A pianista japonesa Satoko Fujii é uma das minhas favoritas dentre todos os pianistas do free jazz e música improvisada contemporânea -- englobando, claro, os pianistas americanos Marilyn Crispell e Matthew Shipp. Nascida em 1958, a improvisação chegou bem cedo ao conhecimento da pequena Satoko Fujii: ainda criança, depois dos seis anos de idade, a menina começou a desenvolver um gosto incomum pelo improviso -- gosto incomum para uma criança que começa aprendendo piano erudito. Esse gosto foi uma influência que veio do seu professor Koji Taku, um pianista e compositor de música erudita e grande entusiasta do jazz. Mas seus estudos de jazz mesmo só vieram mais tarde com o professor e pianista Fumio Itabashi, que já tocara com Elvin Jones e Ray Anderson.
Em 1985, aos 23 anos de idade, Satoko partiu para os EUA para aproveitar uma bolsa na Berklee College of Music, onde foi aluna de Bill Pierce. Graduada, voltou ao Japão onde tocou em alguns clubes de Tokio e Yokohama e lecionou na escola Yamaha Popular Music School. Foi um período de 7 anos que se passaram, nos quais a repercurssão do nome de Satoko Fujii ficou fadada apenas ao cenário do jazz e da música improvisada japonesa -- chegando a trabalhar com grupos como Tobifudo, Teruaki Todo e até com o saxofonista Joseph Jarman, um dos "cabaças" da AACM dos EUA --, além de também ter feito música para televisão e para uma empresa de software.
Em 1993 voltou aos EUA, dessa vez em Boston, para cursar um período de pós-graduação no New England Conservatory of Music, onde recebeu o Graduate Diploma in Jazz Performance em 1996. Nesse fase Satoko conheceu alguns dos maiores mestres do jazz: George Russell, Cecil McBee e Paul Bley, por exemplo. Seu primeiro disco de estréia, Something About Water (Libra; 1996), documenta um refinado dueto com Bley, onde o cerne do projeto é mostrar a interação livre de dois estilos pianísticos difererentes: o estilo suavemente abstrato de Bley com o estilo jovem e selvagem da pianista. A partir daí, os sucessos vieram naturalmente: dentre os projetos que receberam distinção da mídia especializada destaca-se, também, os duetos com seu esposo, o trompetista Natsuki Tamura, no CD How Many? (Leo Lab).
Esse período de ínicio como líder, de 1996 a 1988, foi o suficiente para Satoko Fujii mostrar seu refinamento fora de série e sua identidade própria, os quais consistem em mostrar uma performance pianística onde a música livre -- e adere-se aí lampejos do free jazz, do noise e música erudita e improvisada contemporânea -- funde-se à composição escrita de forma tão consistente quanto uma sonata ou uma suíte totalmente escrita à mão nos meandros da música erudita do século XX -- aliás essa característica de misturar a improvisação com a composição escrita não respeitadando mais a organizada estrututa tema-solo-solo-tema é nada mais é do que uma tendência que tem influenciado desde neo-tradicionalistas como Wynton Marsalis até ultra-vanguadistas como John Zorn. Inclusive, um exemplo desse refinamento improvisacional, composicional e, agora também interacional, são os projetos com o trio que a pianista fundou ainda em 1997, tendo como sidemans o contrabaixista Mark Dresser e o baterista Jim Black, aderindo a mais uma das recentes tendências: a febre dos piano-trios - só que, no caso de Satoko, um piano trio especializado em interações livres.
Essa identidade logo chamou a atenção de John Zorn, que logo a convidou para gravar pelo selo do qual é proprietário: a excelente gravadora Tzadik. Aqui vos deixo, como exemplo, o disco que documenta a primeira gravação de Satoko Fujii na Tzadik, album chamado Kitsune-Bi, gravado em 1999. E o que se presencia neste trabalho interessante são três facetas interacionais trabalhadas com tanto esmero quanto liberdade: o trio com o contrabaixista Mark Dresser e o baterista Jim Black, um duo de puro lirismo com o saxofonista Sachi Hayasaka e as próprias improvisações solos da pianista. Partindo da gravações na etiqueta de Zorn, a discografia de Satoko Fujii mostra o quão importante tem sido suas gravações não só no sentido de mostrar uma "nova" música improvisada, mas também de mostrar o talento de músicos japoneses, já que muitos dos seus trabalhos incluem não só músicos europeus e americanos, mas japoneses como seu próprio esposo, o trompetista Natsuki Tamura, o citado saxofonista Sachi Hayasaka, o grande baterista Yoshida Tatsuya, o baixista e guitarrista Takeharu Hayakawa, dentre outros músicos japoneses.
