"Nova York Sitiada" é o título de um filme estrelado por Denzel Washington, tendo, também, Annette Benning e Bruce Willis como coadjuvantes. O filme não é aqueeeela obra de arte, mas é um bom entretenimento para quem gosta de filmes de ação: trata-se de um thriller onde o agente especial do FBI Anthony Hub Hubbard (Washington) é incumbido de caçar um bando de terroristas islâmicos depois que um ônibus lotado explode no bairro do Brooklin; daí em diante, Hubbard e o General do Exército William Devereaux (Willis) terão que correr contra o tempo para desmantelar a facção de terroristas que estão espalhados por toda cidade de Nova Iorque em comunidades e templos. Mas, afinal, o que o Jazz tem a ver com isso? Bom, o filme em si não tem nada a ver com o jazz. No entanto, esse título, “Nova York Sitiada”, ilustra de forma bem pertinente um certo “fenômeno jazzístico” recente, o qual tem ocorrido - mais ou menos a partir de meados dos anos 90 - nessa cidade que se tornou o centro do jazz nos anos 30 e, atualmente, é o centro mundial desse gênero musical que se espalhou pelo mundo de forma avassaladora: me refiro, portanto, à constante imigração de jazzistas de outros lugares do mundo para a desejada e legendária Big Apple. [ Algumas fontes dizem que o apelido Big Apple foi primeiramente popularizado pelo jornalista John J. Fitz Gerald que, nos idos anos 20 do século passado, se referia à cidade de Nova Iorque como The Big Apple quando escrevia sobre corridas de cavalos em sua coluna no jornal New York Morning Telegraph – porém, o próprio jornalista creditou o apelido aos moços afro-americanos que trabalhavam nos estábulos e pistas de corrida de cavalos em New Orleans e usavam a “gíria” com frequência quando se referiam à cidade, pois Nova Iorque era como uma “grande maçã” desejada por toda moça ou rapaz sonhador, ou seja, era o lugar para onde todos os rapazes de New Orleans desejavam ir à procura de trabalho, lindas mulheres, status, fama e etc; outros dizem que a gíria foi popularizada mesmo através dos músicos de jazz que, entre os anos 30 e 40, usavam o nome de um nightclub do Harlem, The Big Apple, para se referirem a toda a vizinhança e, consequentemente, o apelido acabou estigmatizando toda a cidade; mas, também, há relatos de que a origem do termo "The Big Apple" surgiu ainda no século 19 , pois ,segundo etimologistas, o termo começou a tomar forma quando a francesa Evelyn Claudine de Saint-Évremond montou um bordel na Bond Street: com o tempo, a prostituta Evelyn e seu bordel ficaram famosos na cidade e os nova-iorquinos passaram a chamá-la de "Eve", associando-a com a Eva do livro bíblico Gênesis, e aí começaram as analogias com a fruta biblicamente associada ao pecado, fazendo, assim, nascer a gíria que, desde então, passou a ser usada para se referir à cidade mais desejada por todos os americanos que moravam no interior do país]. O fato é que depois que o jazz saiu do seu estado primário em New Orleans, atingindo Chicago (cidade que desde sempre foi o reduto de músicos inovadores do gênero) e, logo após, adquirindo propriedade com um elemento rítmico chamado “swing” (com o qual os grandes líderes de big bands agitavam os salões de dança e teatro dos grandes centros urbanos), Nova Iorque passou a ser o reduto