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Uma breve restropectiva do Jazz Contemporâneo: do revivalismo às colagens


Jazz Contemporâneo: poucas inovações na estrutura, muitas misturas e colagens.



Ivo Perelman, grande saxofonista brasileiro e um dos expoentes do Free Jazz contemporâneo disse, certa vez, que a arte contemporânea, em especial o Jazz, esta sofrendo uma fase de esgotamento de idéias, assim como a natureza mostra seus desgastes depois de tanta malfeitoria do homem. Essa idéia advém do fato de que, assim como o esgotamento das reservas naturais, o Jazz está passando por uma fase onde não há muito o que experimentar depois das grandes explorações sonoras realizadas nas décadas 60 e 70, obviamente as décadas mais experimentais do Jazz. Daí também temos a explicação para o que disse a pianista Carla Bley quando estava aqui em São Paulo para participar do Tim Festival: a pianista disse, numa entrevista, que o cenário atual é bem mais conservador que o cenário da década de 60, efervescente período do qual participou sendo um dos grandes expoentes da vanguarda jazzística. Então, segundo Perelman, a solução tem sido retrabalhar e resgatar as inovações passadas, de forma que elas formem um conjunto variado de estilos e ferramentas que possam ser úteis para o compositor e músico contemporâneo achar a sua música.


No estudo do Jazz contemporâneo, partindo do grande renascimento do Jazz na década de 80, fica difícil não citar Wynton marsalis, músico que, evidentemente mais conservador (ainda que músico fenomenal e o mais ousado compositor da sua geração), afirmou, categoricamente, que a identidade, originalidade e a história do Jazz foram construídas do início do século XX até meados dos anos 60, quando Ornette Coleman inventou o conceito do Free Jazz. A partir daí, segundo Wynton, os adversos experimentos e a música pop foram responsáveis por afastar o jazz da sua originalidade cultural americana, sendo necessário, então, retomar sua identidade e suas tradições, a fim de que essa autenticidade jazzísitca e décadas de história não se perdessem em meio a tanta invencionice e entretenimento. Esse pensamento é considerado por muitos como um pensamento reacionário que acabou injustiçando épocas e músicos importantes da vanguarda, mas é inegável a força que ele exerceu sobre a maioria dos músicos de Jazz da década de 80 e 90, fazendo de Wynton o maior líder do Jazz das últimas décadas.


Uma breve retrospectiva do Jazz partindo da década de 90 mostra que muitas das críticas que dizem que o “Jazz americano morreu” (Stuart Nicholson) estão totalmente equivocadas, bem como a análise feita Ivo Perelman e Carla Bley são verdadeiras, mas também são igualmente limitadas no explicar do Jazz Contemporâneo, haja vista que um maior exame nos proporcionará encontrar algumas boas novidades que apareceram nas ultimas décadas. Acontece que o Jazz retomou com grande força sua identidade americana a partir de um marco zero, buscando a renovação em suas próprias tradições (Wynton Marsalis), já que a grande torrente de experimentalismo da década de 60 e 70 que acabou abolindo os ingredientes culturais americanos. Enfim, basta entender também que depois dessa retomada as novidades surgiram e irão surgir com passos mais lentos, tendo maior duração entre os períodos artísticos.


Década de 80:

- retomada do bop, período onde nasceu a denominação Neo-Bop para categorizar o moderníssimo som que Wynton Marsalis acabava de lançar em 1981 baseado no mestre do hard bop Art Blakey, em Miles Davis, Freedie Hubbard e Woody Shaw. Alguns críticos chamam essa época de Renascimento do Jazz, justamente porque, o sucesso de Wynton Marsalis possibilitou que uma onda de empresas fonográficas investissem em jovens talentos, retomando assim o espaço que o Jazz tinha no mercado fonográfico em seus tempos mais gloriosos. A Wynton Marsalis é creditado a liderança desses jovens chamados de Young Lions, bem como a responsabilidade pela efervescência do Jazz nesse período.