Neste disco, Kitsune-Bi, Satoko Fujii imprime lampejos da música japonesa, da música erudita da improvisação livre numa dinâmica que vai da composição escrita à introspectividade absoluta, dos improvisos lentos e líricos aos ataques selvagens, da atuação quase isolada de cada um dos músicos à cacofonia e ao diálogo num estilo de improvisação coletiva e contraponstística. Apesar do aspecto composicional que se funde de foma tênue à improvisação livre, as atuações de Jim Black ao contrabaixo e Mark Dresser na bateria, por exemplo, mostram nididamente influências da enérgica música improvisada produzida na Europa a partir dos anos 70: ambos mostram recursos disseminados por músicos como o contrabaixista inglês Barry Guy e o baterista alemão Han Benink, os quais romperam as barreiras dos seus instrumentos para produzir sons nervosos, sons inusitados e, no caso do baterista, até acoplar apetrechos diversos ao lado do quite convencional da bateria, os quais produziam sons até então inimaginados. E aqui abre-se um parentesis: muitas das perfomances setentistas da improvisação européia podem soar como algo extremo, totalmente sem sentido composicional ou como um som produzido ao acaso, para chocar, transgredir ou levar o já tórrido free jazz ornettiano ao extremo do noise; no entanto, aqui em Kitsune-Bi esses recursos ganham sentido, cores e são mostrados em flashes sonoros que já não aparecem totalmente por acaso -- trata-se de uma tendência do jazz contemporâneo e da música improvisada dos ultimos anos, ou seja, um novo início que busca recomeçar o jazz para dar sentido àqueles recursos que, outrora, extrapolaram os limites do improviso e da experimentação.
Em 1985, aos 23 anos de idade, Satoko partiu para os EUA para aproveitar uma bolsa na Berklee College of Music, onde foi aluna de Bill Pierce. Graduada, voltou ao Japão onde tocou em alguns clubes de Tokio e Yokohama e lecionou na escola Yamaha Popular Music School. Foi um período de 7 anos que se passaram, nos quais a repercurssão do nome de Satoko Fujii ficou fadada apenas ao cenário do jazz e da música improvisada japonesa -- chegando a trabalhar com grupos como Tobifudo, Teruaki Todo e até com o saxofonista Joseph Jarman, um dos "cabaças" da AACM dos EUA --, além de também ter feito música para televisão e para uma empresa de software.
Em 1993 voltou aos EUA, dessa vez em Boston, para cursar um período de pós-graduação no New England Conservatory of Music, onde recebeu o Graduate Diploma in Jazz Performance em 1996. Nesse fase Satoko conheceu alguns dos maiores mestres do jazz: George Russell, Cecil McBee e Paul Bley, por exemplo. Seu primeiro disco de estréia, Something About Water (Libra; 1996), documenta um refinado dueto com Bley, onde o cerne do projeto é mostrar a interação livre de dois estilos pianísticos difererentes: o estilo suavemente abstrato de Bley com o estilo jovem e selvagem da pianista. A partir daí, os sucessos vieram naturalmente: dentre os projetos que receberam distinção da mídia especializada destaca-se, também, os duetos com seu esposo, o trompetista Natsuki Tamura, no CD How Many? (Leo Lab).
