Que o jazz no Brasil cresceu e estar a crescer com a inclusão virtual, disso nós não temos dúdiva. No entanto, muitos mitos, preconceitos e tabus precisam ser quebrados a respeito dessa música de origem norte-americana que se renova a cada geração e se expande pelos arredores do mundo: entre eles a idéia de "que jazz é uma música de elite ou de que jazz é uma música dificil de ouvir que só músicos são capazes de apreciar". Aqui no Brasil, um dos caras que está ajudando a "descomplicar" a apreciação ao jazz é o jornalista paulistano Emerson Lopes, editor do eficiente site Guia do Jazz, produtor e apresentador do Podcast Jazzy, no Portal do Estadão. Desde 2001, Emerson edita o Guia do Jazz no Portal Sobresites: lá existe uma compilação de sites de jazz, blogs, rádios, podcasts, dicas de CD's, dicas de DVD's, dicas de revistas e muitas outras curiosidades para oa iniciantes e amantes do jazz que querem ficar por dentro das mais variadas formas do gênero. O trunfo, aliás, é Emerson ter reunido todas essas dicas em portugues -- já que antes, a maioria das informações a respeito do jazz estavam disponíveis apenas em ingles e em sites que o internauta brasileiro -- principalmente o ouvinte iniciante -- dificilmente encontraria sem a ajuda de um guia. Pois bem, o Guia de Jazz cresceu e a dois anos atrás Emerson teve a idéia de transformá-lo em livro. Sim, dois anos se passaram até que Emerson juntasse toda a informação coletada, coletasse mais material, fizesse entrevistas com personalidades da mídia que têm ou tiveram experiência ampla com o jazz, formatasse todas essas informações para a forma de livro, bem como vencesse as dificuldades econômicas e os embaraços do mercado editorial para encontrar uma editora que se interessasse pelo projeto. No segundo semestre de 2009, então, Emerson Lopes lança o livro Jazz ao seu Alcance. Com uma abordagem despreconceituosa do jazz, o livro traz vários capítulos organizados por temas que serão de grande valia para os que estão começando a ouvir jazz e para os que já são fãs a algum tempo do gênero mas querem ampliar seus horizontes. Para comprar o livro Jazz ao seu Alcance clique na imagem acima e adquira direto da Editora Multifoco. O livro também poderá ser encontrar na Livraria Cultura. Clique no link a seguir para saber mais detalhes do livro ou para falar diretamente com Emerson Lopes: http://nosreme73.multiply.com/reviews/item/59
Considerando que Emerson é um dos leitores assíduos do Farofa Moderna e um parceiro na causa da divulgação do Jazz, é um prazer trazer mais essa dica especial para todos que passam por aqui. Indagado sobre a possibilidade de mostrar esse projeto, mandei-lhe uma entrevista curta e direta: nela o jornalista fala do Guia do Jazz, do livro Jazz ao seu Alcance e da antiga sua experiência como vendedor de discos em grandes lojas da capital paulistana, deixando suas impressões sobre o jazz, os mitos e preconceitos relacionados ao gênero e sobre o impacto dos downloads compartilhados na internet. Leiam e comprem o livro!
Vagner Pitta: Como foi sua aproximação com o jazz e como foi o processo de se tornar um dos divulgadores do gênero no Brasil?
Emerson Lopes: O jazz apareceu naturalmente, sem traumas ou imposições. Não fui atrás dele. Quando percebi, já estava escutando alguns músicos da gravadora GRP, como Lee Ritenour, Dave Grusin, Acoustic Alchemy e Chick Corea Elektric Band. Em seguida comecei a me interessar pelos jazzistas mais tradicionais e a procurar mais informações. A criação do Guia de Jazz foi um acaso. Encontrei uma nota no jornal Folha de S. Paulo sobre o portal SobreSites. Eles procuram editores voluntários para desenvolver guias com endereços de sites sobre “qualquer” assunto. Na época, estava desempregado e tinha tempo suficiente para fazer “qualquer coisa”. Achei a idéia interessante e resolvi tentar. A escolha pelo tema jazz foi resolvida depois que percebi a falta de informação em português sobre o assunto. É claro que eu ouvia jazz, mas minha “viagem” pelo gênero só aconteceu realmente depois que comecei a pesquisar mais a fundo para a criação do Guia de Jazz.
Em seu site Guia de Jazz e no Podcast Jazzy, no Portal do Estadão, você orienta os ouvintes com dicas as mais variadas: englobando desde o jazz tradicional, passando pelo mais comercial smooth jazz até o jazz contemporâneo. Considerando sua forma ampla de abordar o jazz, essa pergunta traz implícita algumas questões: sobre sua concepção de qualidade, sobre suas preferências musicais e como você acha que as pessoas devem se situar na atual era do ecletismo em que vivemos. Você se considera um eclético? Qual sua concepção sobre o que venha a ser qualidade musical? Quais seus artistas de jazz e de música popular preferidos que você costuma indicar pra galera (independente de época) ?