- nascimento da filosofia de Steve Coleman, o M-Base, sendo inicialmente um conceito que acabou se concretizando em um novo estilo em meados dos anos 80: visou inovar o ritmo, a melodia e harmonia através do encadeamento de funk, free jazz, fusion e as variações bop, além do uso dos mais variáveis “beats” latinos, africanos e etc. Trata-se de uma revolução que faz uso dos compassos compostos, além exigir improvisações e escritas complexas.


- nasce uma nova figura que viria a dar um novo fôlego ao desgastado reduto vanguardista americano: John Zorn, depois de estrear tocando Free Jazz no final da década de 70, começou a fazer misturas de Jazz com Klezmer, música eletrônica, punk rock, além de buscar inspiração no avant-garde europeu e noisecore japonês. Músicos que seguiriam esse movimento chamado de Jazz Punk, foram Bill Frisell, Bill Laswell, Marc Ribot, Dave Douglas, dentre outros. John Zorn também é um dos pioneiros do estilo grindcore e, apesar da sua grande ecleticidade presenciada em suas colagens sonoras, acaba por evidenciar uma indentidade própria e inédita no cenário instrumental americano. John Zorn também fundou o selo Tzadik, o qual é , hoje, um dos maiores selos de música experimental.



Década de 90:

Com a chegada de jovens como Branford Marsalis, James Carter, Antonio Hart, Kenny Garrett, Nicholas Payton, Brad Mehldau e Roy Hargrove, cresce o número do chamados Young Lions, na medida em que se intensifica a filosofia revivalista de Wynton Marsalis que, agora passa a tocar menos aquele Neo-Bop intricado pelo qual se lançara em 1981, abandonando as formas simples de composição (tema-improvisação-tema): assim, Wynton começa a escrever complexas suítes baseado em um cruzamento entre as tradições do Jazz e a música erudita, usando como influências compositores como Duke Ellington, Bela Bartok e Stravinsky. Nessas alturas, Wynton, com a idade de apenas 30 anos, já tinha descoberto e lançado grandes jovens talentos, além de ter sido o co-fundador do programa Jazz at Lincoln Center. O seu sucesso tanto como trompetista de Jazz como de intérprete de música erudita, além de todas as suas críticas ao pop e vanguarda, sua liderança frente aos Young Lions, sua capacidade de lançar músicos , sua ousadia em compor peças grandiosas e, agora, sua evidência como o “ poderoso jovem” diretor artístico do maior centro de Jazz do mundo colocou Wynton numa posição inalcançável: Wynton chega no final da década de 90 com enorme peso e influência sobre o cenário americano, sendo considerado pelas revistas e jornais americanos como uma das 25 personalidades mais influentes da América.

- entre o final da década de 80 e o início da década de 90, começa-se a evidenciar o gênero chamado Jazz-Rap: a partir de misturas de Jazz e Rap feitas pelo grupo Gang Starr, dos grupos Buckshot LeFonque do saxofonista Branford Marsalis, dos grupos Digable Planets, Jazzmatazz, dentre outros. É, hoje, uma das maiores tendências do Jazz Contemporâneo.


- depois da nova geração dos Young Lions surgida com o boom do Neo-Bop na década de 80, o final da década de 90 foi a época em que surgiu mais um novo cenário jazzístico americano: o trompetista Dave Douglas, parceiro de John Zorn e colaborador de músicos vanguardistas, passa a soar mais tradicional para mostrar suas misturas e atingir uma maior atenção da mídia. O sucesso de Dave Douglas – agora visto como um “rival” à altura do conservador Wynton Marsalis – coincidiu com a evidência de uma nova geração de músicos como o clarinetista Don Byron, os pianistas Matthew Shipp e Jason Moran, o vibrafonista Stefon Harris, o pianista e arranjador Uri Caine e o saxofonista Ken Vandermark, um dos músicos a revitalizar o Free Jazz de Chicago. O final da década de 90 e início do novo século XXI caracterizou-se com um possível resgate ao Free Jazz, dessa vez mais composicional e menos abstrato. Além dessa nova geração de músicos americanos houve um grande fortalecimento no cenário mundial com o surgimento de músicos e bandas inovadoras de vários lugares do mundo. Apesar desse cenário ainda ser contemporâneo, alguns críticos já o rotulam como um período que ficará conhecido como Modern Creative.