comercial que mais valorizava o músico de Jazz. E até hoje, apesar de não mais existirem tantos nightclubs como dantes, a cidade não só se mantém como a “capital do jazz” como também reconquistou a glória de ser o lugar mais próspero e mais desejado por qualquer músico que esteja em seu início de carreira. Aliás, em se tratanto de nigthclubes e casas noturnas, houve um considerável aumento de locais destinados ao jazz e até clubes e centros modernos especializados como o Iridium Jazz Clube (aberto em 1994) e o gigantesco e moderníssimo Jazz at Lincoln Center que, dirigido por Wynton Marsalis, se tornou um sub-complexo independente do Lincoln Center que abriga o Dizzy's Club Coca-Cola, salas de concerto especializadas para o jazz, estúdios e centros educacionais. Porém, hoje em dia, esse moderno cenário de Nova Iorque não é apenas desejado por músicos de jazz que começam a carreira nos arredores e interior do EUA, mas, sobretudo, por músicos de todos os lugares do mundo, haja vista a grande quantidade que imigraram de seus países e hoje estão sólidos como os mais promissores instrumentistas de jazz do cenário contemporâneo. Vejam, por exemplo, a troupe de jovens-músicos israelenses que pousaram em Nova Iorque dos anos 90 para cá e lá estão com carreiras sólidas: são eles o contrabaixista Avishai Cohen (revelado por Chic Corea), o pianista Yaron Herman, o saxofonista Eli Degibri, os irmãos Cohen (a clarinetista Anat, o saxofonista Yuval e o trompetista Avishai Cohen) e o contrabaixista Omer Avital. Há também os japoneses: como a pianista Hiromi Uehara e o contrabaixista Kengo Nakamura (que chegou a ser convidado para gravar o álbum Live at House of Tribes de Wynton Marsalis). Do Panamá surgiu o pianista Danilo Perez que já é considerado um dos maiores pianistas em NY e já tem uma lista de discos aclamados em seu nome, além das suas marcantes colaborações com Wynton Marsalis e Wayne Shorter. De Porto Rico vieram o saxtenorista David Sanchez e o altoísta Miguel Zenon (que em 2006 e 2008 foi premiado, respectivamente, pelas fundações Guggenheim na categoria de grande compositor e pela MacArthur Foundation com o título de “genius grant” por sua linguagem peculiaríssima que mescla influências do neo-bop com a música latina , caribenha e com o jíbaro, um tipo de música indígena do Peru e Equador). Do México,logo alí do lado, surgiu o baterista Antonio Sanches, um dos preferidos por músicos da envergadura de Pat Metheny, Christian McBride, Chick Corea e Gary Burton. Da Índia vieram o pianista Vijay Iyer e o altoísta Rudresh Mahanthappa, dois instrumentistas que animaram a cena do jazz com abordagens peculiares ao mesclarem suas influências indianas com post-bop, free e, principalmente, M-Base. Do Brasil há, em NY, instrumentistas feras que já eram veteranos aqui no país, mas também acabaram indo para os EUA e, consequentemente, também se beneficiaram com a explosão do diversificado cenário jazzístico americano: vejam os casos de Romero Lubambo, César Camargo Mariano, Duduka da Fonseca , além das cantoras Rosa Passos e Luciana Souza. E, por fim, para encerrar os exemplos, cito o baterista húngaro Ferenc Nemeth e o guitarrista africano Lionel Loueke (guitarrista de Benin recentemente aclamado pela crítica da Down Beat).