Essa questão da qualidade eu escuto desde o meu tempo de vendedor de CDs, no início dos anos 90. Eu sempre “rezei” pela cartilha que você deve escutar aquilo que lhe agradar e dá prazer. Simples assim. Não interessa se este ou aquele artista, disco, gênero ou gravadora é “respeitado” ou não pela crítica especializada. Não é uma questão de ser eclético, mas sim de não ser “elitista” ou preconceituoso. É claro que escuto e gosto de músicos aplaudidos pelos especialistas como geniais, de vanguarda e mestres do jazz, mas isso não me impede de ter prazer em escutar algo menos rebuscado ou com qualidade duvidosa. Apesar do meu raciocínio, imagino que para um músico, que pode entender a complexidade de um arranjo ou a genialidade de algo novo em uma frase de um jazzista, deve ser difícil digerir uma música com uma melodia ou harmonia mais simples. Meus músicos favoritos no universo do jazz são os saxofonistas Joe Henderson e Benny Golson, o guitarrista Pat Metheny, as cantoras Dianne Reeves e Casandra Wilson e o pianista McCoy Tyner. Fora do jazz, escuto Bruce Springsteen, Sade, Vinnie Moore, Maxwell, Cult, Sting e tantos outros.
Você acaba de lançar um livro onde, pelo visto, você está se metendo, corajosamente, com utopias e tabus tipicamente brasileiros em relação ao jazz e à música de teor mais artístico. Quais são os propósitos do seu recém-lançado livro O Jazz ao seu Alcance? Você considera mitos e mentiras esses jargões que a mídia brasileira tenta impregnar na cabeça das pessoas de que “jazz é uma música de elite” ou “jazz é uma música difícil de ouvir, é uma música somente para músicos”?
O livro tem como principal objetivo trazer o jazz para um público não familiarizado com ele. O meio que encontrei para fazer isso foi a internet. Hoje, só não escuta jazz quem não quer. Bem diferente do que acontecia até o meio dos anos 90, quando a maioria não tinha acesso a este gênero, já que ele não toca em rádio, não aparece na TV e muito menos na mídia impressa (como jornais e revistas). Além disso, a linguagem usada no livro tem um tom informal e leve de se ler. O leitor vai encontrar um livro informativo e longe daquela áurea didática ou erudita que muitas vezes, mesmo sem querer, rondam os textos sobre jazz.
Sobre o mito de que o jazz é música de elite e difícil de ouvir, isso não será fácil de ser mudado por ora. Sem a massificação do jazz, que só vai acontecer com a mídia divulgando mais os festivais pelo país, o jazz dificilmente conseguirá sair do gueto a que está confinado. O mesmo acontece com a música erudita. A minha função – não uma missão –, é ajudar o ouvinte, independentemente de cor, credo, sexo ou posição social, a ter acesso às mais variadas formas do jazz. Por meio do podcast Jazzy, do Guia de Jazz e do livro, sei que o ouvinte terá ótimas ferramentas para começar a ver o jazz com outros olhos. Eu mostro o caminho, o resto depende do interesse do leitor/ouvinte.
Fale-nos do conteúdo: como você estruturou as diversas dicas e os assuntos no livro. O livro é direcionado apenas para o público iniciante em jazz ou também traz coisas interessantes aos mais antenados? Quais os atrativos que o livro O Jazz ao seu Alcance pode proporcionar aos jazzófilos?
O livro segue a mesma estrutura do site. São capítulos divididos por tópicos, como jazz em português, rádios online, gravadoras, artistas, portais e etc. Em cada capítulo, indico sites de jazz correspondentes ao tópico. Assim como escrevo no site Guia de Jazz, “muitos sites” podem ter ficado de fora, mas serão incluídos nas futuras edições do livro ou a qualquer momento no Guia de Jazz. Além da indicação de cerca de 600 sites, dicas de CDs, livros e DVDs, o livro também traz entrevistas com 17 personalidades que têm algo a dizer sobre o jazz e a música instrumental brasileira. As entrevistas tocam em assuntos pertinentes e tentam desconstruir alguns mitos e afirmações sobre o jazz. O livro é indicado para iniciantes e para os que já são fãs do gênero. É claro que para os novatos, ele abre um universo imenso, mas os ouvintes mais assíduos, cativos e conhecedores do jazz também vão aproveitar muitas informações, em especial o capítulo das entrevistas.