2000 - 2008

A maior característica para esse cenário contemporâneo é a ambigüidade de estilos, bem como a tendência da composição escrita com o uso de colagens diversas, entre elas podemos destacar o uso das variabilidades da música eletrônica ou de efeitos eletrônicos. Trata-se, portanto, de um cenário onde o termo “vanguarda” entra em desuso enquanto conceito e arte contemporânea, pois a multiculturalidade e as várias abordagens acaba por extinguir a famosa polaridade Vanguarda x Mainstream. Um dos grandes grupos desse cenário a emergir ainda na década de 90 é o Jazz Composers Collective de Nova Iorque, o qual salienta tanto a importância do maistream moderno de Wynton Marsalis quanto as misturas e fusões do Modern Creative. O JCC é um grupo liderado por cinco músicos brancos: o contrabaixista Ben Allison, o saxofonista Ted Nash, o pianista Frank Kimbrough, o saxofonista Michael Blake e o trompetista Ron Horton. Outros grupos de Jazz surgiram com mais ecletismo: podemos citar a banda americana The Bad Plus, a banda alemã The Jazz Pistols, a pianista japoneza Hiromi Uehara, dentre outros. Assim como também surgiram músicos dispostos a continuar a trabalhar dentro das "regras", usando, vez ou outra, aspectos do tanto do pop contemporâneo, como do hip hop ou até mesmo do gospel (como faz Wycliffe Gordon). Além dos já citados, os ultimos novos nomes surgidos no cenario americano são: o pianista Vijay Iyer e o trompetista Ralph Allessi (ambos antenados com o M-Base), o guitarrista Kurt Rosenwinkell, o saxtenorista Seamus Blake, o trombonista Wycliffe Gordon, os bandleaders Maria Schneider e Jason Lindner, os trompetistas Jeremy Pelt e Avishai Cohen, a clarinetista Anat Cohen, o contrabaixista Omer Avital, o altóísta Miguel Zenom, dentre muitos outros.


11 comentários:

Pablito Barros disse...

Vagner, meu caro, o blog é seu e vc fala o que quiser. Leio com uma certa regularidade. Mas já encheu você falar tanto do W. Marsallis. Cara, o jazz estadunidense atual me dá sono...
Ah, ah, ah!
Um abraço e tudo de bom!

Vagner Pitta disse...

...


já encheu?...já mesmo? (risos)...se prepara porque, da minha parte que sou um pesquisador do Jazz das ultimas 3 décadas, ainda vai aparecer muito o nome do Wynton Marsalis por aqui: até porque ele e suas idéias dominaram o cenário nas décadas de 80 e 90, então não tem como falar de Jazz Contemporâneo sem citá-lo...impossivel!


...mas já que está com sono, lhe dou uma dica: vá ouvir a improvisação abstrata de Peter Broztmann. Aposto que com o barulho dele vc não vai durmir nunca (risos)


agora se vc está durmindo ao ouvir jazz americano, tenho que lembrar que ao durmir vc perde muita coisa:


1 - geniais arranjos ( principalmente numa composição de Wynton que é cheia de arranjos geniais e exige sensibilidade auditiva)


2 - harmonias elaboradíssimas ( Brad Mehldau, Wynton Marsalis, Wayne Shorter, Vijay Iyer...enfim a harmonia desses caras me dá até medo!!!)


3 - interações, formações indéditas, diálogos, texturas sonoras interessantes (Michael Blake, Ted Nash, Frank Kimbrough, Ben Allison: os caras usam quarteto de cordas, efeitos eletrônicos e tuba numa mesma composição...sai um som e um diálogo muuuito interessantes)


...enfim, o blog preza pelo anúncio de vários tipos de jazz: americano, japonez, africano...até o noise e experimental...enfim, tudo mesmo!!!


aqui tem o Rubens Akira que é um estudioso do Avant-Garde


tem o Borboletas de Jade que posta umas velharias de Miles e Chet Baker


Tem o Daniel Argentino que posta umas coisas mais populares


e tem eu que fala do jazz norte-americano mais contemporâneo (cenário onde o nome de Wynton Marsalis é importantíssimo)


então, desculpe se o blog não está te agradando!!! rs


Abraços!


