Rivotrill: a intensidade e bom humor do trio pernambucano

Novidades na Música Instrumental Brasileira! E dessa vez, vinda das mediações de Pernambuco, rico território nordestino: sim, aquele território de clima quente, onde à essa época já estão a rufar os tamborins do frevo com mais intensidade do que em outras épocas do ano, além das regulares toadas, das pisadas ao ritmo do coco, do baião, das bandas de pífanos e toda aquela riqueza cultural que alegra o povo nordestino! E é com pouco tempo de existência e uma vasta e coerente compreensão de música - a começar pela música popular brasileira - que os jovens do trio Rivotrill vem impressionando platéias pelos palcos por onde passam - seja nos palcos nordestinos ou nos palcos sudestinos. Essa vasta compreensão de música ficou bem claro no disco de estréia Curva de Vento, gravado de forma independente e lançado em meados de 2008: trata-se de uma fusão e confusão de rítmos, sonoridades e estilos musicais diversos, todos organizados de forma coerente através de composições que, de tão coesas e bem estruturadas que são, chegam a enganar a idade dos membros do trio - Junior Crato (Sax, Flauta e Teclado) de 26 anos, Rafael Duarte (Contra-baixo) de 21 anos e Lucas dos Prazeres (Percussão) de 22 anos.

Rivotril é um remédio usado por pessoas que sofrem de epilepsia: talvez seja daí que o trio pernambucano tirou o nome Rivotrill (quem sabe através de uma espécie de paródia que surgiu de forma bem humorada, como quando brincamos com os amigos dizendo "putz, cara! você é louco! esqueceu de tomar seu Gardenal?"). E o humor é uma das marcas registradas desse trio formado em meados do ano de 2007. "Fazer música instrumental com bom humor e qualidade": essa é a única concepção musical do Rivotrill. Ou seja, não há apologias à concepções, conceitos ou blindagens estéticas na música do trio pernambucano. Como é de se esperar de qualquer grupo musical que preza as raízes de Pernambuco, as influências nordestinas - folclóricas e armoriais - estão patentes nas faixas de Curva de Vento, mas entre elas há uma infinidades de outras influências que vão da música eletroacústica, batidas afro-brasileiras e afro-cubanas, música experimental, rock psicodélico, MPB até ao Jazz. Dessa forma, aquele conceito de "Música Universal" - tão intensamente pregado pelo alagoano Hermeto Pascoal, O Bruxo dos Sons - é o único aplicável à rica música do Rivotrill.

Curva de Vento - Rivotrill 2008

01 - A casa (part. Naná Vasconcelos)
02 - Chuva Verde
03 - Pirangueiro (part. Yuri Queiroga)
04 - Alaursa quer farinha
05 - Cangote (part. Spok)
06 - Groove tube (part. Naná Vasconcelos)
07 - Curva de vento
08 - Charo cubano (part. Fabinho Costa)
09 - Espinho de mandacaru (part. Renata Rosa)
10 - A floresta e o duende

Produção executiva: Breno Martins Rêgo
Produção musical: Yuri Queiroga e Rivotrill
Técnico de captação: Fumato Snaidefight e Yuri Queiroga
Assistência técnica: Brigídio e Jeff
Mixagem: Fumato Snaidefight, Pablo Lopes e Berna Viera
Masterização: Carlinhos Freitas (Classic Master)
Projeto gráfico: Mooz


Espinho de Mandacaru (c/ Renata Rosa)


Curva de Vento não é só um disco interessante por mostrar uma fusão diversa (e adversa) de rítmos brasileiros com rítmos internacionais, mas o é, sobretudo, pela uniformidade e coesão do trio, que, mesmo nas faixas onde atua sem a colaboração dos convidados, chega a soar como se fosse um grupo de formação bem maior, pela intensidade do som. A flauta transversal de Junior Crato, por exemplo, evidencia um sopro e dedilhado poderosíssimos de forma que não há um momento sequer onde ela seja diminuída pela intensidade de "beats" do conjunto de percussão de Lucas dos Prazeres ou pelo contraponto do baixo elétrico de Rafael Duarte. Há que salientar, portanto, que, apesar de jovens, esses músicos obtiveram boas formações em música: Júnior Crato formou-se pelo Conservatório de Pernambuco e chegou a participar de diversas master-class com os professores Bernat Castillejo (Espanha) e Antonio Carrasqueira (Brasil), além de ter estudado interpretação da música barroca e ter atuado em diversos festivais nordestinos e internacionais, alguns ao lado do flautista e saxofonista Carlos Malta; o contrabaixista Rafael Duarte aos sete anos já tocava trompete na banda marcial do colégio em que estudava, sendo um "meio caminho andado" para seu ingresso no Conservatório Pernambucano aos treze anos; o percussionista Lucas dos Prazeres, por sua vez, teve como tutor Naná Vasconcelos, um dos maiores percussionistas do mundo, com quem gravou o álbum "Chegada" e já percorreu vários países. Ademais, Curva de Vento também é interessante porque traz participações de grandes músicos nordestinos: participam o próprio Naná Vasconcelos, o interessante trompetista Fabinho Costa, o grande maestro e saxofonista Spok (líder da Spok Frevo Orquestra), a cantora Renata Rosa e o produtor Yuri Queiroga, que colabora nos eletrônicos e assina a produção musical junto com o trio.