Esse êxodo de músicos de outros países para a maior cidade jazzística do mundo não é só explicado pela histórica reputação que Nova Iorque tem em relação aos músicos de Jazz. Mas, sobretudo, os maiores fatores que vêm colaborando com esse fenômeno é a “bola de neve” que se formou a partir do chamado “renascimento do jazz”, iniciado a partir do surgimento dos Young Lions no cenário jazzístico dos anos 80 e, também, a quantidade de universidades e instituições de ensino que incluíram o jazz em suas grades curriculares, firmando-o como uma disciplina de tanto valor quanto a música erudita e exigindo mais jazzistas profissionais para ministrar aulas em grandes instituições como Julliard School, Berklee School of Music, e na maioria das grandes universidades que estão nos arredores do estado de Nova Iorque como a de Princeton, Indiana, Cornell, Havard, Boston e etc - tanto que o sonho de qualquer jovem músico estrangeiro é conseguir uma bolsa de estudos numa dessas grandes instituições de ensino. Ou seja, depois da explosão do Jazz devido sua “revalorização” a partir dos anos 80, houve um considerável aquecimento nos mercados editorial, educacional e fonográfico relacionados ao jazz, com uma demanda que passou a exigir o surgimento de novas bandas, novos músicos, novos educadores especializados, além de novas gravadoras dedicadas ao jazz que viriam a somar-se com aquelas gigantes que retomaram com grande força sua atividade e investimentos relacionados ao gênero. Vejam, por exemplo, que grandes selos voltaram a dar atenção para o jazz e que surgiram uma quantidade considerável de gravadoras independentes dos anos 90 para cá – muitas delas fundadas pelos próprios músicos: como o selo Tsadik de John Zorn, a Marsalis Music de Branford Marsalis e a Inner Circle de Greg Osby. Vejam, também, a quantidade de “orquestras” e coletivos (essas entendidas como verdadeiras big bands modernas) que se revitalizaram nas ultimas décadas ou surgiram recentemente, abrigando a maioria desses músicos estrangeiros que foram pra Nova Iorque para estudar nas grandes universidades: me refiro a coletivos como Maria Shneider Orchestra, San Francisco Jazz Collective, Jason Lindner Big Band, Liberation Music Orchestra, Charles Mingus Big Band, dentre outras. Ou seja, o Jazz continua sendo - e sempre será - uma genuína música e cultura dos americanos, ainda que atualmente a chamada "cultura pop" seja quatro vez mais dominante. Mas o jazz nunca esteve em tantos lugares do mundo e Nova Iorque nunca esteve tão sitiada de músicos não-americanos como agora ( lembrando que esses músicos começam suas carreiras nessas “orquestras” e “big bands” para depois formarem suas próprias bandas, contribuindo, assim, para esse crescimento do cenário jazzístico que já dura mais de duas décadas). Nova Iorque, enfim, se transformou na verdadeira “capital jazzística” do mundo, haja vista sua diversidade - e adversidade - bem representada por instrumentistas de todos lugares do mundo que por lá se estabelecem. Sendo assim, é natural que haja cada vez mais disputas, rankings e conflitos de idéias na atual comunidade jazzística nova-iorquina, mas nesses últimos anos o que se presencia mais comumente é uma verdadeira fusão de idéias denominada por uma estética chamada de "Modern Creative". E, apesar do jazz não ter o mesmo espaço que a pop music, não houve nenhum terrorismo comercial ou cultural que fosse capaz de barrar essa efervescência que começou na década de 80: há espaço para todos em Nova Iorque, ainda mais se tiver o diploma da Berklee School of Music – para alguns, mais; para outros, menos.
Esse êxodo de músicos de outros países para a maior cidade jazzística do mundo não é só explicado pela histórica reputação que Nova Iorque tem em relação aos músicos de Jazz. Mas, sobretudo, os maiores fatores que vêm colaborando com esse fenômeno é a “bola de neve” que se formou a partir do chamado “renascimento do jazz”, iniciado a partir do surgimento dos Young Lions no cenário jazzístico dos anos 80 e, também, a quantidade de universidades e instituições de ensino que incluíram o jazz em suas grades curriculares, firmando-o como uma disciplina de tanto valor quanto a música erudita e exigindo mais jazzistas profissionais para ministrar aulas em grandes instituições como Julliard