...

Pablito Barros disse...

Vagner, poucas coisas são tão saudáveis na vida como algumas boas horas de sono. E sí, se puede! Impossible is nothing!
:-)
De qualquer maneira, gosto de alguns nomes que voce citou.

Anônimo disse...

Olá, Vagner. Em parte concordo com Pablito. Sua postagem é uma retrospectiva da música feita por Wynton Marsalis e não uma retrospectiva do jazz. Acho que Wynton tem coisas muito criativas e a visibilidade dele no cenário musical (e não somente jazzístico) se dá porque transita em diversos circuitos que não exclusivamente o jazz. Isso faz de Wynton um grande músico, mas como jazzman e como todo músico de jazz, tem lá suas limitações.
Também concordo com Pablito quando deixamos de lado a produção jazzy na Europa. O próprio Bröztmann que você cita, sua carreira se consolidou no circuito europeu e somente mais tarde alcançou o outro lado do Atlântico.
Talvez mais que pesquisar o jazz dos último 30 anos, seja interessante para todos nós termos uma visão mais ampla e menos fragmentada do jazz. Isso só será possível quando tivermos a iniciativa e a coragem de redescobrir as sonoridades do tempo em que o jazz ainda nem tinha nome próprio.
Enfim... De qualquer forma, mais uma vez parabenizo-o pelo blog.

Abraço,
Thelonious

Anônimo disse...

...obrigado thelonious ! Essa é a restropectiva do Jazz norte-americano. Inclusive convido a qualquer um dos visitantes que aponte dicas de músicos que poderiam estar nessa retrospectiva (a qual eu não escreví baseado na vida e obra de Wynton Marsalis como pensam ou como disseram que fiz...)


notem que eu citei vários músicos norte-americanos que nem são do mesmo balaio do Wynton, inclusive aqueles que levam o rótulo de vanguardistas como Steve Coleman, Dave Douglas e John Zorn, salientando a devida importância de cada um deles...então, não é nenhuma ode a Wynton Marsalis!!

...mas é claro que o nome de Wynton Marsalis aparece com mais evidência, por razões óbvias! Quem, além dele, dominou o cenário jazzístico americano nas décadas de 80 e 90, ditando a têndencia da revalorização das tradições e descobrindo dezenas de grandes músicos?


quanto aquilo que chamam de Jazz europeu, é preciso considerar algumas relatividades( apesar deste espaço estar aberto a divulgar todo e qualquer tipo de música instrumental e improvisada). Gosto e pesquiso de todos estilos de música instrumental e improvisada, sobretudo da cultura norte-americana. E tenho a convicção que, assim como o choro e o samba são genuinamente brasileiros, o jazz não é um mero estilo músical, mas um estilo de vida americano, uma cultura genuinamente norte-americana. Pra mim o que Brotzman, Evan Parker, John Butcher e aqueles europeus fazem, não é Jazz. Pra mim aquilo é o som deles baseado nas influências das escolas vanguardistas de Viena e Colônia: é música improvisada, música abstrata, eletroacústica e por aí vai - é algo que já faz parte cultura européia. Claro que carrega certas influências do jazz, mas é também é claro que não é Jazz!!!

Contudo, tem europeus que fazem jazz na mesma categoria dos norte-americanos, diferindo apenas em alguns detalhes que são atribuídos às caracteríticas regionais: o ex-trio Esbjorn Svenson, Steffano Bollani, Enrico Rava, Gianluca Petrella, Enrico Pieranunzi e por aí vai!

...a bossa nova tbm está no mundo todo: está no jazz norte-americano, está nos dubs ingleses, e nas casas noturnas de Tóquio. Mas se de repente um rapper ou um produtor de música eletrônica decide usar o rítmo da bossa em seus remixes, isso não quer dizer que eles estejam fazendo bossa-nova - notem que o grupo de música eletrônica Jazzanova usa muito o samba, a bossa-nova e o jazz nas batidas eletrônicas, mas eles não são e nem podem ser rotulado de sambistas e muito menos jazzistas...é uma questão de relacionar o gênero cultural com o seu povo de origem, antes de generalizar e compartimentar tudo dentro de um mesmo estilo.

abraços!

