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A New Standard, A New Jazz: Radiohead e a atual relação do jazz com a canção popular.

A maioria dos músicos de jazz são também bons compositores, ou seja, são capazes de escrever suas próprias composições e arranjos para os instrumentos, para suas bandas: isso é um fato. No entanto, a composição própria, por ser algo novo com traços estritos da personalidade do autor, não fixa instantaneamente na cabeça do ouvinte como um standard já conhecido tem o poder de fazer: daí a necessidade que o músico tem de rechear seus discos e shows não só com suas composições próprias, mas também com standards manjados. Apesar do ato de compor ser um exercício que não só colabora com o crescimento do próprio compositor como também é o principal elemento que alimenta a evolução artística da música instrumental, o processo de um músico formar seu público apenas com seus originais é um tanto demorado e espinhoso, economicamente falando. Por isso, nem todo músico de jazz consegue formar seu público tocando apenas suas próprias composições, precisando, muitas vezes, tocar algo mais “popular” para atrair mais telespectadores e ouvintes – e geralmente isso é mesmo necessário para aqueles ouvintes que estão tendo suas primeiras audições e aventuras no gênero. Sendo assim, uma das principais características do jazz contemporâneo é, justamente, a busca de novos standards na pop music, ou seja, novos temas que dêem suporte para uma improvisação contemporânea, para uma estética de som que soe, efetivamente, atual – como soa a canção “Knives Out”, da banda de rock Radiohead, na versão do pianista Brad Mehldau, por exemplo. Aliás, além do apelo econômico, existe um fato que está intrinsecamente ligado à própria tradição do jazz: mesmo ele sendo uma música estritamente instrumental, mesmo com suas transformações vanguardistas, com suas sofisticações artísticas e com todo seu arrojo técnico, o jazz sempre foi uma música – desde o começo – que seguiu de perto a canção popular – talvez, justamente, porque esse tal “apelo econômico” já existe desde o começo da sua história. Ou seja, parece justo que, assim como os músicos dos anos 30, 40 e 50 do século 20 produziam versões jazzísticas de canções populares de Irving Berlin, Harold Arlen, Frank Sinatra, Cole Porter e George Gershwin, os músicos de hoje em dia também façam releituras e versões instrumentais de canções da música pop atual.


Quer dizer, até houve fases onde os músicos tiveram a necessidade de mostrar originalidade, de fortalecer a criatividade como elemento principal do jazz rechaçando o standard popular e fortalecendo sua gênese afro-americana calcada no soul e no blues, compondo somente originais: no período entre o hardbop e o post-bop, entre meados dos anos 50 e 60, por exemplo, a maioria dos músicos de jazz da época – principalmente os negros, tais como Miles Davis, Max Roach, Art Blakey, John Coltrane Thelonious Monk, Charles Mingus – lançaram seus discos quase sempre com composições originais, tentando sair daquele estigma de repertório manjado, algo que ficou evidente após as inúmeras versões cristalizadas das canções de Cole Porter, George Gershwin e similares – aliás, muitas dessas composições próprias dos jazzistas também se tornaram standards para os músicos que vieram depois. E há causos que relatam a sisudez de músicos puristas da época em relação ao repertório popular: reza a lenda que o pianista Thelonious Monk, mais afeito ao exercício de compor e reverenciar mestres do porte de Duke Elington do que com a idéia de fazer releituras, chegou a se sentir insultado quando o produtor Téo Macero, executivo da Columbia Records, lhe sugeriu que ele lançasse um álbum com temas dos Beatles em 1969, o que contribuiu para que ele se desgostasse do cenário americano e mudasse efetivamente para a Europa -- e ao que se confere no All About Jazz, Monk gravaria, já em solo europeu, algumas faixas de Beatles em 1971 pra um suposto album não comercializado, material esse que daria de presente pra sua esposa (clique na imagem para acessar o artigo). Mas, enfim, o jazz nunca deixou de ser uma música de tino popular que tem, entre suas tradições, a faceta de buscar material na música popular para atualizar seu repertório: queiram ou não os puristas, isso ocorre expressivamente de épocas em épocas.


