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Ambrose Akinmusire: De quando o coração abraça o cérebro, e o sentimento abraça a técnica...


Esqueçam, por um momento, a Blue Note das décadas passadas, de quando ela era a principal etiqueta das primeiras gerações de progressistas do jazz: isso desde o bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie nos anos 40, passando pelo hard bop de Art Blakey e Horace Silver nos anos 50, até o post-bop de Wayne Shorter e Herbie Hancock nos anos 60. Esqueçam também aquele beat swingante de bateria e aquele walking bass manjado, pois há tempos que aqueles grooves de swing e bebop -- que vigoraram nas décadas 30, 40, 50 e 60 -- não são a tônica da linguagem dos músicos: não só dos músicos da geração 2000, mas até músicos veteranos, como os próprios Wayne Shorter e Herbie Hancock, há muito tempo se libertaram das cadeias quadradinhas do swing e bop. Feito isso, aí sim você estará apto para ouvir o que tem a dizer o álbum When the Heart Emerges Glistening, debut do trompetista Ambrose Akinmusire (pronuncia-se ah-kin-MOO-senhor-ee), pela Blue Note. Descoberto aos 19 anos por Steve Coleman (pai do inovador conceito M-Base) num workshop na Berkeley School of Music, Ambrose Akinmusire passou por um lento e constante processo de revelação, desde 2001, até ser recentemente alçado à categoria de principal "rinsing star" nos rankings da Downbeat e noutros principais holofotes americanos especializados: para tanto, além de conquistar a primeira colocação na Thelonious Monk Competition de 2007, ele colecionou uma quantidade considerável de participações como sideman, tocando em shows de imporantes músicos veteranos, como Herbie Hancock e Terence Blanchard (uma das suas principais influências), viajando em turnês ao lado de Steve Coleman (como membro do seu The Fives Elements) e participando de alguns dos álbuns mais interessantes deste início de século, como, por exemplo, Resistence Is Futile (Labeu Bleu, 2001) de Steve Coleman, In What Language (Pi Recordings, 2003) de Vijay Iyer e Mike Ladd, Esperanza (Heads Up, 2008) de Esperanza Spalding, bem como dos álbuns do saxofonista Walter Smith III, seu sideman e parceiro de projetos, para o selo Criss Cross. Antes de ser contratado pela Blue Note, sua primeira empreitada aconteceu em Prelude...to Cora (2007), album lançado pela Fresh Sound New Talent, a qual, como o próprio nome diz, tem sido uma das principais gravadoras a descobrir novos talentos do jazz, assim como a Criss Cross passou a fazer desde meados dos anos 90.

Faixa: The Walls of Lechuguilla. Músicos: Ambrose Akinmusire no trompete, Walter Smith III no sax tenor, Gerald Clayton no piano, Justin Brown na bateria e Harish Raghavan no contrabaixo