Anônimo disse...

Olá, Vagner.

Você deve conhecer aquela história sobre Louis Armstrong já incansavelmente repetida em livros e documentário sobre o jazz. Perguntaram, certa ocasião, como ele poderia definir o jazz, sendo um ele próprio uma expressão máxima dessa manifestação. Ao que Satchmo respondeu: tudo o que faz bater o pé para acompanhar a melodia.
Claro que há um quê de ingenuidade na fala de Satchmo, pois muita música (ruim, inclusive) feita por aí pode nos fazer bater pé - às vezes, bater o pé com raiva, rs. Mas por outro lado, revela também aquilo que o jazz não é: algo determinado por regras, definições prévias e imposições. O jazz, assim como o mercado que proporciona a ele dimensões megalomaníacas, é algo muito extenso e complexo para apenas ficar restrito entre os pianos de Jelly Roll Morton e Don Pullen ou entre os trompetes de Louis Armstrong e Don Cherry.
Acredite: eu também gostaria que fosse assim, mas não é. O jazz não é exclusivamente delineado pela caracterização impressa dos seus músicos, mas pelo uso arbitrário do naipes que estão a serviço dessa coisa que chamamos jazz. Acho que eu e você já abordamos esse assunto noutra ocasião, foi quando eu tentei demonstrar que o jazz, enquanto elemento que integra um mercado complexo de produção e distribuição musical, é algo que foge das próprias determinações desse jazz enquanto "gênero cultural" e "identidade de um povo". Isso porque essa mesma identidade, na maioria das vezes é formatada pelo próprio mercado e nem percebemos. Afinal, os meios de comunicação estão aí para isso: mostrar, por exemplo, que manifestações culturais regionais como o Boi Bumbá são expressões identitárias do povo brasileiro. Mas e nós aqui do sudeste, quem nem conhecemos ou nos interessamos pelo ritual? Aliás, só o conhecemos em função de certas determinações que escapam do nosso interesse.
E com o jazz não é diferente.
Quanto você denominar as produções jazzíticas européias apenas como "música improvisada", "música abstrata" ou "eletroacústica", pode ser uma classificação que você mesmo utilizou para organizar a sua própria audição. Pois, do ponto de vista técnico estes músicos possuem a mesma inventividade de qualquer outro músico norte-americano. Entretanto, o que você não pode fazer é querer compará-los num escala de aprazimento e identificar qual deles te oferece maior prazer auditivo.
Tudo bem que tais músicos europeus não tem aquilo que você denomina de "identidade" ou "gênero cultural" - que são norte-americanos. Mas eles têm os elementos de suas próprias culturas. Eu, por exemplo, acho fascinante aquilo que o jazz manouche (ou também chamado de jazz cigano) faz com swing. Desde Django, passando por Ludovic Beier, Angelo Debarre os irmãos Rosenberg o jazz manouche é a personificação daquilo que o jazz tem dele próprio: vivacidade. Mas, por outro lado, não desejo que esse jazz manouche se sobreponha a outras formas de produção jazzística só porque ele tem mais swing ou tenha mais ou menos elementos culturais e identitários.
Se esse jazz continuar servindo, como disse Satchmo, para ficar acompanhado com o pé, para mim está ótimo, pois já cumpriu seu destino aqui nesse mundo.
Bom, por ora, é isso. Reafirmo aqui que é sempre bom trocar idéias com você aí no seu blog. Vamos conversando e trocando figurinhas.

