Na história do Jazz não houve tantos grupos pequenos que fossem tão representativos como alguns poucos que já conhecemos: fala-se em Dave Brubeck Quartet, em Miles Davis Quintet, nos Hot Fives e Hot Sevens de Louis Armstrong, em quarteto sem piano de Gerry Mullighan, no Modern Jazz Quartet e mais alguns poucos grupos seletos. Aliás, falando em Gerry Mulligan, aquele quarteto sem piano com Chet Baker foi um dos mais importantes da história do jazz, já que o "desprezo" ao piano representou uma novidade - surpreendendo tanto os negros de Nova Iorque como os brancos da Costa Oeste - e a sonoridade "macia" de Baker e Mulligan, bem como o a forma contrapontística de como interagiam e improvisavam, impulsionou o aparecimento de muitos grupos exóticos apartir dos anos 50.
Depois do advento do Free Jazz em 1959 - imposto também por um quarteto sem piano, que tinha como líder o grande Ornette Coleman que documentou seus primeiros registros pela Contemporary, mesmo selo onde tinha sido a casa de Gerry Mulligan e Chet Baker em 1952 (coincidência?) - o surgimento de grupos exóticos foi ainda mais impulsionado pela nova onda liberdade improvisativa. Daí começaram a surgir grupos que "desprezavam" não só o piano, mas a seção rítmica: como duos de um sax com contrabaixo (Julius Hemphill e Abdul Wadud), com gravações contendo apenas um instrumento solo ( For Alto de Anthony Braxton) e muitas outras formações inusitadas que vinham com a inteção de criar novas interações improvisativas e novas sonoridades.
Hamiet Bluiett - baritone saxophone, alto clarinet, alto flute
Julius Hemphill - alto saxophone, soprano saxophone
Oliver Lake - alto saxophone, soprano saxophone, flute, tenor saxophone
David Murray - tenor saxophone, bass clarinet
selo: Black Saint
Ano: 1981
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Na década de 70 o Free Jazz alcançou uma liberdade tão grande, que essas buscas por novas sonoridades geraram uma série de novidades e experimentos medíocres sem resultados relevantes, onde foram abandonados não só as tradições do Jazz, mas todo e qualquer vestígio de harmonia, melodia e ritmo. No entanto, se há um grupo dessa fase do Free Jazz onde podemos encontrar representativadade e coesão, esse é o World Saxophone Quartet, fundado em 1976 pelos saxofonistas Julius Hemphill (sax-alto), Oliver Lake (sax-alto), David Murray (sax-tenor) e Hamiet Bluiett (sax-barítomno). A idéia era trabalhar formas de improvisação baseadas em conjuntos camerísticos de sopros, já bem manjados nos meios da música erudita (Inclusive, o nome World Saxophone Quartet foi uma substituição ao Real New York Saxophone Quartet, já que existia um quarteto erudito com um nome bem parecido, New York Saxophone Quartet). Conclui-se, então, um experimento feliz que atravessaria as últimas décadas não só como um grupo exótico de grande sonoridade e improvisadores magníficos, mas um grupo coeso e representativo que equilibra sua atenção entre as formas livres da vanguarda e as tradições jazzísticas como o apego ao blues, releituras de grandes mestres (como no disco Plays Duke Ellington, de 1986) e até uma sofisticação composicional considerável, já que os seus componentes também são bons compositores. O primeiro disco "Point of no Return" é uma obra de livre improviso do começo ao fim, mas a transição para essa sofisticação fica evidente nas gravações posteriores do final da década de 70 para a Black Saint, onde os membros mostram composiçoes próprias baseadas em suas experiências: nas técnicas européias, na música livre, no rhytmn'blues e funk.
World Saxophone Quartet perform on Night Music
O grupo que teve sua formação inalterável até 1989, quando o grande cérebro, o compositor e altoísta Julius Hemphill se ausentou, se mostrou muito flexível e versátil no decorrer dos seus anos e de suas formações. Há, inclusive, outras abordagens além do Jazz (como o recente projeto onde o grupo abordou a música de Jimmy Hendrix), o que não apaga o valor que esse grupo acrescentou ao jazz criativo dos anos 70 até hoje. Assim, pode-se dizer que, no início dos anos 90 para cá, o grupo sofreu uma relevante perda de indentidade e muitas substituições temporárias, principalmente no posto de sax alto: Arthur Blythe, Eric Person, James Spaulding,John Purcell, Bruce Williams e, recentemente, o fenomenal tenorista James Carter engrossou o caldo do grupo com algumas colaborações. Mas, mesmo dos anos 90 para cá, ainda se encontra bons discos como "Selim Sivad, a Tribute to Miles Davis" (1998) e " Requiem for Julius" (2000), dentre outros. Desde o aclamado disco "Plays Duke Ellington" (Nonesuch) que foi votado no New York Times como o album do ano em 1986, o WSQ vem acarretando prêmios, honrarias e aparições importantíssimas em grandes festivais, na revista Down Beat e até em canais da TV americana. Conclusão: para os que ainda não conhecem o grupo, basta ter em mente que seus componentes foram e são os mais requintados saxofonistas e compositores das últimas décadas e que se trata do grupo de avant-garde com mais sucesso desde os grupos de Ornette Coleman.
Um comentário:
Great Post Vagner, this is one their most explosive. Cheers and thanx
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