tínhamos muitas condições; após a high scholl tive que me mudar de New Orleans para estudar na Berklee School of Music em Boston e, depois, para Nova Iorque para tentar ganhar algum dinheiro; por isso não me vejo como um músico representante de um lugar só.” Em seguida, perguntei sobre a concepção da banda: “Vocês usam batidas de hip hop e elementos do rock e da música pop, como, por exemplo, a canção “The Eraser”, de Thom Yorke (vocalista do Radiohead), umas das faixas do seu último disco Yesterday You Said Tomorrow. Isso é uma tendência ou uma tentativa de deixar o som mais acessível aos jovens? Qual o contexto da banda?”O guitarrista Matthew Stevens tomou a frente para explicar: “Nós não estamos preocupado com os rótulos; queremos apenas fazer a música que tenha a ver com nosso contexto, por isso usamos tais elementos, pois crescemos ouvindo rock, pop e hip hop, mas nada disso importa mais do que nossa música”. Christian Scott, por sua vez, emendou dizendo: “Cada músico da banda é também compositor, e eu escrevo a maioria das músicas. O que importa pra gente é a improvisação, é criar nossa música com a nossa história”. Em seguida falei que os pianistas Robert Glasper e Aaron Parks pareciam trilhar o mesmo caminho. Perguntei pra eles o que eles achavam do jazz dos últimos anos: eles disseram que não se interessavam pelo jazz dos outros músicos e que tinha muito “lixo” acontecendo; disseram que não iam opinar sobre outros músicos, que podiam falar apenas da música deles e que eles nem gostam tanto de ouvir o jazz produzido nessas ultimas décadas, preferiam ouvir outros estilos de música (bandas pop, hip hop e etc). Perguntei ainda ao Christian: “Se você pudesse dizer algo para os jovens brasileiros, para que eles ouvissem mais jazz, o que você falaria? Christian apenas me disse: “Não falaria nada, pois, se eu falasse, eles não iam obedecer – os jovens não obedecem imposições –; o que podemos fazer é apresentar nosso som e deixar que as pessoas escolham ou não escutar nosso jazz”. O jornalista Luiz Delcides encerrou a entrevista perguntando quais músicos brasileiros eles gostavam: Christian Scott citou Seu Jorge; o guitarrista citou Romero Lubambo e “um músico branco de cabelão até os ombros”. Perguntei: “Seria o Hermeto Pascoal?”. Ele disse: “Yes, yes, he is a genius; he is too crazy, man”! Luiz Delcides os alertou para o fato de que Hermeto Pascoal estaria em São Paulo na semana seguinte fazendo apresentações em uma das unidades dos Sescs da cidade. Eles lamentaram dizendo que não poderiam vê-lo porque teriam que ir direto para Nova Iorque. Saímos de lá com a seguinte conclusão: enquanto esses músicos, jovens, querem fazer um som atual, necessariamente rebelde, e querem virar a página dos anos 80 e 90, nós brasileiros ainda estamos focados no jazz dos anos 60...
Christian Scott Quintet: o Show
O show de Christian foi estupendo. Esteticamente, já sabíamos que as inspirações no acid jazz, no fusion, no pop e hip hop lembram a ultima fase de Miles Davis, só que a sonoridade acústica, a interatividade dos músicos e a quantidade de improviso afastam-nos da possibilidade de acharmos o jazz do Christian Scott Quintet uma música de teor estritamente comercial, como foram alguns projetos da fase pop de Miles. E no show, imperou a arte. As baladas encantaram os mais serenos. Lampejos de funky, hip hop e texturas do pop e rhythm’n’blues ficaram evidentes, mas ficou óbvio para o público, principalmente aos que já conheciam a banda ou algo de jazz contemporâneo, que a concepção ali era transformar esses elementos em algo estritamente instrumental, algo estritamente jazzístico e contemporâneo -- algo que os críticos norte-americanos ja rotularam de "New Fusion". Mas os temas e os improvisos foram totalmente acessíveis às pessoas, apesar da estética contemporânea. Enquanto solista principal, o trompetista Christian Scott não foi aquele improvisador de sequências abruptas de notas ou de fraseados intrincados – algo que, realmente, não é sua característica –, mas seus solos, a maioria composto por notas longas e melódicas, se limitaram à ditar dinâmica da banda: ditando quando que ela poderia soar mais suave e ou com mais intensidade. A influência de Miles Davis no uso da surdina, no registro médio e no uso de escalas ficou evidente no trompete de Christian; mas ele também mostrou quase a capacidade de um Dizzy Gillespie no quesito de atingir as notas mais agudas com uma sonoridade forte e penetrante, momentos esses onde os músicos atingiram um certo clímax e a platéia os presentearam com palmas efusivas. O baterista