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Classic Moments in Jazz - Anos 80 & 90: O "jazz-punk" de John Zorn e sua banda Naked City!

Continuo com a nossa série de resenhas sobre momentos clássicos -- ou apenas momentos reveladores, inusitados, diferentes e, portanto, importantes da história antiga ou recente do jazz -- levado à cabo por músicos célebres ou não-célebres. Nos anos 80, após a passagem da segunda fase do free jazz americano e em paralelo à explosão do movimento neo-conservador dos Young Lions, o jovem saxofonista John Zorn, um músico originado justamente do free jazz setentista, se manteve cada vez mais convicto nos caminhos do avant-garde (jazz vanguardista, música experimental) e começou a se diversificar e a evidenciar seu universo de pesquisas e idiossincrasias -- uma contribuição que foi, no mínimo, muito importante para a música de vanguarda contemporânea. Revelado inicialmente numa colaboração ao saxofonista Frank Lowe, no álbum "The Frank Lowe Orchestra - Lowe & Behold" (1977), e fazendo parte, então, do cenário underground do 'loft jazz' -- cenário independente, composto por músicos marginalizados da segunda fase do free jazz --, Zorn já mostrava um feeling nato para o ofício de experimentalista e agitador cultural: após deixar os estudos na Webster University, passou a tocar  em muitos lugares pequenos e alternativos, bem como passou a realizar jam sessions de música improvisada em seu próprio apartamento em Manhattan, começando aí o processo que lhe tornaria o líder do cenário "Downtown" de Nova Iorque.

Em seus primeiros registros oitentistas, Zorn passou a englobar não só as estéticas sonora do free jazz  -- a música do caos sonoro, a música improvisada, cacofônica tal como já era conhecida  --, mas também passou abordar outras estéticas e estilos musicais como a música erudita de vanguarda, a klezmer music (música judaica), o country, o heavy metal, o hardcore (uma corrente mais "nervosa" do punk rock), o noisecore japonês, e, posteriormente, o grindcore (um estilo que abrange noise e hardcore, bem como vocalises guturais). Junto a John Zorn começou, portanto, a envidenciar uma nova leva de músicos ecléticos, dos quais alguns até tinham  jazz como ponto de partida, mas eram abertos às inúmeras experimentações e estéticas vanguardistas, distinguindo-se dos jovens jazzistas da geração dominante chamada Young Lions, esses liderados pelo  trompetista Wynton Marsalis, que dizia que o verdadeiro jazz era o jazz acústico estabelecido pelos mestres históricos. Mas John Zorn não queria saber nada desse troço de "jazz puro"; muito pelo contrário: ele queria é jogar muito "som sujo" no jazz: basta prestar atenção em seus improvisos de saxofone que são gritantes e, às vezes, ensurdecedores, bem como nos arranjos pesados e guturais dos seus discos.



Na verdade, o trunfo de John Zorn foi liderar um reduto underground de roqueiros, compositores, músicos de jazz e improvisadores de Nova York que não ligavam para rótulos, nem mesmo ligavam com qual estilo a crítica os denominariam: alguns desses eram Joey Baron, Bill Frisell, Christian Marclay, Bill Laswell, Wayne Horvitz, Fred Frith, Lou Reed, até os membros da banda Sonic Youth esteve antenada com esse cenário, dentre outros músicos, bandas e cantores. Esse movimento mais eclético e libertário, mas, ainda com algumas bases no jazz, chegou a ser chamado, por alguns críticos, de Jazz-Punk, tendo John Zorn como a figura central dessa vertente. Desde os anos 80, John Zorn já vinha experimentando trabalhar com diversos tipos de bandas, realizando com elas diversas colagens musicais, mas de todas suas empreitadas a de maior sucesso e representatividade foi com a banda Naked City, que durou de 1988 a 1993. A exemplo de como o  guitarrista Frank Zappa já fizera nos anos 60 e 70 com sua banda Mothers of Invention -- ao realizar colagens com elementos do rock'n'roll, do jazz fusion e da música erudita de vangarda--,  Zorn também começou a realizar um pioneiro trabalho de colagem subculturista com o Naked City, chamando tanto a atenção dos críticos e público de jazz como também do público roqueiro adepto aos estilos do punk rock, heavy metal, death metal e o novo grindcore: não à toa, a banda chegou a tocar com bandas pioneiras do grindcore e do rock experimental, tais como Blind Idiot God, Napalm Death, Carcass e Live Skull  e até fez parte da coletânea chamada Grindcrusher, uma compilação antológica lançada pela gravadora Earache Records, pioneira em bandas desses estilos.

Outra curiosidade interessante é sobre as temáticas que Zorn quis imprimir nesse época, não apenas através do som caótico e gutural do conteúdo instrumental, mas através das ilustrações artísticas das capas dos discos do Naked City: são capas com ilustrações e antigas fotos de assassinatos, mutilações, masoquismo e sadismo, o que criava uma síntese imagética baseado no macabro, no sádico e no mórbido -- o fotógrafo americano Weegee (famoso nos anos 30 e 40 por documentar as mazelas das ruas de Nova Iorque: mendigos, assasinatos e etc) e o ilustrador japonês Suehiro Maruo (um pioneiro do mangá, que também era fascinado pelo macabro e mórbido) foram as principais inspirações para Zorn criar essa abordagem. De 1989 à 1993, o Naked City lançou sete albuns, sendo quase dois ao ano: o homônimo "Naked City", Torture Garden, Grand Guignol, Heretic, Leng Tch'e, Radio e Absinthe. Depois vieram outras bandas como o Painkiller e o seu projeto eletro/ acústico com o Masada, sendo esse último mais inspirado na klezmer music, com temáticas baseadas no ocultismo e no anjos e demônios da liturgia judaica. Em meados dos anos 90, para poder lançar seus próprios discos e os dos músicos experimentais que ele promove, John Zorn fundou sua própria gravadora, a Tzadik Records, que está atualmente muito bem sucedida no nicho de música de vanguarda. Abaixo deixo duas faixas pra vocês conhecerem a música experimental de John Zorn e sua turma do final dos anos 80 e início dos anos 90. Para baixar o álbum Radio do Naked City, clique aqui. Um exemplo máximo de subcultura sonora! 

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