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José James: fanático por Coltrane, o cantor evoca o espírito soulful dos mestres, usa elementos do hip hop e cria sua própria identidade!


Algumas pessoas que me conhecem, bem como aquelas que já visitam este blog a algum tempo, sabem o quanto sou indiferente em relação à música cantada -- ou, melhor dizendo:  sou um tanto indiferente com a monotonia da música cantada, seja ópera, jazz ou música popular brasileira.  Para mim, qualquer tipo música produzida hoje em dia -- seja ela instrumental ou cantada, nacional ou internacional, jazz ou pop -- tem de apresentar frescor, requinte criativo, contemporaneidade, além do talento técnico e da identidade estética do artista os quais têm de apresentar uma personalidade que fique bem aparente na peça, na obra em geral. Pois bem. Foi ainda em 2009 que conheci José James por meio de uma indicação de um dos leitores do Portal MTV -- desde então, ele foi um dos poucos vocalistas que entraram na minha seleta lista de maiores artistas do jazz contemporâneo. Jazz, soul, hip hop, acid jazz, lounge, drum'n'bass...esse é o caminho trillhado por José James, considerado a nova sensação do jazz vocal atual e um dos cantores de mais difícil rotulagem da cena jazzística de Nova Iorque. Filho de pais panamenhos e crescido em Minneapolis (mesma cidade do trio The Bad Plus), José James (assim mesmo com acento agudo) estudou jazz em New York já meio que numa pegada work in progress, dando duro nos clubes e inferninhos onde um músico não-famoso ainda podia ganhar algum dinheiro. Apesar de ter crescido como um assíduo ouvinte de hip hop, foi já aos 14 anos que José teve seu primeiro encontro com o jazz através de ouvir a faixa "Take a the Train" do compositor Billy Strayhorn e do bandleader Duke Ellington -- e convenhamos: um jovem, crescido sob as sonoridades e modismos do pop e hip hop, chegar a gostar de jazz pelas vias da tradição, bem...isso não é tão comum de acontercer. O choque que o jazz lhe causou foi tão positivo, que ele começou a ficar obcecado pelos mestres: começou a correr atrás de Miles Davis, Billie Holliday, Charlie Parker, entre muitos outros. Mas foi ao ouvir Coltrane que José James teve seu segundo grande choque: desde então, o cantor tem se dedicado a criar letras para as músicas do mítico saxofonista, sendo o standard "Equinox" um dos seus preferidos. Se Norah Jones pegou as vias do country e folk (ou sei lá o que mais), se Jamie Cullum pegou as vias do pop, José James pegou as vias do neo-soul e hip hop para acrescentar seus elementos ao jazz e fazer seu próprio estilo, sem desprezar a tradição.

Após varios e vários anos cantando em bares e clubes americanos, José James só foi ser descoberto e reconhecido na Inglaterra, através de um "olheiro" muito famoso no cenário "dub" inglês: ora, veja se não era o próprio Gilles Peterson, famoso DJ, produtor e colecionador de discos de soul e jazz, um dos grandes nomes do acid jazz, drum'n'bass e música eletrônica inglesa da década de 90. "Ao ver José James cantando eu fiquei estarrecido, pois achava que não haviam mais cantores de jazz assim com as mesmas qualidades e nostalgias dos mestres do passado" -- teria dito Peterson. Aliás, muito mais do que o amor pela tradição, José James tem uma voz rouca de registro médio que é única, bem como as roupagens, os arranjos e as versões que ele dá a velhos standards do jazz ganham um frescor contemporâneo através do uso de elementos do neo-soul e do hip hop. Contudo, José James já mandou um recado à crítica dizendo que não quer ficar reconhecido apenas como um intérprete, mas quer, sobretudo, compor suas próprias canções e impor seu próprio estilo contemporâneo.

E foi essa independência que já ficou evidente em seu primeiro registro. Após assinar com a gravadora Brownswood Records, do DJ Gilles Peterson, José James lançou em 2008 seu primeiro álbum The Dreamer, álbum que faz uma homenagem à concepção de "sonho americano"  idealizado pelo mítico pastor pacifista Martin Luther King, considerado um dos marcos da democracia americana. "I actually got signed to Brownswood Records in London because of my version of John Coltrane's 'Equinox.' That's what [London-based DJ] Gilles Peterson heard. He flipped out. And he said, 'I really want you to do this Coltrane thing" -- falou José em recente entrevista ao canal NPR (National Public Radio).  O álbum traz um quarteto acústico, um convencional piano-trompete-baixo-bateria acrescida da voz sussurrada e única do cantor. A pegada é mais "jazzy", mas há os climas do neo-soul, bem como batidas de hip hop e grooves modernos de funky.

Depois de um período morando na Inglaterra, em  2010 o cantor voltou para invadir New York com sua concepção contemporânea de jazz. Desde então, ele vem se apresentado em muitos lugares do mundo tais como North Sea Jazz Festival, Vitoria Jazz Festival (Espanha), Billboard Live Tokyo, Centro Cultural Sao Paulo (Brasil) e, até recentemente, ele apresentou um tributo a Billy Strayhorn no Jazz at Lincoln Center, templo do jazz regido pelo rígido trompetista e executivo Wynton Marsalis. Para quem estiver interessado em ter um material do cantor em mãos -- ou dar de presente a um amigo ou parceiro  -- um dos seus mais recentes álbuns é o "Blackmagic", com a participação do DJ Mitsu The Beats, da cantora Jordana de Lovely, do trompetista japonês Takuya Kuroda e do DJ Flying Lotus, artista de 28 anos  e  sobrinho da legendária pianista e harpista de jazz Alice Coltrane, esposa de John Coltrane. Neste álbum, José James casa com perfeição a elegância e serenidade da sua voz com os efeitos experimentais impressos pelos eletrônicos de Flying Lotus: o resultado é um jazz vocal já com uma roupagem mais entre o neo-soul e o "lounge", cheio de batidas ao estilo do drum'n'bass e da música eletrônica inglesa, mas com a veia jazzy como prioridade, como a grande gênese e alma do projeto. Além de Coltrane, Billy Strayhorn, Duke Ellington e Billie Holiday, José James também é fascinado por Marvin Gaye, cantor de soul dos anos 60 e 70: isso é algo que também fica bem aparente neste disco. Enfim, trata-se do mais novo jazz e neo-soul enraizado nas origens que se pode ter noticia!!! José James esteve recentemente em festivais e shows pelo Brasil e foi um dos "rising stars" premiados pela votação dos críticos da Downbeat. Clique nas imagens para acessar outros conteúdos a respeito do cantor! Confiram! Assistam os vídeos abaixo:



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