Esse período de ínicio como líder, de 1996 a 1988, foi o suficiente para Satoko Fujii mostrar seu refinamento fora de série e sua identidade própria, os quais consistem em mostrar uma performance pianística onde a música livre -- e adere-se aí lampejos do free jazz, do noise e música erudita e improvisada contemporânea -- funde-se à composição escrita de forma tão consistente quanto uma sonata ou uma suíte totalmente escrita à mão nos meandros da música erudita do século XX -- aliás essa característica de misturar a improvisação com a composição escrita não respeitadando mais a organizada estrututa tema-solo-solo-tema é nada mais é do que uma tendência que tem influenciado desde neo-tradicionalistas como Wynton Marsalis até ultra-vanguadistas como John Zorn. Inclusive, um exemplo desse refinamento improvisacional, composicional e, agora também interacional, são os projetos com o trio que a pianista fundou ainda em 1997, tendo como sidemans o contrabaixista Mark Dresser e o baterista Jim Black, aderindo a mais uma das recentes tendências: a febre dos piano-trios - só que, no caso de Satoko, um piano trio especializado em interações livres.
Essa identidade logo chamou a atenção de John Zorn, que logo a convidou para gravar pelo selo do qual é proprietário: a excelente gravadora Tzadik. Aqui vos deixo, como exemplo, o disco que documenta a primeira gravação de Satoko Fujii na Tzadik, album chamado Kitsune-Bi, gravado em 1999. E o que se presencia neste trabalho interessante são três facetas interacionais trabalhadas com tanto esmero quanto liberdade: o trio com o contrabaixista Mark Dresser e o baterista Jim Black, um duo de puro lirismo com o saxofonista Sachi Hayasaka e as próprias improvisações solos da pianista. Partindo da gravações na etiqueta de Zorn, a discografia de Satoko Fujii mostra o quão importante tem sido suas gravações não só no sentido de mostrar uma "nova" música improvisada, mas também de mostrar o talento de músicos japoneses, já que muitos dos seus trabalhos incluem não só músicos europeus e americanos, mas japoneses como seu próprio esposo, o trompetista Natsuki Tamura, o citado saxofonista Sachi Hayasaka, o grande baterista Yoshida Tatsuya, o baixista e guitarrista Takeharu Hayakawa, dentre outros músicos japoneses.
Neste disco, Kitsune-Bi, Satoko Fujii imprime lampejos da música japonesa, da música erudita da improvisação livre numa dinâmica que vai da composição escrita à introspectividade absoluta, dos improvisos lentos e líricos aos ataques selvagens, da atuação quase isolada de cada um dos músicos à cacofonia e ao diálogo num estilo de improvisação coletiva e contraponstística. Apesar do aspecto composicional que se funde de foma tênue à improvisação livre, as atuações de Jim Black ao contrabaixo e Mark Dresser na bateria, por exemplo, mostram nididamente influências da enérgica música improvisada produzida na Europa a partir dos anos 70: ambos mostram recursos disseminados por músicos como o contrabaixista inglês Barry Guy e o baterista alemão Han Benink, os quais romperam as barreiras dos seus instrumentos para produzir sons nervosos, sons inusitados e, no caso do baterista, até acoplar apetrechos diversos ao lado do quite convencional da bateria, os quais produziam sons até então inimaginados. E aqui abre-se um parentesis: muitas das perfomances setentistas da improvisação européia podem soar como algo extremo, totalmente sem sentido composicional ou como um som produzido ao acaso, para chocar, transgredir ou levar o já tórrido free jazz ornettiano ao extremo do noise; no entanto, aqui em Kitsune-Bi esses recursos ganham sentido, cores e são mostrados em flashes sonoros que já não aparecem totalmente por acaso -- trata-se de uma tendência do jazz contemporâneo e da música improvisada dos ultimos anos, ou seja, um novo início que busca recomeçar o jazz para dar sentido àqueles recursos que, outrora, extrapolaram os limites do improviso e da experimentação.
3 comentários:
Vagner Pitta diz:
E ai cara? Beleza? É o Fabiano que conhecemos dias atrás! Muito bom o blog! Nota 10!!!! E valeu por postar sobre uma pianista de Free JAzz! Vou atrás pra conhecer. Abraços!!!!
me dei ao trabalho de colar um link desse material aqui
http://www.mediafire.com/download.php?yhx44zz0nom
agora é só baixar aqui mesmo!!!!!
valeu, nota 10!!!!!!!!!!!!!!!
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