O obscuro saxofonista Arthur Rhames

Não é novidade e são inúmeros os casos de grandes talentos da música que foram injustamente esquecidos. Arthur Rhames(25/10/1957 - 27/12/1989) saxofonista, guitarrista e pianista foi uma lenda do jazz avant-garde de New York. Seu virtuosismo vinha de sua total dedicação à música, estudando e praticando 6 horas cada instrumento, totalizando 18 horas diárias. Também era provido de muita espiritualidade em sua arte, sendo considerado a ligação perdida entre John Coltrane e Charles Gayle. Suas performances eram surpreendentes em energia, velocidade, uma maratona musical. Como disse o companheiro de Rhames, o baterista Jeff Siegel, era como correr a maratona de New York, só que tocando instrumentos. Arthur Rhames teve muitas dificuldades para tocar em clubes por optar em dar prioridade em suas próprias composições e não "standards" do jazz. Ele incluía em seu repertório composições de Coltrane, como as que estão no Live From Soundscape que ao lado de seus duos com Rashied Ali, o disco Rashied Ali & Arthur Rhames: The Dynamic Duo Remember Trane & Bird e o baterista Charles Telerant no disco Two In NYC, seus únicos registros em cd. Rhames se tornou uma grande influência para os jovens músicos de New York dos anos 80, como Wallace Roney, Melvin Gibbs e Vernon Reid Mas recentemente foi lançado, em formato de download pela Ayler records, o duo com o baterista Charles Telerant, Arthur Rhames & Charles Telerant Two in NYC, onde se encontram 2 registros de duas performances na ruas de New York(foto), incluindo originais de Coltrane que faziam parte de seu repertório, como Mr.PC e Impressions. A morte de Rhames por AIDS aos 32 anos em 1989 causou um grande impacto no cenário underground de New York, músicos como Melvin Gibbs e Vernon Reid relatam o privilégio de ter presenciado as performances que ultrapassavam 2 horas de interminável energia e maestria musical. Rhames seguia uma dieta rigorosa aliada a preparo físico através de exercícios e prática de saxofone, piano e guitarra cerca de 18 horas por dia. Cada nota tocada em suas longas improvisações sempre soavam coerentes, firmes, transmitindo seu total controle sob o improviso sem perder a criatividade e jamais soando monótono.

Arthur Rhames com seu grupo, o Eternity, em 1978 no My Fathers place, Roslyn Long Island. Arthur Rhames: Guitar, Cleve Alleyne: Bass, Collin Young: Drums.

As oportunidades para Rhames não foram muitas e parece que nos últimos anos da década de 80 chegou a partcipar de um tour com George Clinton como guitarrista. Até o momento Rhames estava "jogado" no canto do cenário musical, trabalhando como guarda de segurança completamente obscuro. Anos depois, Charles Telerant contaria sobre uma vez em que estava no escritório de Brian Bacchus, vice presidente de A&R da Verve Records:
- "Who have you played with?" he asked.
- "A guy from Brooklyn named Arthur Rhames" I replied.
- "Arthur Rhames?! " he practically screamed. "You played with Arthur Rhames? Where can I find him? I'll sign him right now!"
- "You can't Brian", I replied. "Arthur died three weeks ago."

 http://www.arthurrhames.net/