Jamire Williams era o que dava a intensidade sonora junto ao trompete de Christian: sua bateria era ritmicamente carregada e conseguia evidenciar os ritmos citados, sem impor um groove ou um swing repetitivo. Já a função do guitarrista Matthew Stevens foi “temperar” a banda com uma textura mais “elétrica” e “rocky”, sutilmente psicodélica em algumas partes. Quanto ao repertório, composto quase inteiramente por composições próprias, os destaques foram os temas K.K.P.D, onde o baterista aplicou uma explosiva introdução, e a bela balada “The Eraser” (canção de Thom Yorke, da banda Radiohead). Porem, em determinado momento, Christian incitou os colegas a tocarem algo no ritmo do bebop, puxando um tema de Miles Davis, “Milestone”, o que provocou uma salva de palmas na platéia – aí o trompetista realmente impressionou com frases mais cheia de notas, uma certa dose de bop virtuosístico. Em suma, o Christian Scott Quintet impressionou os que não os conheciam e superou as expectativas de quem já tinha adquirido seus discos. Não foi um show de exibicionismo técnico. Foi um show de mais dinâmica, mas com muitos momentos de êxtases. Foi uma das mais aplaudidas entre as oito bandas que participaram da 3ª edição do Brigestone Music. Para quem não foi ao show e quer conhecer o som do Christian, só acessar o link abaixo e ouvir um podcast no Blog Farofa Moderna do Portal MTV.
9 comentários:
Esse Christian tá foda. O "yesterday you said tomorrow" é fantastico.
Parabens pela entrevista!
Muito bom o som do Christian Scott.
Ele tem talento e atitude o suficiente para influenciar uma nova geração de fãs de jazz.
Em entrevista ao Estadão, Scott havia afirmado que não era influenciado por ninguém mesmo, o que acabou trazendo interpretações equivocadas. Ele sabe que qualquer declaração destas pode dar mais margem para a rotulação de seu trabalho, algo que pode ser perigoso, sim, para um artista musical que está em ascensão.
Abs,
Tiago
Realmente, o show foi bem isso memso.
Interessante a ótica do Christian Scott....
Pitta,
apenas um comentário: o Roberto Mugiatti não usou um "pequeno espaço da Ilustrada" para falar do Bridgestone porquê ele não escreve para a Folha e sim para o Estadão (onde passou a ter uma coluna mensal de jazz). Quem escreve para a Ilustrada hoje sou eu e, para abordar o Bridgestone, realizei uma entrevista com a Dee Alexander. Nos últimos tempos, em que tenho colaborado com a Folha, fiz matéria sobre o 'Coletivo de Improvisação' (Phil Minton, Ivo Perelman, Mark Sanders e outros) quando tocou no CCSP; resenhei o Black Hole/Live Tampere do Brotzmann; também publiquei um texto em que apresentava nomes do 'free' atuais, como Mats Gustafsson, Matthew Shipp e Joe Morris. Enfim, sempre busco escapar do óbvio, batido e saturado.
Belo texto, belo trabalho.
um abraço,
Obrigado por nos avisar Fabricio. Já fiz as devidas correções no texto. Sim, eu já li textos seus: um deles sobre o Free Jazz na Folha Uol (não sei se é assim que se diz), onde vc destacou que a arte de Ornette Coleman ainda estava viva na mão de músicos como Mats Gustafsson e Ivo Perelman, por exemplo. Continue com seu trabalho e acredito que tu estará aumentando a corrente em prol dessa música e ajudando para informar o público.
Bem...é super positivo que, mesmo de vez em quando, haja matérias sobre jazz nos jornais -- e não só sobre jazz, mas sobre música instrumental brasileira, que ando conhecendo bem e que vou tratar de dar mais ênfase aqui no Farofa Moderna tbm. Mas isso ainda acontece de forma muito framentada: é um bom começo, mas sem uma frequencia não há nenhum aprendizado. E não há dúvidas que a música instrumental sofre uma segregação absurda na nossa mídia especializada em música -- o que chega a ser um paradoxo, pois vemos que nossa mídia especializada em música não é capaz de falar da música em seu estado mais autentico e artístico, enquanto a mídia européia, por exemplo, dá-nos um show em termos de documentar e informar sobre a cultura, o jazz a livre improvisação e etc...Aqui no Brasil, quando ela se propõe a falar do jazz é, quase sempre, de panteões de 50 anos atrás: como se a genealogia do jazz estivesse estacioanada em Miles, Coltrane, Billie Holiday e etc. Mas não somos ingênuos, sabemos que isso acontece porque ainda não há, na nossa mídia, uma cultura de informar o público sobre o que anda acontecendo de novo na música instrumental brasileira e muito menos com o jazz internacional. Mas, ainda assim, não podemos ser sempre coniventes com esse descaso se temos um meio de protestar, o faremos -- mesmo que isso seja sempre ignorado.