Abraço,
Thelonious

Vagner Pitta disse...

conheço essas e outras histórias sobre o início do jazz, e sei que toda arte popular em seu início não surgiu com um rótulo pré-definido: foi algo que foi definido pelo mercado. Porém,isso não anula minha convicção de que nenhuma arte (popular ou elitista) é assim indefidamente fora dos limites de uma estética...o jazz enquanto arte é uma estética musical com características americanas que foge aos limites dos EUA para influenciar outros territórios onde também se faz arte musical: veja que o jazz influenciou a bossa no Brasil, influenciou a música erudita de stravinsky, influenciou as vanguarda européia, influenciou o afro-beat de Fela Kuti e várias estéticas musicais ao redor do mundo. Mas não podemos considerar tudo que foi influenciado pelo jazz de JAZZ como se fosse a mesma estética musical. É como eu disse: se um produtor de música eletrônica usa o samba em seus remixes, isso não quer dizer que ele seja sambista. Cada um é cada um. Também não podemos considerar que jazz é apenas arte, mas é a música de um país, de um povo...é a indentidade cultural de um povo, assim como o Samba, o Baião, o Frevo compõe os elementos da cultura brasileira - seja isso uma determinação etmológica ou mercadológica, não há como dissociar o jazz da cultura americana, assim como também não dá pra chamar o brasileiro Yamandu Costa de músico de jazz, pois ele toca alguma coisa influenciada pelo jazz mas sua formação é a genuinamente e totalmente partir da cultura brasileira.

Não quero dizer que extrangeiros não devam fazer jazz ou misturar várias músicas com jazz, isso é viável e é bem legal. Mas quero considerar apenas que se Samba é um estilo musical genuinamente brasileiro, Jazz é um estilo musical genuinamente americano: uma coisa óbvia!


Shostakovich compôs uma suite baseada em jazz: mas é música erudita, não é jazz! Evan Parker e Derek Bailey tocam magistralmente música improvisada com influências do jazz no disco London Concert: mas é música improvisada, não é jazz. Peter Broztman toca de uma maneira a imitar os ruídos seriais de Stockhausen: é um tipo de música improvisada baseado na música eletroacústica e serial de Stockhausen, com pouquíssimas influencias de Albert Ayler, mas também não é jazz. Wynton Marsalis compôs um quarteto de cordas baseado na música creole e em Stravinsky: é música erudita, com influÊncias do jazz, mas ele mesmo disse que não é jazz.

então, esteticamente, não dá pra falar que Keiji Haino e Peter Broztman fazem jazz - o que não os insenta de criar músicas interessantes...Aliás, essa coisa de rotular os experimentalistas europeus de Jazz também é uma estratégica do próprio mercado europeu para que esses músicos consigam ter um poder de venda maior nas prateleiras, assim como o jazz norte-americano é relativamente bem valorizado no mundo todo.

Outrosim, eu acredito que haja jazz brasileiro, que haja jazz europeu, jazz escandinavo e jazz latino: mas todos usam características naturais da estética norte-americana com a diferença de apenas algumas características rítmicas e harmônicas locais, como o Brazilian Jazz da década de 60 que é um jazz com rítmo e harmonia de samba.

Enfim, eu considero que todo jazz é uma música improvisada, mas nem toda música improvisada é jazz...senão até o chorinho brasileiro seria jazz!

Anônimo disse...

Olá, Vagner.

