A Orkestrova é um projeto do quarteto de saxofones chamado Rova: uma proposta de música improvisada disposta a trabalhar com várias sonoridades contemporâneas como a eletrônica, o noise, o minimalismo, o experimentalismo, a psicodelia dos instrumentos elétricos e a livre improvisação. Este disco traz essa "orquestra" fazendo uma espécie de homenagem e releitura da obra Ascencion, obra-prima que John coltrane gravou em 1965 -- inspirado no álbum Free Jazz - A Collective Improvisation de Ornette Coleman, este é considerada um dos primeiros e grandes marcos da improvisação livre orquestral. Aqui a Rova Orquestrova reformula a obra de Coltrane no mesmo âmbito da improvisação coletiva, mas com muita carga experimental. Desde o início do projeto em 2006 o Rova Saxophone Quartet teve a colaboração de músicos como Nels Cline, guitarra eléctrica; Jenny Scheinman, violino; Carla Kilhlstedt, violino e efeitos; Andrea Parkins, acordeão e laptop; Marina Rosenfeld, gira-discos e aparelhos; Trevor Dunn, baixo eléctrico; o veterano Andrew Cyrille na bateria; Fred Frith na guitarra, dentre outros músicos americanos e europeus. O Rova Saxophone Quartet formou-se em 1977 em São Francisco, na mesma época em que foi formado o World Saxophone Quartet, também um quarteto de saxofones com proposta de trabalhar o free Jazz e livre improvisação, mas considerado um pouco menos "aventureiro" em relação ao Rova. Esse nome vém do acrônimo dos próprios nomes dos integrantes: Jon Raskin, Larry Ochs, Andrew Voigt and Bruce Ackley. Assim como o World Saxophone Quartet, o Rova Saxophone Quartet é considerado um dos maiores combos da música pós-moderna: a ousadia em transitar por novos terrenos e trabalhar diversas sonoridades e experimentos, faz com que o quarteto seja considerado, especialmente na Europa, um dos grandes pilares da nova música improvisada. Este álbum é uma viagem cheia de efeitos e nuances!
Algumas peças jazzísticas são consideradas sagradas e intocáveis, dado o volume de personalidade própria que os compositores imprimiram nelas: poucos ousaram recriar, por exemplo, as suites Black Saint de Charles Mingus e a A Love Supreme, suite que john Coltrane elaborou em amor a Deus -- e os músicos que ousarem recriar qualquer uma dessas suítes podem estar correndo o risco de, no mínimo, cair no ridículo e, no máximo, criar uma versão razoável, ficando, ainda assim, bem aquém do brilho da versão original. O trompetista, compositor e bandleader Wynton Marsalis prova, no entanto, que ele é uma exceção: ele já recriou obras de Jelly Roll Morton, Duke Ellington, Charles Mingus e Thelonious Monk de forma brilhante como poucos ousaram recriar. E dentre todas as obras relidas por ele, a sua versão da A Love Supreme -- obra espiritual de Coltrane, originalmente gravada em 1964 no formato de quarteto -- foi a que surtiu mais impacto mediante a critica especializada. Um ano seguinte após seu irmão, o saxofonista Branford Marsalis, lançar um interessante DVD no qual seu quarteto revive a suíte A Love Supreme, Wynton Marsalis recriou a peça num contexto ainda mais ousado: trata-se de uma fantástica transcrição da peça para o formato de big band, a Lincoln Center Jazz Orchestra. Ora, se o fato de Branford Marsalis ter “atualizado” a peça na mesma configuração do quarteto de Coltrane já parecera ousado demais para os críticos (visto que, afora o próprio Trane, apenas David Murray tinha sido capaz de interpretá-la na íntegra em 1999 através de um octeto) , o fato de Wynton Marsalis transcrever a peça para o formato de uma big band foi o cúmulo da ousadia. Tanto que um tal crítico da DownBeat chamado John Corbett abominou a idéia da seguinte forma: "na atual cultura de remakes, nada é sagrado, nem mesmo os ícones mais carinhosamente preservados", considerando nociva idéia de "atualizar a obra mais profunda e pessoal de Coltrane, através de um turbulento rearranjo para big band". Sobre a declaração rasa de Corbett, o crítico brasileiro Luiz Orlando Carneiro escreveu: "É evidente que Corbett ouviu a bela homenagem musical de Wynton à obra magna de Trane já com um pré-conceito cristalizado. Se o expert do time da DB estendesse sua visão míope às artes plásticas, condenaria às masmorras dos museus os diversos remakes de Picasso - à sua maneira, é claro - das Niñas de Velasquez, sobretudo a tela de 1957, que se destaca dentre dezenas de quadros e estudos inspirados no mesmo ícone. Picasso deveria ter sido igualmente repreendido por ter 'ousado' reinventar O rapto das Sabinas, do seiscentista Poussin, ou as Mulheres de Argel, de Delacroix. " Já outro crítico da DownBeat, esse chamado John McDonough salientou que a peça de John Coltrane não pode ser tratada como algo intocável, algo religiosamente sagrado ou como a criação máxima do jazz moderno, mas ela poderia e deveria ser recriada por quem tivesse talento, ousadia e genialidade para tanto. A favor de Wynton e contra o bafafá, disse McDonough: "A religião tem modos estranhos de capturar e paralisar a mente. A love supreme, de John Coltrane, de 1964, é um disco muito bom. Mas não é o único ou o maior registro do livro perdido do Novo Testamento. Trata-se de uma série de improvisações sobre riffs simples e, às vezes, até bem curtos. Mas, envolto na camuflagem de uma espiritualidade auto-estilizada, o álbum tornou-se um inesperado objeto de veneração de devotos, gerando um amálgama absurdo de misticismo e beatice sem paralelo no jornalismo jazzístico". Bem... como sempre e mais uma vez, lá estava o famigerado Wynton Marsalis provocando polêmica e sendo malhado na boca dos críticos. Luiz Orlando Carneiro disse ainda: "A inveja e frágeis conceitos de contemporaneidade movimentam uma tropa de choque de críticos modernosos e de jazzmen que se protegem sob o pálio do beyond sempre que Wynton Marsalis lavra mais um tento". Polêmicas a parte, o inflexível Wynton Marsalis dificilmente lançou um trabalho que parecesse ingênuo ou mal composto. Tanto que antes de reescrever a A Love Supreme, Wynton consultou o próprio Elvin Jones, inovador baterista de Coltrane na época da gravação. Segundo o próprio Elvin, que até chegou a formar um quarteto com Wynton para apresentar as quatro partes da suíte em festivais em 2004, o trompetista e compositor criou de forma genial mais "uma obra prima através da obra prima original". Realmente, ninguém precisa ser um expert em música para sentir a genialidade na transcrição de Wynton: tanto os solos de Wynton, como os solos de seus sidemans, bem como os arranjos dos metais, deixam claro a grandiosidade deste disco. Fantástico!
