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Dexter Gordon é um dos saxtenoristas mais cultuados do Jazz. No entanto, ele é um daqueles músicos que, talvez por não ter se definido entre ser de Los Angeles ou ser de Nova Iorque no período de efervescência do Bebop, nem sempre foi lembrado como um dos primeiros e maiores saxtenoristas do gênero que marcou o início da modernidade no Jazz. Ele foi, portanto, um músico que ficou incompreendido, em sua época, por transitar entre dois redutos que tinham diferenças estéticas e raciais entre si: de um lado o cenário fervilhante do Bebop nova-iorquino caracterizado por músicos negros e virtuoses e, do outro lado, a Costa Oeste dos EUA que tinha como expoentes músicos brancos que, apesar de tocarem na mesma linha de fraseado dos virtuoses beboppers negros, tinham lá suas aspirações e peculiaridades no sentido de soarem mais “cool”, mas suaves e mais líricos (lembrando, aí, que, um pouco mais distante dos pequenos formatos conhecido como combos, os músicos brancos também tinham uma maior habilidade para arranjos orquestrais com influência da música erudita). E é aí que está o ponto essencial para entender a figura cult e nostálgica de Dexter Gordon: ele era um músico que podia tanto soar lindamente Cool como podia impressionar com frases nervosas, vôos virtuosos e toda aquela atmosfera bluesy, características essas tão presentes nos sopros dos grandes e virtuoses beboppers.
Um dos músicos que mais admiravam Dexter Gordon, desde sua aparição em Nova Iorque a partir do início dos anos 40, era o já lendário saxtenorista Coleman Hawkins que sempre dizia que o jovem Dexter era seu saxtenorista preferido da nova safra surgida na época. E, talvez, até pode-se dizer que Dexter Gordon, com seu som punjante de sax tenor que mais parecia um sax alto ao chegar no registro médio, foi o “ponto ótimo” entre duas de suas grandes influências: de um lado o excêntrico e estiloso Lester Young e de outro o próprio Coleman Hawkins, um músico que começou a carreira no inicio da década de 20 e, de forma serena e com seu som personalíssimo, foi atravessando as escolas do Swing e Bebop com grande desenvoltura e prestígio. Enfim, só pra se ter uma idéia, a disputa entre Coleman Hawkins e Lester Young, dois dos primeiros grandes tenores da história do Jazz, não obteve paralelo em nenhuma das décadas subseqüentes às décadas de 30 e 40, mais propriamente na fase de transição entre as grandes big bands para os pequenos formatos de bandas.
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A partir de 1962 ele fixa residência na Europa, mais propriamente em Copenhague, chegando alcançar grande sucesso em sua digressão européia e com as gravações para o selo Steeplechase. Mas, nos anos que se seguiram, após aquela breve passagem pelo selo Blue Note no início dos anos 60, Dexter foi ficando novamente “esquecido” nos EUA, chegando a ter um segundo destaque em sua volta para seu país em 1976. Enfim, a sua terceira grande volta como destaque no cenário jazzístico ocorreu em 1986, quando ele foi escalado como ator no filme Round Midnight de Bertrand Tavernier como o protagonista, tendo como desfecho a história de grandes músicos dos anos 40 como Bud Powel, Lester Young, Hawkins e a própria figura injustiçada de Dexter. O filme foi um sucesso de crítica que acabou resultando na indicação de Dexter Gordon para concorrer ao Oscar de Melhor Ator, um grande reconhecimento à sua dramática interpretação de músico e protagonista.
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