Em 1996, por exemplo, o grande e veterano e iconoclasta pianista Herbie Hancock lançou um disco chamado The New Standard, onde ele gravou diversos temas do pop e rock dos anos 70, 80 e 90 – tais como “Thivies in the Temple”, do Prince, “Mercy Street” de Peter Gabriel e “All Apologies” de Kurt Cobain (Nirvana) –, sugerindo que o jazz buscasse novos standards e almejasse outros públicos – e na época, a coisa só não “virou moda” de imediato porque a influência de Wynton Marsalis, que pregava a necessidade de resgatar o standard jazzístico tradicional como meio de educar o novo público e resgatar a intenção do swing, se mantinha fortemente disseminada entre os músicos jovens e veteranos. Mas nos últimos anos, passado o auge do tradicionalismo do influente Wynton Marsalis – apesar da sua luta estar hoje garantindo grandes frutos como a inclusão do jazz como educação de base, a revalorização da tradição do jazz no sentimento patriótico do americano, bem como o resgate da noção de autenticidade no imaginário dos jazzistas e jazzófilos –, os músicos contemporâneos estão, cada vez mais, buscando atualizar o repertório jazzístico com novos temas do pop e rock: tanto que o próprio Hancock voltaria a gravar seus temas pop preferidos, os quais incluem canções de Sting, Santana, Paul Simon e Joni Mithcel, vide os álbuns Possibilites (Vector/Hancock, 2005) e River: The Joni Letters (Verve, 2007). Os temas pop mais preferidos entre os jazzistas continuam sendo os de bandas e cantores do “pop e rock clássicos” como Beatles, Led Zeppelin, Frank Zappa, Burt Bacharah, Eric Clapton, Nick Drake, mas a tendência agora são as releituras e versões improvisadas de canções das bandas e cantores do pop e rock contemporâneos como Oasis, Bjork, Red Hot Chili Peppers e Radiohead.


Sobre o Radiohead, aliás, há uma verdadeira “radioheadmania”: vários músicos importantíssimos do jazz contemporâneo estão incluindo os temas do Radiohead em seus repertórios – trata-se de temas simples, mas com acordes inteligentes e entonações melódicas muito peculiares, o que dá suporte para que os jazzistas apliquem harmonizações e improvisos sofisticados (aliás, na maioria das canções deles, os músicos nem chegam a mexer nos acordes originais). Além de Brad Mehdau, que é o músico mais entusiasta dos Radiohead – sendo ele, inclusive, o responsável por popularizar a banda entre os músicos de jazz –, vários outros devotam admiração pela banda de Oxford: o saxofonista Chris Potter gravou a canção “Morning Bell” no disco Underground (Sunny Side, 2006); o pianista Robert Glasper deu ênfase para “Everything in Its Right Place” no disco In My Element (Blue Note, 2007); e o jovem trompetista Christiam Scott incluiu “The Eraser” do volcalista Thom Yorke em seu último álbum chamado Yesterday You Said Tomorrow (Concord, 2010). O curioso é que a própria banda diz, em artigo para a Jazz Times, se inspirar em músicos de jazz como Miles Davis e Alice Coltrane, para criar as canções e os efeitos eletrônicos. (clique na imagem para acessar o artigo)


O saxtenorista Chris Potter, questionado pela revista Jazz Times sobre o porquê ele gosta do Radiohead, chegou a salientar que eles têm muita criatividade de para criar canções inusuais e gravações com inteligentes efeitos de manipulação eletrônica: “It's just really well-thought out music. There is always some kind of wrinkle in it that takes it out of the ordinary pop song. The records have a sound that is this definite kind of thing, manipulation of electronic signals and the rest. There's a lot of serious thought that goes into it: they are the kind of tunes that can be taken away from their original context and have something to offer, which is pretty unusual.” Já o contrabaixista da Reid Anderson, membro do trio Bad Plus, salientou que a maioria dos temas de música pop contém elementos clichês e totalmente previsíveis, mas o Radiohead procura fugir desse estigma com canções criadas fora da estrutura convencional de compassos: “One thing I look for in pop music is creativity in phrasing and structure. But so much of pop music is based on these incredibly predictable structures, four bars of this, then four bars of that. It's very symmetrical and predictable. Radiohead's music is so far ahead of everyone else, beautiful-harmonically and melodically. It's rich. The thing is, most of Radiohead's music is more creative than the jazz musicians' music”.