School, Berklee School of Music, e na maioria das grandes universidades que estão nos arredores do estado de Nova Iorque como a de Princeton, Indiana, Cornell, Havard, Boston e etc - tanto que o sonho de qualquer jovem músico estrangeiro é conseguir uma bolsa de estudos numa dessas grandes instituições de ensino. Ou seja, depois da explosão do Jazz devido sua “revalorização” a partir dos anos 80, houve um considerável aquecimento nos mercados editorial, educacional e fonográfico relacionados ao jazz, com uma demanda que passou a exigir o surgimento de novas bandas, novos músicos, novos educadores especializados, além de novas gravadoras dedicadas ao jazz que viriam a somar-se com aquelas gigantes que retomaram com grande força sua atividade e investimentos relacionados ao gênero. Vejam, por exemplo, que grandes selos voltaram a dar atenção para o jazz e que surgiram uma quantidade considerável de gravadoras independentes dos anos 90 para cá – muitas delas fundadas pelos próprios músicos: como o selo Tsadik de John Zorn, a Marsalis Music de Branford Marsalis e a Inner Circle de Greg Osby. Vejam, também, a quantidade de “orquestras” e coletivos (essas entendidas como verdadeiras big bands modernas) que se revitalizaram nas ultimas décadas ou surgiram recentemente, abrigando a maioria desses músicos estrangeiros que foram pra Nova Iorque para estudar nas grandes universidades: me refiro a coletivos como Maria Shneider Orchestra, San Francisco Jazz Collective, Jason Lindner Big Band, Liberation Music Orchestra, Charles Mingus Big Band, dentre outras. Ou seja, o Jazz continua sendo - e sempre será - uma genuína música e cultura dos americanos, ainda que atualmente a chamada "cultura pop" seja quatro vez mais dominante. Mas o jazz nunca esteve em tantos lugares do mundo e Nova Iorque nunca esteve tão sitiada de músicos não-americanos como agora ( lembrando que esses músicos começam suas carreiras nessas “orquestras” e “big bands” para depois formarem suas próprias bandas, contribuindo, assim, para esse crescimento do cenário jazzístico que já dura mais de duas décadas). Nova Iorque, enfim, se transformou na verdadeira “capital jazzística” do mundo, haja vista sua diversidade - e adversidade - bem representada por instrumentistas de todos lugares do mundo que por lá se estabelecem. Sendo assim, é natural que haja cada vez mais disputas, rankings e conflitos de idéias na atual comunidade jazzística nova-iorquina, mas nesses últimos anos o que se presencia mais comumente é uma verdadeira fusão de idéias denominada por uma estética chamada de "Modern Creative". E, apesar do jazz não ter o mesmo espaço que a pop music, não houve nenhum terrorismo comercial ou cultural que fosse capaz de barrar essa efervescência que começou na década de 80: há espaço para todos em Nova Iorque, ainda mais se tiver o diploma da Berklee School of Music – para alguns, mais; para outros, menos.
9 comentários:
Vagner Pitta,
Antonio Sánchez não é baterista e de origem mexicana?. Creio que ele toca com Pat Metheny e tem disco solo chamado Migration, que é muito bom . No disco há a participação , além do Pat Metheny, de Chris Potter e David Sánchez nos saxofones e Chick Corea no piano. Ou seria um homônimo ?
Sds
Edson Santos / SoJazz
pode crer edson! eu que confundi mesmo!
valeu por avisar!
vp
o vijay iyer é um puta de um pianista
Existe uma outra versão para o apelido da cidade, a grande maçã podre que consome o orçamento dos outros estados. Apesar das melhorias na cidade depois dos anos 80, aliás muitos artístas conseguiram ficar em NY, pelo fato de que a maioria das pessoas foi embora da cidade e no fim dos anos 70 era barato, mas perigoso morar lá. NY é o grande exemplo da diversidade cultural de uma metrópole, assim como Tokyo e até de forma mais precária São Paulo. O grande número de imigração, oportunidade de trabalho, possibilitou a sobrevivência do Jazz que teve seu declínio de grande público na época do chamado Bebop. Casas como Blue Note e Birdland se tornaram algo muito diferente do que eram antes. Hoje se tornaram ponto turístico com preço mais elevado. Para o FreeJazz, bem, como se não bastassem os duros anos 70, os clubes que abriram depois dos início dos anos 80, agora estão fechando por conta da especulação imobiliária, como foi o caso do Tonic.
