Você é sério com a arte? De jornalistas sérios à músicos sérios, de boêmios sérios -- leia-se: um tipo quase extinto de intelectual um tanto vagabundo que não sai dos botecos de jazz -- à filósofos, historiadores e críticos de arte sérios...todos apreciadores, enfim, que são sérios e que fomentam o fascínio pela evolução das artes já questionaram a arte pretensiosa do multiartista americano Andy Warhol (1928-1987), o expoente maior da chamada Pop Art, uma veia artística tão questionável quanto. Inclusive, falando das minhas próprias indagações, a questão que ainda ecoa em minha cabeça, e que deve ser a mesma questão que não quer calar na cabeça de ninguém, é essa:
"Sob quais argumentos reproduzir a imagem de um frasco de sopa Campbell's ou do rosto de um artista famoso -- fazendo, inclusive, apologia ao consumismo, à ícones e marcas do universo pop -- representa uma arte inovadora, propriamente dita, senão pelo viés daqueles já manjados engodos conceituais que tentaram -- e ainda tentam -- explicar vanguardices e, o pior de tudo, tentam dissociar a importância da técnica e da criatividade do processo artístico nas artes modernas?" Mas, se por um lado sua arte é polêmica e questionável, por outro lado seu nome e sua representatividade dentro do universo das artes plásticas e do showbusiness do século XX é, dessa vez sem engodo, bem maior que sua própria obra. Ou seja, há de se convir que a repercussão e influência de Andy Warhol são inquestionáveis dentro e fora do universo artístico -- isso é um fato até mesmo para os que, como eu, questionam a superficialidade das suas pinturas e gravuras em termos estritamentes artísticos.
Exposição de Warhol em São Paulo em 2010
Andy Warhol e o Jazz
Já para a Prestige, Warhol trabalhou em pelo menos em dois álbuns que se tem notícia: um é o disco Trombone by Three, com os trombonistas J.J. Johnson, Kai Winding e Bennie Green; o outro é o album homônimo de Thelonious Monk com a participação de Sonny Rollins e Frank Foster: e o curioso neste trabalho foi que, trabalhando em conjunto com o designer alemão Reid Miles, Warhol solicitou que sua mãe, Julia Warhola, se encarregasse de criar a caligrafia impressa no disco -- há outras capas, inclusive, onde Julia imprime sua caligrafia sob o comando de Miles.
"Sob quais argumentos reproduzir a imagem de um frasco de sopa Campbell's ou do rosto de um artista famoso -- fazendo, inclusive, apologia ao consumismo, à ícones e marcas do universo pop -- representa uma arte inovadora, propriamente dita, senão pelo viés daqueles já manjados engodos conceituais que tentaram -- e ainda tentam -- explicar vanguardices e, o pior de tudo, tentam dissociar a importância da técnica e da criatividade do processo artístico nas artes modernas?" Mas, se por um lado sua arte é polêmica e questionável, por outro lado seu nome e sua representatividade dentro do universo das artes plásticas e do showbusiness do século XX é, dessa vez sem engodo, bem maior que sua própria obra. Ou seja, há de se convir que a repercussão e influência de Andy Warhol são inquestionáveis dentro e fora do universo artístico -- isso é um fato até mesmo para os que, como eu, questionam a superficialidade das suas pinturas e gravuras em termos estritamentes artísticos.
Ora, por que? Andy Warhol transitou entre fashionistas, fez sua carreira em torno de polêmicas, apareceu entre personalidades da política e do mais alto escalão da mídia americana, criou e financiou artistas de renome mundial -- sendo Jean-Michel Basquiat (esse, sim, um gênio da pintura) e a banda The Velvet Underground, dois dos maiores exemplos) --, se embrenhou na produção de vários filmes conceituais que se tornaram preciosidades para cinéfilos e colecionadores vanguardistas e até criou bordões futuristas que ficaram célebres, tais como o "In the future everyone will be famous for fifteen minutes (No futuro, toda a gente será famósa durante quinze minutos)" -- e daí, eu pergunto aos leitores: Essa frase, aliás, não vos lembra era dos reality shows que presenciamos nesse início de século 21, onde meras pessoas comuns são transformadas em "artistas" de um dia para o outro? Pois então, são por essas e outras que eu concordo que Andy Warhol tem, sim, sua relevância e merece estar, sim, pregado na história do século 20 -- mesmo sua obra não tendo 1/3 da relevância -- em termos de se prezar a arte pela arte -- que têm obras magníficas de outros gênios da história das artes plásticas como, por exemplo, Henri Matisse e o próprio Jean-Michel Basquiat, seu protégé. Ademais, na minha opinião, revelar ao mundo o grande talento de Basquiat, foi a maior contribuição de Andy Warhol à arte, propriamente dita. A tese de que Warhol é o artista mais superestimado do século 20 é defendida, inclusive, por um dos maiores especialistas em artes plásticas do planeta, o crítico australiano Robert Hughes.