Quanto aos seus textos, gostaria de te dizer que, ao que parece, voce tem seus diferenciais, entende de música e está atento para a diversidade e inovação: um exemplo é seu blog sempre atualizado, e parabéns por isso! Aliás, quando vc publicar algo em algum desses veículos nos mande as matérias previamente ou depois de publicadas mesmo: assim daremos enfase aqui e em outros blogs e mostraremos que há, sim, pessoas antenadas na nossa mídia que ainda é muito indiferente e reacionária em termos de música instrumental.
Obrigado Fabricio, Tiago, André e Bruno!
Abraços!
Legal, Pitta. O importante é seguirmos em nossa árdua jornada para divulgar esses sons ainda tão ignorados!
Sobre sua conclusão após a entrevista (estarmos ainda nos anos sessenta). Eu diria até antes. O problema é que, como disse o entrevistado, tem um monte de porcaria rolando por aí sob a etiqueta do jazz. Fica difícil enumerar músicos que realmente fazem um som convincente utilizando as informações contemporâneas. Enquanto isso, vamos ouvindo.
Compreendo o que quer dizer, Mr. Salsa, respeito e entendo o porquê de tú dizer isso.
Mas não creio que seja difícil achar coisas criativas e relevantes no jazz contemporâneo. Aliás, ao contrário: estamos numa das épocas mais criativas e diversificadas do jazz - com certeza! Falta-me tempo e dinheiro para adquirir e ouvir tudo de excelente que anda acontecendo.
Acontece que quem está ainda com as amarras do melodismo e do swing de outrora, se torna incapaz de aceitar a diversidade do jazz contemporâneo, bem como inovações comuns à evolução natural do gênero: a questão não é de idade (como se uma pessoa mais velha fosse incapaz de digerir o jazz de Christian Scott, por exemplo), mas de costume e adaptação -- até porque no show de Christian Scott, com lampejos de pop e hip hop, havia um monte de senhores com mais de 50 anos na platéia e todos curtiram com o mesmo entusiamos dos jovens presentes. Portanto, é preciso lembrar que o jazz contemporâneo é outro jazz diferente daquele com o chamado swing, baseado no blues e com aquele melodismo proveniente da música popular tradicional das décadas de 20,30,40,50 e 60. Isso é um fato que ainda não chegou no Brasil: mas é fato a muito tempo lá fora nos EUA e Europa.
Quanto às declarações de Christian, qualquer pessoa -- até a mais ingênua -- saberia observar que ele só falou isso pra enaltecer sua própria música, seu próprio jazz, e pra fugir de comparações ou da tarefa de falar do jazz de outros músicos. Mas dizer que "tem muito lixo acontecendo no jazz atualmente" foi um excesso da parte dele: com certeza!
Se voce me disser que a década de 70, por exemplo, produziu muito lixo com etiqueta de jazz, aí vou concordar e até ajudo a enumerar as porcarias.
Mas não creio e nem concordo que James Carter, Donny McCaslin, Wynton Marsalis, Robert Glasper, o próprio Christian Scott, Don Byron, Dave Douglas, Christian McBride, Gerald Clayton, Ted Nash, Steve Coleman, Alex Sipiagin, Kurt Rosenwinkel Jason Moran, Michel Leme, Léa Freire, Hermeto Pascoal, Mauro Senise, Ivo Perelman e tantos outros sejam "lixo" ou produzem "porcarias". Isso porque citei apenas uma faísca da grande multidão de músicos americanos e brasileiros que são criativos, inovadores e totalmente relevantes para o jazz atual, alguns já em ativa desde os anos 80.
Então, isso não justifica a nossa mídia musical ser tão atrasada...Ela precisa atualizar o público sobre essa multidão de músicos que estão na ativa por pelo menos três décadas e tratar o jazz, a bossa e toda música dos anos 60 como herança histórica. É preciso ter um equilíbrio entre mostrar o antigo e mostrar o atual. Desprezar o atual é que nunca poderia acontecer: isso, aliás, é uma atitude díspare ao próprio conceito de mídia.
Apesar de discordar do seu ponto de vista, obrigado por nos honrar com sua visita, Mr. Salsa.
Sim, tenho ouvido algumas coisas que escapam estruturalmente ao swing e ao blues, mas, paradoxalmente, parece que, sei lá como, ainda preservam isso em suas linhas.
brevemente postarei alguma coisa nesse sentido lá no meu quintal.
Abraços
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