Interstellar Space, gravado em dueto -- Coltrane no sax tenor e Rashied Ali na bateria -- foi um dos últimos álbuns de estúdio gravados pelo mestre antes de sua morte em 1967, sendo só lançado postumamente, pela Impulse! Records em 1974. Trata-se de um clássico da última fase do mestre, essa caracterizada por suas muitas viagens e "estudos" pessoais -- um misto de religiões, filosofias, cosmologia, africanismo, protesto em favor dos direitos civis --, bem como por improvisos nervosos ambientados basicamente na estética do free jazz. Mas Interstellar Space -- como bem salientou o crítico John McDonough, ao falar da A Love Supreme -- apresenta uma característica que foi muito comum em todos os álbuns dessa última fase coltraneana: as composições, os temas, consistem em riffs simples e marcantes, sendo apenas uma base simples para os improvisos torrenciais que viriam a seguir, esses, sim, cerebrais e complexos. Pois bem: foi com o mesmo conceito que a obra foi criada que o guitarrista experimental Nels Cline e o baterista Gregg Bendian aplicaram-lhe esta "releitura", ou seja, usando apenas os riffs como base para improvisações pessoais, cheias de viagens! Mas há, sim, um "Q" coltraneano nas frases nervosas da guitarra de Cline, ainda que ele não tenha a pretensão de fazer uma releitura idêntica -- e o mesmo vale para o baterista Greg Bendian: ele se inspira na bateria nervosa de Rashied Ali, mas isso não soa como uma cópia. Cline, atualmente conhecido guitarrista da banda de indie rock Wilcco e jazzman consagrado pelas revistas Downbeat e JazzTimes, usa e abusa dos muitos efeitos criativos que consegue tirar da sua guitarra. Gregg Bendian atua, além da bateria, com vibrafone e quites de percussão. O álbum é intitulado Interstellar Space Revisited (The Music Of John Coltrane) e foi lançado em 1999, pela Atavistic Records. Visceral! Ouça AQUI!
Interstellar Space, gravado em dueto -- Coltrane no sax tenor e Rashied Ali na bateria -- foi um dos últimos álbuns de estúdio gravados pelo mestre antes de sua morte em 1967, sendo só lançado postumamente, pela Impulse! Records em 1974. Trata-se de um clássico da última fase do mestre, essa caracterizada por suas muitas viagens e "estudos" pessoais -- um misto de religiões, filosofias, cosmologia, africanismo, protesto em favor dos direitos civis --, bem como por improvisos nervosos ambientados basicamente na estética do free jazz. Mas Interstellar Space -- como bem salientou o crítico John McDonough, ao falar da A Love Supreme -- apresenta uma característica que foi muito comum em todos os álbuns dessa última fase coltraneana: as composições, os temas, consistem em riffs simples e marcantes, sendo apenas uma base simples para os improvisos torrenciais que viriam a seguir, esses, sim, cerebrais e complexos. Pois bem: foi com o mesmo conceito que a obra foi criada que o guitarrista experimental Nels Cline e o baterista Gregg Bendian aplicaram-lhe esta "releitura", ou seja, usando apenas os riffs como base para improvisações pessoais, cheias de viagens! Mas há, sim, um "Q" coltraneano nas frases nervosas da guitarra de Cline, ainda que ele não tenha a pretensão de fazer uma releitura idêntica -- e o mesmo vale para o baterista Greg Bendian: ele se inspira na bateria nervosa de Rashied Ali, mas isso não soa como uma cópia. Cline, atualmente conhecido guitarrista da banda de indie rock Wilcco e jazzman consagrado pelas revistas Downbeat e JazzTimes, usa e abusa dos muitos efeitos criativos que consegue tirar da sua guitarra. Gregg Bendian atua, além da bateria, com vibrafone e quites de percussão. O álbum é intitulado Interstellar Space Revisited (The Music Of John Coltrane) e foi lançado em 1999, pela Atavistic Records. Visceral! Ouça AQUI!
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