"Warhol foi uma das pessoas mais chatas que já conheci, pois era do tipo que não tinha nada a dizer. Sua obra também não me toca. Ele até produziu coisas relevantes no começo dos anos 60. Mas, no geral, não tenho dúvidas de que é a reputação mais ridiculamente superestimada do século" Robert Hughes à Veja
Exposição de Warhol em São Paulo em 2010
Quem realmente gosta de Andy Warhol -- e também quem não gosta, mas quis presenciá-lo -- não deve ter perdido a maior exposição das suas obras já promovida na América Latina e que passou com louvor pelo Brasil: trata-se da mstra chamada Andy Warhol, Mr. América, exposição que a Pinacoteca do Estado de São Paulo mostrou a partir do dia 20 de Março de 2010 no espaço Estação Pinacoteca, na Estação da Luz, em São Paulo. Organizada pelo The Andy Warhol Museum, de Pittsburgh, nos Estados Unidos, as obras de Warhol passou por países da como Colômbia e Argentina antes de desembarcar no Brasil. A mostra incluiu um total de 170 obras variadas do artista -- que também fotografava e dirigia filmes. Os destaques, lógico, foram as serigrafias que incluem retratos de Marilyn Monroe, produzidos por Warhol em 1967, das famosas sopas Campbell's, de 1968. Um pouco antes do início da exposição, o MUBE - Museu Brasieiro de Esculturas - promoveu o Ciclo de Filmes de Andy Warhol. As sessões aconteceram todos os sábados do mês de Maio, totalizando oito filmes conceituais do artista, dois longas por sessão. E tentando desmentir as já manjadas impressões que a exposição poderia proporcionar às pessoas, o curador da mostra, o canadense Philip Larratt-Smith, chegou a dizer que "ainda que muitos pensem que o autor da expressão "15 minutos de fama" só retratava a superficialidade do mundo da fama, suas obras refletem a ideologia norte-americana e fazem uma crítica ao narcisismo e ao consumo". O pior, talvez, foi que Andy Warhol, ao apelar para uma arte tão mercadológica e tão superficial em termos artísticos, apenas recriando imagens de ícones e marcas do mundo moderno, acabou por provocar mais apologia ao consumismo e ao narcisimo do que propriamente por combatê-los. Essa mostra mostrou, enfim, o quanto o Brasil -- ainda mais São Paulo -- tem promovido grandes e diversas exposições nesses últimos anos, considerando o grande sucesso que foi a exposição de Henri Matisse em 2009, mostra que incluiu o admirável ciclo de obras chamado Jazz, um trabalho de colagem que faz alusão ao gênero musical, composto na fase final da carreira do mestre fauvista. Quem, enfim, foi mais visitado: o jazz de Henri Matisse ou o pop de Andy Warhol? Eu prefiro Matisse...