Tenho percebido que, apesar do público de jazz no Brasil estar crescendo e estar tomando conhecimento via internet dos inúmeros músicos e bandas que estão em alta nos EUA e Europa, as lojas ainda mantém um acervo um tanto modesto no que diz respeito aos lançamentos de jazz. O seu site e livro tentam descomplicar a apreciação e o acesso ao jazz sem indicar blogs ou sites que infrinjam o copyright disponibilizando downloads gratuitos. Considerando sua atual atuação na internet e comparando com sua experiência adquirida na área comercial – já que você já trabalhou como vendedor e gerente de boas lojas de discos em São Paulo –, como você vê a influência do atual paradigma da internet na apreciação dos amantes de jazz no Brasil? Porque é mais fácil achar discos raríssimos de jazz em blogs da net do que comprar lançamentos nas lojas? As dicas de discos e DVD’s do livro O Jazz ao seu Alcance são todas encontráveis nas grandes lojas?
A questão do download ilegal na internet não tem mistério. É ilegal, e pronto. Isso não quer dizer que sou contra o download de músicas pela rede, mas isso precisa ser legalizado. Usar como desculpa o valor do CD para fazer algo contra a lei não é certo. Se usarmos esse raciocínio, vai ter gente falando – e olha que já ouvi muito isso por ai – que sonega imposto porque todo mundo faz isso. Não censuro quem faz download ilegal, não sou da polícia e muito menos tenho alguma pretensão de ser politicamente correto, mas não incentivo e por isso não indico sites que oferecem de graça esses downloads. Por outro lado, sei que eles têm ajudado o jazz a se difundir mais no país. Com eles, é possível escutar coisas que dificilmente teríamos acesso ou até mesmo conheceríamos.
Essa questão vem se arrastando desde o fim dos anos 90 e parece que não haverá uma solução amistosa nos próximos anos. O que precisa ser feito é um acordo entre artistas e gravadoras para vender legalmente suas músicas. O consumidor tem que ter o direito de comprar uma única música se ele quiser. Isso já pode ser feito em vários sites legais na internet. Foi um grande avanço, mas ainda longe de ser a solução para o impasse.
Outra questão dos downloads é a praticidade e a economia. Quem não gosta de ouvir um disco de graça e ao alcance do mouse? Especificamente sobre o jazz, a questão do download tem um pouco mais de lógica, já que grande parte dos títulos não são editados ou encontrados no Brasil. Mas hoje em dia temos dezenas de lojas virtuais gringas com tudo aquilo que queremos comprar ao nosso alcance. É claro que o preço ainda é caro e esse é o maior problema, a grana.
A questão financeira sempre foi um entrave neste país. Mas não podemos culpar apenas a falta de dinheiro. Conheço muita gente que tem grana para pagar por um CD ou DVD importado, mas prefere baixar pela internet de graça ou comprar uma cópia pirata. Em resumo, o problema é mais em baixo, é uma questão de princípios e cidadania. Mas não vou entrar nesta discussão aqui.
A falta de títulos de CDs de jazz no Brasil é uma questão puramente comercial. Eles vendem pouco e as gravadoras não se importam como esse tipo de disco. Elas não pensam que seria bom, mesmo vendendo pouco, ter mais títulos de jazz em seu catálogo e assim ajudariam a criar uma nova geração de ouvintes de jazz. O raciocínio não é esse. É tudo uma questão de cifras, ou seja, qual é o potencial de venda deste disco?
Sobre o download de discos fora de catálogo. É óbvio que neste caso não há o que fazer. Tem que baixar mesmo. Culpa das gravadoras que poderiam editar esses discos históricos com preços populares e aliviarem um pouco o prejuízo que a indústria fonográfica tem sentido desde 2000. A maior parte dos CDs e DVDs que indico no livro é encontrada nas principais lojas do país, e o que não for encontrado você pode encomendar em alguma loja ou comprar em sites gringos na internet (como Amazon, CD Universe, E-Bay e tantos outros indicados no próprio livro O Jazz ao seu Alcance).
6 comentários:
Acompanho o podcast Jazzy e o site Guia de Jazz já a algum tempo, seus links estão incluídos na sessão "Sites Legais" do meu blog e, inclusive cheguei a trocar alguns e-mails com o Emerson que sempre me atendeu com muita cortesia.
Estava na dúvida se valia a pena comprar esse livro uma vez que já sou um iniciado no jazz (longe de mim achar que sei tudo!). Ao ler esta entrevista me decidi! Providenciarei meu exemplar ainda hoje! Parabéns ao Emerson e ao Farofa!
Abç!
Grande Vagner,
Encomendei o meu exemplar diretamente junto à Editora Multifoco e estou ansioso pela chegada desse verdadeiro presente aos amantes e ouvintes do jazz.
