Acaba de chegar ao mercado o quinto disco do guitarrista Michel Leme, não por acaso intitulado simplesmente 5º. Para quem ainda não o conhece, o paulistano Michel Leme é um dos poucos guitarristas brasileiros adeptos à arte literal da improvisação no âmbito do “brazilian jazz” contemporâneo, além de também ser um dos músicos que traduz mais perfeitamente o significado do “músico independente” no Brasil: isso, aliás, é dito não só por sua música – que, apesar de beber das fontes da tradição brasileira, segue independente em suas linhas de composição e de improviso –, mas também por sua trajetória marcada por atitudes que esnobam os padrões impostos pelo mercado fonográfico. Na música e na personalidade de Michel Leme não há submissões – a não ser à seus próprios instintos; não há maquiagens, não há “pose”, fashionismos, engodos ou aquela gordura de glamour com a qual alguns músicos se lubrificam depois de um certo tempo de carreira. No seu estilo de improvisar e frasear também não há convencionalismos, frases pré-construídas ou progressões padronizadas de acordes: essa “liberdade” é, no mínimo, muito interessante em um guitarrista que se estabeleceu através das bases do rock e do “brazilian jazz”, estilo esse que sempre foi muito cadenciado nos ritmos do samba e na harmonia da bossa nova, por exemplo. Michel, ao contrário dos que regurgitam numa linha sempre tradicional, usa e abusa de ritmos tradicionais como samba e o cha-cha-chá (um ritmo latino) sem soar exarcebadamente suingante ou tradicional: suas frases são livres, contemporâneas e chegam a desconstruir, em certa dose ou em determinados momentos, o suingue dos temas.
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Envolto num encarte ilustrado por uma bela aquarela, de autoria da artista plástica Cintia Crelier, o CD traz um material composto por quatro faixas extensas – “Deixem o Coltrane em Paz” (7:09), “Samba dos Excluídos” (9:31), Chica Hermosa (9:35) e Ananda Moy Ma (14:12) –, duas faixas curtas – “Aos Poucos” (5:56) e “3 Notas” (4:05) – e uma faixa bônus em vídeo MPEG chamada “Blues de Ocasião”, diferindo-se, portanto, de alguns lançamentos anteriores de Michel Leme, onde a maioria das faixas são curtas e não há bônus adicionais. Dessa forma, com faixas longas, Michel ganhou muito mais tempo para dinamizar suas músicas e expressar seus improvisos como solista principal na plenitude do seu estilo. Alguns destaques, por exemplo, são: “Deixem o Coltrane em Paz”, faixa onde há algumas frases em referência ao já citado mestre do sax tenor; “Samba dos excluídos (dedicada “para todos que fazem arte de forma sincera”), um samba-jazz que intercala acordes percutidos com linhas bem melódicas, desenvolvendo-se depois em improvisos quase que inteiramentes através de acordes cheios; “Chica Hermosa”, um tema desenvolvido no clima e ritmo do cha-cha-chá, com o qual o guitarrista gosta de expressar seu estilo canastrão e debochado; e “3 Notas”, tema ligeiro com uma pegada meio bop, quase que inteiramente improvisado (dedicado aos fãs internautas). Por fim, o disco termina com a mais extensa das faixas: Ananda Moy Ma (dedicado “aos que buscam a verdade acima das religiões”), é uma faixa cheia de dinâmica – improviso e melodia, forte e piano, por exemplo – dedicada à santa indiana de mesmo nome, de quem Michel emprestou a frase “eu sou tudo o que você achar que sou” para endossar sua indiferença às críticas daqueles que se fecham sob o fórceps do mainstream. Gravado no segundo semestre de 2009, em São Paulo, no Auditório EM&T e no Estúdio Cantareira, o álbum 5º veio para celebrizar e concretizar a carreira e a obra de Michel Leme como uma das mais cruciais para a atual música instrumental brasileira. Clique nas imagens para acessar o site do guitarrista e encomendar seu disco!
Um comentário:
Cara, realmente o Michel Leme não toca, ele brinca com a guitarra e com os caras que tocam com ele. Achei muito louco os improvisus nessas faixa q tão ai pra ouvir. VALeôoo!
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