Andy Warhol e o Jazz
Mas, considerando o título desse post, qual a ligação que o famigerado Andy Warhol já teve com o jazz? Teria sido ele uma espécie de músico branco renegado que tentou tocar bebop em um trompete, mas não teve sucesso diante das estripulias de negões como Dizzy e Clifford Brown? Não. Muitos não sabem, mas Warhol, antes de entrar na onda da Pop Art, ilustrou várias capas de álbuns de jazz para gravadoras como RCA Victor, Prestige e Blue Note. Quer dizer, ele já estava se destacando no circuito artístico de Nova York desde 1952, quando realizou a sua primeira exposição na Hugo Gallery, os "15 Desenhos baseados nos escritos de Truman Capote", mas como estava num início de carreira, sua tentativa de ganhar algum dinheiro com a arte o levou a se diversificar, trabalhando não só com oportunas exposições, mas criando anúncios para revistas como a Vogue e ilustrando álbuns para gravadoras de jazz. As primeiras capas teriam sido de alguns discos gravados pela RCA Victor: a compilação Booth Feet In The Groove (1959), do clarinetista Artie Shaw; o album I’m Still Swinging do trompetista Joe Newman, com um septeto que incluíam os saxofonistas Al Cohn, Gene Quill e o trombonista Urbie Green; uma outra compilação chamada Progressive Piano, dedicada a mostrar a evolução do piano através de oito pianistas (entre eles Art Tatum e Lennie Tristano); o album Cool Gabriels que trazia uma série de trompetistas ao lado do trio do pianista Elliot Lawrence (entre eles Conte Candoli, Nick Travis, Don Stratton, e Bernie Glow ), gravado pela Groove Records, pequena subsidiária da RCA; e também um album homônimo de Count Basie, gravado no período de 1946 à 1949, numa fase em que o mercado já não era tão receptivo em relação às big bands de Swing: tanto que neste disco, lançado mesmo em 1956, Count Basie aparece com algumas abordagens novas tanto em termos de repertório, arranjos e composição como em termos de formação instrumental, já que ele também aparece com um grupo pequeno, onde se destaca os improvisos do saxtenorista Paul Gonsalves.
Já para a Prestige, Warhol trabalhou em pelo menos em dois álbuns que se tem notícia: um é o disco Trombone by Three, com os trombonistas J.J. Johnson, Kai Winding e Bennie Green; o outro é o album homônimo de Thelonious Monk com a participação de Sonny Rollins e Frank Foster: e o curioso neste trabalho foi que, trabalhando em conjunto com o designer alemão Reid Miles, Warhol solicitou que sua mãe, Julia Warhola, se encarregasse de criar a caligrafia impressa no disco -- há outras capas, inclusive, onde Julia imprime sua caligrafia sob o comando de Miles.
Reid Miles
Em 1956, Reid Miles assumiu o cargo de diretor de arte da Blue Note, levando consigo Andy Warhol. Na legendária gravadora do produtor Alfred Lion e do fotógrafo Francis Wolff, ele trabalhou as capas dos álbuns do guitarrista Kenny Burrell, o homônimo Kenny Burrell e os dois volumes de Blue Lights, lançado em 1958; em paralelo, ilustrou a capa do disco Congregation (1957), último disco de Jhonny Griffin na Blue Note, inspirado no album The Preacher, de Horace Silver. Foi depois dessa fase, então, que o jovem Warhol antenou-se de vez com o movimento da Pop Art, inicialmente uma tendência inglesa. Em 1961, ele realizou a sua primeira obra em série usando as latas da sopa Campbell's como tema, continuando com as garrafas de Coca-Cola e as notas de Dólar; depois, ele pintaria e reproduziria séries de pessoas famosas: de Jacqueline Kennedy a Marilyn Monroe, passando por Mao Tse-tung, Che Guevara ou Elvis Presley. Já com um estúdio chamado The Factory (A Fábrica), a técnica de Andy Warhol baseava-se em pintar fotos em grandes telas com fundos, lábios, sobrancelhas e cabelo berrantes, transferindo depois por serigrafia essas fotografias para outras telas ou outros planos, sugerindo, assim, meios de reprodução em massa ou uma suposta "reprodução industrial" da arte: paródia à massificação das marcas e à fama de pessoas do showbusiness mundial. A partir do final dos anos 60 e seguindo nos anos 70 e 80, voltaria a trabalhar com ilustrações em capas de albuns de rock e pop: além dos primeiros álbuns do The Velvet Underground, Warhol ilustrou capas para os Rolling Stones, para Aretha Franklin, John Lennon, Madonna, dentre outros ícones da música pop.
Um comentário:
Andy Warhol foi mais um retrato da sua época.Concordo com você. E muito obrigado por nos proporcionar curiosidades interessantes. Dessa do Warhol fazer capas de jazz eu não sabia. Eu mesmo tenho o disco Congregation do Johnny Griffin e só agora fui atentar para a arte da capa, não sabia que tinha sido feita pelas mãos de Warhol.
ABS
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