Pois bem, atentemos-nos para as minúcias de When the Heart Emerges Glistening, álbum com treze faixas, dez das quais compostas por Ambrose Akinmusire. Aposta da Blue Note para esta segunda década do século 21, Akinmusire não poderia ter lançado um disco de estréia melhor e nem ter tido um ano mais viável do que o de 2011: por causa de When the Heart Emerges Glistening, o trompetista "matou a pau" seus concorrentes nos ranking do Jazz Journalist Awards, agaranhando a primeira colocação nas categorias de Up and Coming Artist of the Year (Artista Revelação do Ano) e Trumpeter of the Year (Trompetista do Ano); depois, ainda, nas votações dos críticos da Downbeat, ele ficou com a primeira posição em Trumpeter of the Year (Trompetista do Ano) e Jazz Artist Of The Year (Músico de Jazz do Ano) na categoria Rinsing Star (Estrelas em Ascensão). Constituída por Walter Smith III no sax tenor, Gerald Clayton no piano, Justin Brown na bateria e Harish Raghavan no contrabaixo -- e tendo o célebre pianista Jason Moran na mentoria e co-produção --, a banda de Akinmusire revelou-se como uma formação de notável sinergia neste registro -- trata-se de um quinteto fora de série, a começar por Gerald Clayton, um dos principais "rising stars" da seara dos pianistas. Mas antes de descrever algumas faixas, é preciso revelar algumas curiosidades acerca do estilo de Ambrose Akinmusire, atentando para o fato de que sua técnica é avançada e fluída, bem como suas improvisações e composições não são "masturbatórias" (com perdão ao sentido torpe da palavra), mas sim agradavelmente imagéticas: ou seja, há compositores que primeiro compõe a canção e só depois dá nome a ela, mas o trompetista, enquanto compositor, já afirmou que primeiro imagina toda a temática, cria toda uma história -- podendo esta vir da realidade ou da imaginação --, depois cria um título e, aí então, compõe a canção e improvisa livremente sobre a melodia; já enquanto trompetista, seus improvisos soam escorregadios, quase free, e a sua sonoridade é suave nos registros graves e médios e quase metálica no agudo. A primeira faixa "Confessions To My Unborn Daughter" (de Akinmusire) começa com uma introdução breve, protagonizada por um solo fluído do trompetista, para depois apresentar a entrada dos outros sidemans no tema: o interessante, aí, é que, apesar da estrutura ser o convencional tema/ improvisos/ volta ao tema, o trompete e o sax tenor apresentam uma interessante conversação e justaposição simultânea, cada um interferindo no improviso um do outro em diversos momentos antes da volta ao tema -- e a segunda faixa "Jaya" (composta pelo baixista Harish Raghavan)apresenta a mesma característica de diálogo e contraponto: um tema que é uma balada de harmonia contemporânea, enérgicas improvisações coletivas e diálogos através de frases em perguntas e respostas no meio da faixa, e, por fim, a volta ao tema. Segue-se uma breve introdução do contrabaixo para a entrada da quarta faixa "Henya" (de Akinmusire), essa com o frescor sonoro de um piano Rhodes, além do acústico: é um tema melancólico e suave, sem improviso, apenas algumas repetições e inflexões em torno da melodia. Já a quinta faixa "Far But Few Between" (de Akinmusire) é uma rápida sessão de improviso com um trio seco só de trompete, baixo e bateria: é onde o trompetista realiza uma das suas melhores performances, um improviso ligeiro, fluído, cheio de escalas desconexas e com ecos da estética do free jazz, sem acentuações previsíveis. Mas o álbum -- que, conforme o título, quer expressar as revelações, os anseios de um coração cintilante -- não segue apenas nessa linhagem de dinamismo entre faixas enérgicas e faixas solenes que expressam o sentimento pessoal do trompetista. Há, também uma pitada de sentimento social: é o que mostra a faixa "My Name Is Oscar", um spoken word na voz "radiofonizada" de Akinmusire em dueto com as excitantes improvisações do baterista Justin Brown, a qual foi elaborada em homenagem à Oscar Grant, um rapaz afro-americano de 22 anos que foi baleado e morto injustamente por um oficial de trânsito em 2009 na véspera de Ano Novo, em Oakland, cidade natal do trompetista. Além dessas impressões -- e de outras, as quais vocês, leitores, encontrarão no exercício de audição de When the Heart Emerges Glistening --, é preciso ressaltar a necessidade do ouvinte se desprender das versões antepassadas do jazz moderno e se inteirar sobre inflexões jazzísticas contemporâneas, afim de obter uma fruição mais prazerosa dessa sonoridade: um misto de elementos do funky -- através dos beats imprevisíveis --, do free jazz -- através de improvisos livres --, e do post-bop contemporâneo -- através de harmonias que emanam o frescor da atual música afro-americana, sem desprezar a onipresente influência das escalas do blues ( criando uma sonoridade que os jazzistas americanos chamam de straight-ahead) --, este álbum já nasceu como um sério candidato a ser um clássico, podendo vir a ser, no futuro, um dos documentos mais representativos do mix jazzístico que apreciamos hoje. Através de álbuns deste nível -- a lembrar, também, de álbuns recentes albuns de Wynton Marsalis, Jason Moran e Avishai Cohen --, a Blue Note começa fazer jus à sua representatividade história enquanto principal fiadora do jazz moderno, grandeza que a gravadora parecia ter perdido e precisa reconquistar no jazz contemporâneo. Clique nas imagens para comprar e/ou acessar o site do trompetista.

Um comentário:

Daniel disse...

Postagem G-E-N-I-A-L Pitta.

Ouvi o som desse trompetista recentemente e achei o cara muito fera, um baita álbum de jazz moderno. E enquanto procurava historia a respeito dele, cai aqui no Farofa e diante desse texto maravilhoso consegui entender a proposta do som dele. A Blue Note está de parabens, é uma gravadora que está conseguindo se modernizar e lançando nomes que certamente ficaram marcados na história do jazz.

Grande texto.

Abraço
Daniel

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