Dos cantores da nova MPB agraciados pela grande mídia, o carioca Seu Jorge é um dos mais autênticos e originais – menos mal, aliás, para uma mídia infestada por engodos, hipocrisias, fashionismos e atitudes que maquiam a música em prol do lucro e da fama. Contudo, o reconhecimento midiático apenas faz jus à sua originalidade; e o percurso, pelo qual teve de passar para tanto, foi árduo e lhe deixou marcas as quais ele não nunca renegou – elas estão explícitas em sua biografia, discografia e filmografia: a infância pobre em uma favela, a desestruturação da família, a vida como sem-teto e a aproximação com a música através dos pagodes de samba e dos “bailes charmes” (bailes da periferia onde DJs embalam as noites com subgêneros do R’n’B, tais como o soul e o funk). Mas após as várias desventuras, Jorge Mario da Silva conquistou, enfim, sua primeira chance de ingressar no mundo artístico quando foi descoberto pelo recém-falecido clarinetista Paulo Moura, que lhe convidou para um teste de um musical de teatro em meados dos anos 90. Não tendo vocação para ser um artista de música instrumental brasileira – ofício que Paulo Moura logo tratou de lhe sugerir – Seu Jorge deu continuidade à sua pretensão de cantor, haja vista que ele já vinha numa empreitada como cantor de bares noturnos. Foi um início bem sucedido onde o desventurado o Jorge, que já era primo do sambista Dudu Nobre, passou a construir sua rede de relacionamentos no cenário músical do Rio de Janeiro. Seguiram-se o projeto Farofa Carioca (1998) – que teve como objetivo misturar ritmos afros, samba, reggae, jongo, rap e funk –, Tributo a Tim Maia (com vários artistas), participações em shows da extinta banda Planet Hemp (encabeçada pelo rapper Marcelo D2) e os primeiros lançamentos solos, a partir de 2001: os álbuns Samba Esporte Fino (2001) e Cru (2004) , além da sua elogiada aparição no filme Cidade de Deus (2002), do cineasta Fernando Meireles, que já lhe tinha proporcionado destaque nacional e internacional. Outros lançamentos posteriores viriam reafirmar, mais ainda, o sucesso de Seu Jorge no Brasil e no exterior: o DVD MTV Apresenta Seu Jorge (2004), a trilha The Life Aquatic Studio Sessions (para o filme americano Life Aquatic with Steve Zissou, de 2005, constituída por covers das canções de David Bowie), o DVD Seu Jorge Live at Montreaux (2006) e, por fim, o álbum America Brasil, que saiu na versão de estúdio em 2007 e na versão “live” em 2009.
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Produzido pela Cafuné Produções Artísticas e Editoriais, o álbum Seu Jorge & Almaz foi lançado no mês de Julho de 2010 exclusivamente nos EUA, Europa e Japão. Em recente nota na sessão “Firts Listen” no Portal da NPR (National Public Radio), o álbum foi agraciado com críticas muito positivas a respeito da sua concepção sonora: “The album Seu Jorge and Almaz — which doubles as the name of the group — is a continuation of Jorge's melancholy voyages. With its pensive lyrics and wistful guitar twangs, the entire album sounds as though Jorge is singing it from a tavern in a faraway land. He might be in a remote Brazilian town, in the Wild West or on a funky planet in outer space, depending what song you're hearing in a given moment.” Sim, é uma observação interessante, pois, de fato, as várias nuances criadas no álbum nos deixam tais impressões: Seu Jorge poderia estar tanto em uma taverna no distante Velho Oeste, como num clube de uma remota cidade brasileira ou num planeta do espaço embalado pelas batidas do funk, dependendo da faixa que se ouve. Considerando que "Almaz" significa diamante em russo, as nuances do álbum nos faz lembrar do "A Tábua de Esmeralda", mítico a´lbum de Jorge Ben Jor, de onde Seu Jorge tomou emprestada a canção "Errare Humanum Est". Ademais, veja, abaixo um pedaço do curta-metragem do filme The Model dirigido por Kahlil Joseph , especialmente para divulgar este projeto do Almaz.
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