Mesmo os nomes mais consagrados do chamado Jazz mainstream não podem depender só de NY para manter seu trabalho, tendo parte muito signicativa de seu orçamento oriunda de apresentações, workshops em outros países e aulas em universidades, como foi com Max Roach e Archie Shepp.
Olá,
Estou aqui tentando entender porque só agora descobri o Farofa Moderna.
Vocês estão de parabéns!
Coloquei um link do Farofa Moderna no meu site, o Loronix, que fica em Loronix.
Sucesso.
Abraços, zeca
Zecalouro, muito obrigado por incluir nosso link no Loronix...aliás, seu link já está aqui listado a um bom tempo porque simplesmente o blog loronix é o maior blog de música brasileira da internet (sobretudo de bossa-nova)...
que o loronix e o farofa tenham vida longa!!!
abraços!
Akira, eu acho que fato dos clubs terem ficado caros fazem parte da recente revalorização que o jazz sofreu a partir dos anos 80 diante dos poucos clubes que sobraram das décadas mais gloriosas do jazz...daí vc faz aquela continha básica: pouca oferta e muita procura gera uma pressão pra aumentar o preço de venda (veja, por exemplo, como o concertista erudito é uma das profissões mais valorizadas do mundo: eles tocam em poucos teatros do mundo em contrapartida da existência de um público considerável e, então, o resultado são os preços exorbitantes pra ver um concerto de violino na Sala São Paulo, por exemplo...e o jazz caminha para esse fenômeno de valorização...as vezes tentamos dissociar o jazz dos fatores de mercado, mas tudo gira em torno dele e das suas leis...
...bom, quanto ao free...acho que o free jazz desde o começo é um caso à parte: o free jazz não entra totalmente nessa revalorização porque ele dissociou-se do próprio jazz enquanto cultura popular para focar-se na busca da arte através do experimentalismo (o que me desanima é que nem sempre o experimentalismo se concretiza arte em sua essÊncia: as vezes ele é só um tiro no escuro ou quando se acerta é apenas um experimento restrito ao próprio experimentalista, uma pesquisa pra alimentar uma certa "inquietação" ou "rebeldia" pessoal como é o caso de ALGUMAS abordagens de Braxton que nem ele mesmo sabe explicar de onde surgiu e pra que serve...e aí quando se perde o direcionamento e o foco, fica difícil daquilo se tornar um padrão de inovação),ou seja, o free jazz nunca foi uma música para as pessoas (talvez seja mais uma música para músicos)e muito menos pra se ganhar dinheiro...acho que o músico experimentalista sempre teve essa noção do risco em que ele corre ao caminhar por esse trilho...no entanto, tirando de fora a bolha especulatória no mercado imobiliário, podemos dizer que até o "free jazz contemporâneo" se beneficiou com o a revalorização do jazz: vemos hoje clubes como o iridium e o legendário knniting Factory dando total ênfase para abordagens jazzísticas mais experimentais chegando a convidar músicos considerados "inaudíveis" como Braxton e Evan Parker...sem contar o número de caras que usaram e estão usando o free jazz como ponto de partida como Jason Moran, Matthew Shipp (não sei se ele é de new york mesmo), Vijay Iyer, Dave Douglas, John Zorn, don Byron e etc...acho que esses caras "mais jovens" estão ajudando a popularizar as sonoridades e inovações do Free jazz para as pessoas de hoje em dia, colocando-o de fato como mais um estilo dentro da cultura do jazz...é interessante quando vc passa a entender o conflito entre ARTE versus CULTURA...a maioria dos músicos do maistream, quando não debandam para estéticas totalmente comerciais, até sabem trabalhar num equilíbrio entre inovação e criatividade (arte) sem comprometer o lado da apreciação da pessoa comum que gosta de jazz e paga caro pra entrar num jazz club: e é isso que mantém a cultura do jazz...