Ademais, muitos outros exemplos, além dos covers jazzísticos de Radiohead, comprovam essa atual tendência dos músicos de jazz “apelar” para temas e standards do rock e do pop contemporâneo: só para citar dois músicos dos mais influentes no jazz nesses últimos anos, em 2005 o super saxofonista James Carter, num dos seus únicos momentos trilhados fora da linhagem do repertório jazzístico, lançou o Gold Sounds, álbum-tributo somente com releituras de canções da extinta banda de rock alternativo Pavement; já o pianista Vijay Iyer, que já tinha gravado a canção “Imagine” de John Lennon em Reimaginin (Savoy, 2004), usou a canção “Galang”, da cantora pop M.I.A, em seu disco mais recente, o Historicity (ACT, 2009). Visto estes tantos exemplos, é preciso deixar claro, contudo, que o resultado sonoro obtido dessa atual tendência dos covers de pop e rock no jazz contemporâneo é diferente dos resultados alcançados no período do jazz-rock, smooth jazz e fusion – onde presenciou-se um combalido Miles Davis reproduzindo, descaradamente, temas de Cindy Lauper e Michael Jackson sem se preocupar em dar uma roupagem jazzística à coisa –, ou seja, embora muitas releituras de Herbie Hancock sejam questionáveis no sentido de soar mais pop do que jazz, propriamente dito, a maioria dos músicos contemporâneos estão sabendo dosar bem essas influências extra-jazzísticas, prezando sempre pela autenticidade: há, enfim, a tal preocupação de buscar por novos standards sem se render demasiadamente à sonoridade sintética do pop, há a preocupação de soar como um novo jazz, bem como de impor uma identidade própria através de uma técnica própria e um repertório próprio, sem desprezar as ricas heranças deixadas pelos mestres. Afinal, quando analisamos os extremos, observamos que tanto o purista ortodoxo que tem ouvidos apenas para a reprodução cristalizada dos tradicionais standards ou apenas para o swing tradicional como aqueles que acham que qualquer música improvisada ou qualquer tema tocado de qualquer jeito em um trompete possa ser considerado jazz, ambos vão se distanciando da realidade e do verdadeiro espírito do jazz e, por conseqüência, se tornam incapazes de acompanhar e/ou aceitar a realidade e evolução do gênero. É preciso valorizar a evolução tanto quanto à tradição e vice-versa, mas também é preciso impor um certo equilíbrio e um certo senso de autenticidade diante da evolução e do ecletismo que guiam o jazz: músicos como Brad Mehldau, Chris Potter, Robert Glasper e Vijay Iyer, em seus mais recentes títulos, mostram o caminho de como fazê-lo. Cliquem nas imagens para acessar informações pertinentes ao assunto.


2 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Grande Vagner,
Muito boa a resenha.
Na verdade, essa confluência do jazz com a música pop sempre existiu, afinal os Irmãos Gershwin, Cole Porter, Jerome Kern, Richard Rodgers, Irving Berlin e outros faziam a música pop da época, que sempre foi apropriada e digerida pelos músicos de jazz.
É claro que não dá para comparar o talento dos atuais compositores com esse pessoal - é como no Brasil, onde nunca mais tivemos um Pixinguinha, um Cartola, um Noel Rosa, um Tom Jobim, apesar dos ótimos compositores que vieram depois.
Mas o material da música pop, sobretudo o produzido pelos instigantes Radiohead, Bjork e outros que fazem uma música mais elaborada, é perfeitamente compatível com o idiona jazzístico.
Brad Mehldau, Chris Potter, Robert Glasper, EST e outros, como você bem disse, estão aí prá provar.
Abração!

Vagner Pitta disse...

Sim caro Érico! Tenho discutido com amigos e um dos consensos é que a música pop de hoje chegou a uma situação tamanha de superficialidade que, na maioria dos casos, não dá pra comparar com o pop dos anos 40 mesmo...Putz, o Gershwin mesmo: o cara compunha canções populares, mas era perito em música erudita e estudava a fundo o blues, as rags, o jazz e o spiritual


Aliás, eu não equipararia Radiohead nem com os Beatles em termos de requinte melódico: os carinhas de Liverpool criaram as mais belas e elaboradas canções que o universo pop já divulgou.


Porém, eu não diria que TODOS os compositores populares de hoje sejam menos talentosos que os do passado: o talento e a coisa bem feita ainda existe, mas a estética mudou (talvez, em termos do pop, se tornou mais simples, assim como o hardbop era mais simples que o bebop)entendeu?... e hoje há menos possibilidade pra inovações...talvez os momentos histórico do passado deram maior chance para inovações do tipo da música de Tom Jobim, por exemplo...


o que quero dizer é que, se não temos mais pixinguinha, temos Guinga

se não temos mais jacob do bandolim, temos Hamilton de Holanda


se não temos mais Raphael Rabelo, temos Yamandu Costa


se não temos mais Beatles, temos Radiohead, Bjork, Norah Jones e tantos outros artistas pop que criam excelentes canções


Eu particularmente não tenho ouvidos antentos para o pop, mas não há como não considerar que o jazz é isso aí: ele sempre fez uso da canção popular...


Abraços Mr. Érico!

Outros Excelentes Sites Informativos (mais sites nas páginas de mídia e links)