Concordo, em parte, com a posição do Emerson quanto aos downloads, mas acho que no caso do jazz o peso do fator "grana" não é o principal. Acho que o ouvinte de jazz - aquele que mantém com seus discos uma relação meio fetichista - só baixa em duas hipóteses: prá conhecer o trabalho de um determinado artista (e aí, se ele gostar, vai atrás dos discos "físicos") e quando um álbum está fora de catálogo ou a preços proibitivos.
Hoje, com o Amazon, o True Blue, o Oldies e outras lojas virtuais, que vendem discos a 4, 5, 6 ou 7 dólares (em média + frete, na casa dos 4 ou 5 dólares), um disco pode sair a menos de R$ 15,00, que pode até não ser barato, mas é um preço razoáveel, ainda mais porque o cd vem de outro país.
Acho que as gravadoras ainda não atentaram para o potencial do download - cobrar 1 dólar por música tampouco é uma estratégia inteligente, já que o sujeito pode ter o mesmíssimo produto de graça.
Acho que o preço deveria ser meeio simbólico, barato o bastante para inibir a pirataria e formar novos consumidores.
Mas esse é um assunto longo e árduo.
Parabéns a você pela entrevista e ao Emerson pelo belo livro (aliás, como sei que ele também é fã do Farofa, aproveito o espaço do amigo Vagner para também convidar o Emerson a visitar o Jazz + bossa: www.ericocordeiro.blogspot.com ).
Abração!
Mr. Érico, o Emerson é muito simpático e antenado: tenho certeza que já conhece sua página, onde nasce todas as semanas biografias detalhadas dos mestres e dos "unsung heroes" do jazz.
Ademais, Rodrigo, acho que esse livro, essa empreitada, esse projeto de Emerson merece muito ser reconhecida e ser apreciada por todos os amantes de jazz no Brasil. Trata-se do fruto de um apaixonado!
Obrigado Érico, Emerson e Rodrigo Vieira!
Eu acho legal a iniciativa e tal, mas eu ví sua entrevista no programa de tv do Ronnie Von e creio que deveria ter pesquisado um pouco melhor o básico, já que não estou cobrando que ele conheça um nome obscuro. Por exemplo, ele não soube responder a característica de Brubeck em Take Five, além de ser uma melodia bonita e de fácil assimilação. Em qualquer publicação fala sobre o uso dos compassos de valsa na Take Five. Começou a tocar o audio de Giant Steps e o escritor afirmava que era Joe Henderson e ficou na dúvida se era Coltrane. Giant Steps é um standard do jazz. Aí ele se justificou dizendo que não era um "fanático do jazz" para saber de tudo. Ninguém sabe de tudo, nem Norman Granz, Leonard Feather ou Nat Hentoff. Nada contra o escritor, o achei simpático mas se vai publicar um livro, carece fazer uma pesquisa mais concentrada, mesmo que nos ítens básicos, afinal, o livro serve de guia para quem ainda não conhece quase nada.
Sobre pirataria, parace que que está fazendo lobby para as lojas e gravadoras. Pirataria seria se os sites de download vendessem os arquivos copiados do original. A lei está equivocada, pois ela considera pirataria, o simples fato de gravar uma coletanea em k7 para um amigo ou namorada. Mas realmente é uma discussão que não deve se perder tempo
Caro Akira, fico contente em saber que você assistiu ao programa. Você tem toda razão quando diz que eu não conheci o tema Giant Steps, do Coltrane. Tenho uma grande preocupação em não falar besteira, por isso mesmo levei material próprio para poder comentar. Infelizmente a produção do programa resolveu fazer um blindtest comigo, com músicas escolhidas pela própria produção. Obviamente que não me senti a vontade, já que não sou um fanático por jazz, como deixo bem claro no livro e a todos que me escrevem. No livro, fiz muita pesquisa para não escrever informação errada, minha principal preocupação. Inclusive há a indicação de um disco do Coltrane que tem o tema Giant Steps, que não consegui identificar durante o programa. Acho que devo deixar um pouco de lado Bruce Springsteen, Tom Petty, Wallflowers e Van Halen e escutar mais Coltrane. Só assim vou conseguir "decorar" a melodia de todas os temas de Coltrane, Miles, Dizzy, Ellington, Armstrong, entre outros. Sobre a pirataria, não faço lobby, apenas respeito a lei. Sou contra alguém deixar de comprar um disco na loja porque fez download sem pagar direitos autorais. Isso não é certo e tem ajudado a acabar com as lojas de CDs. Agora não tenho nada contra você gravar um CD para um amigo, desde que esse CD, de preferência, tenha sido comprado e não baixado na faixa. Entendo que o download pela internet é algo tentador e democrático, mas não é o meio correto de se conseguir e comercializar música. Abs.
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