sei que não é o seu caso, mas sinceramente acho limitado e ultrapassado quando alguma pessoa diz que o chamado "jazz mainstream" não reproduz inovação ou que só pelo free jazz ou pelas experimentações cacofônicas que se é possível instalar aquilo que chamam inovação: o free como inovação já aconteceu a 60 anos atrás com Ornette e Albert Ayler. A geração atual (Ken Vandermark, Jason Moran e cia) estão apenas assimilando, misturando e reproduzindo tudo aquilo que já se descobriu a 50 ou60 anos atrás (e quem diz isso não é eu, mas Ivo Perelman e Charles Gayle em suas enrevistas)...talvez a próxima vanguarda seja aquela que vá usar a música eletrônica no jazz, porque o free jazz mesmo já está no caminho para se tornar tão tradicional quanto o hard bop, apesar de ainda ser uma música de dificil audição para as pessoas. Tanto que james carter disse isso certa vez "eu não tenho problemas em incrementar free jazz em minhas composições porque tanto o bebop quanto o free são sub-estilos que fazem parte da tradição do jazz e eu amo a tradição"...
bom quanto a Max Roach, Ornette e Archie Shepp sempre foram músicos de patamares conceituais e técnicos altíssimos...na minha opinião eles até podem ter passado maus bocados por conta da escolha em tocar música experimental, mas eles nunca sairam de pauta e sempre foram considerados mestres porque eles tinham um enorme senso cultural e artístico que lhes permitiam serem bem direcionados em cada fase das suas carreiras (veja como ornette direcionou bem sua música impondo o free jazz e o free-funk e tbm como max roach conseguiu impor com grande criatividade sua representatividade artística junto aos movimentos sociais na década de 60)...foi assim que eles conseguiram impor suas temáticas e inovações como padrões efetivos para as gerações seguintes...sim, eles eram inquietantes mas ao meu ver eles nunca largaram a tradição e nunca caíram na tentação da fácil abstração.
abraços e feliz 2009 (que possamos ser fartos de saúde e seguir cada vez mais os conceitos de Jesus)
...
eu só sei dizer que essa galera sofisticou o jazz
pq no tempo de miles davis e chet baker o jazz era visto pela sociedade como uma música de drogados decadente
Valeu Pitta, vitória em sua vida neste ano de 2009, com a benção de Deus.
Sem dúvida, Max, Ornette e Shepp sempre tiveram destaque, mas sempre de forma muito mais valorizada no exterior do que nos EUA. Max rompeu com a Atlantic em 1968 por não ceder ao comercialismo, Ornette quando podia, pedia cachê alto para custear suas gravações, como foi dos anos 70 em diante. Shepp também não tem uma história tão diferente. Quanto ao Freejazz, os músicos que optaram pela abstração total e já sabiam que teriam que ir para Europa onde o experimentalismo é mais apreciado, mesmo em um circuito restrito. Os músicos que optaram por este caminho, já estavam cientes de suas escolhas e que etriam de carregar usas cruzes, abdicar. Eu me refiro ao Freejazz mais ligado à tradição e mais espiritual, como o próprio Trane que passou por dificvuldaes depois de 1965. Mesmo Ornette nos anos 60 não era tão distoante como o pessoal da Free Improvisation européia. Veja o caso e Charles Lloyd, que é bem lírico, está à margem.
Esta questão de mainstream, depende do que se entende por. O escolhido para ser massacrado pelos radicais é sempre Marsalis, mas desde que eu comprei o J Mood, muitos anos atrás, não aceitei essa oposição total à ele. Seu trabalho tem valor e é muito bom. E foi para mim, a última grande revelação que trouxe mudanças no Jazz, que veio do Jazz Messengers. Eu não gosto do estilo de Javon Jackson e Joshua Redman, mas não tem cabimento falar mau deles.
Mas eu só quis salientar que NY não é aquelas maravilhas para o Jazz, sendo que poderia ser bem melhor devido aos recursos disponíveis.
Obrigado, um abraço!
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