Tudo o que você tentou expor aqui já ficou demonstrado noutros tópicos abertos por você mesmo em seu blog e onde já pudemos discutir tema semelhante. Sei qual a sua opinião sobre esse assunto, mas se trata apenas de uma opinião. Primeiro, porque essa idéia xenófoba de fazer do jazz uma música simplesmente norte-americana, nem mesmo os próprios músicos de jazz a endossariam. Porque se o próprio jazz caminhasse nos limites daquilo que você denomina "estética musical" (leia-se: valores sócio-identitários nacionais), estaríamos ainda ouvindo Original Dixieland Jazz Band com Nick LaRoca. Evidente que o jazz, assim como blues, são frutos de circunstâncias sociais, históricas e geográficas bastante particulares. Mas seus desenvolvimentos e a sua visibilidade enquanto fenômenos culturais de um grupo social (o que parece realmente interessar no seu argumento) só se deu com a disseminação desse fenômeno fora dos circuitos exclusivamente norte-americano e negro. Você, Vagner, com seus argumentos vai na contra-mão da expansão do próprio jazz. Você que conhece bem a história desse fenômeno cultural sabe que, por exemplo, que a maior parte das platéias do jazz, desde a sua emergência no mundo dos espetáculos musicais e de entretenimento até hoje, sempre foi infelizmente de brancos.
Note bem, não estou suscitando aqui um apartheid musical a partir do jazz, mas temos que reconhecer que quando o jazz deixou de ser "genuinamente norte-americano" ele galgou novos espaços e as comunidades negras de todo mundo se viu respeitada nesse espaço que o próprio jazz e o blues conquistaram no cenário cultural mundial.
E aqui adentro na segunda parte de meu argumento, pois essa idéia (pré-concebida sempre!) de identidade é um falso argumento quando, por exemplo, você cita que "samba é um estilo musical genuinamente brasileiro". Nem o mais ácido dos historiadores da música popular brasileira (José Ramos Tinhorão) afirma isso! Aliás, quando você acha que o samba tornou-se "musica genuinamente brasileira"? Ora, tem data de nascimento e justificativa de um governo que nutria simpatia com o Estado autoritário de Hitler. Aconselho que você dê uma olhada na tese de doutorado de Magno Bissoli, autor de "Caixa Preta: samba e identidade nacional na Era Vargas", que relata o impacto do samba na formação da identidade na sociedade industrial entre 1916e 1945. Genuidade é uma noção que não possui validade quando se discute estética musical. Que manifestações musicais ao redor do mundo tenham elementos identitários que representem regionalidades, isso sem dúvida. Entretanto, a própria regionalidade se constitui em função de uma universalidade que interage inexoravelmente com valores locais - ver Nestor Garcia Canclini.
Tais elementos regionais existem em função de uma alteridade global que impõe limites e cerca tais especificidades. Mas no momento em que se rompe esses limites e transporta-se a regionalidade para um plano da universalidade, a música é do mundo. Da mesma forma o jazz: foi uma música local que conseguiu romper as amarras do nacionalismo e tornou-se ícone e expressão da liberdade máxima de negros e brancos - mesmo que os Adornos de plantão não o aprovem.
Aliás, isso é o que você mesmo afirma ao dizer que "o jazz enquanto arte é uma estética musical com características americanas que foge aos limites dos EUA para influenciar outros territórios". Mas você não leva em consideração que ao mesmo tempo que ele influencia é também influenciado. E ser influenciado por tais regionalidades não pode ser algo a ser temido. Pois, do mesmo modo que os valores regionais se constroem na relação com os valores ditos universais, a recíproca também é verdadeira.
Enfim... pra terminar. O que eu tento dizer seguindo argumentos de
Hobsbawn, Samuel Charters, Joachim Berendt, Gunther Schuller, Leonard Feather, Luiz Orlando Carneiro, Lawrence Koch, Jean Stein, George Simon, Carlos Calado, Barry Ulanov, James L. Collier e outros autores essenciais na biblioteca de qualquer jazzófilo, que o jazz apesar de se constituir como elemento identitário de uma cultura e de uma classe social específica, ele expandiu seus limites e nos alcançou aqui neste país pobre e de terceiro mundo, graças a influência que ele exerceu e na "contaminação" exercida sobre ele.
Entendo seu argumento, Vagner, mas não concordo com ele porque simplesmente limita a compreensão do jazz, pois além de ser um estilo musical (genuíno ou não) ele é também um fenômeno cultural.
Um abraço e continuemos.

Thelonious.

Vagner Pitta disse...

tbm entendo a sua compreensão de jazz e sei que ela é bem fundamentada, mas não concordo com ela porque ao AMPLIAR desse modo a concepção do que pode ser jazz, estaríamos incluindo tantas outras estéticas músicais no conceito de jazz e ao mesmo tempo deslegitimizando essas estéticas que apenas foram influenciados pelo jazz mas não carregam sua gênese cultural que está ligado à história de um povo - o povo norte - americano.


O jazz partiu das influências dos negros, se desenvolveu com os arranjos dos brancos e vem seguindo assim numa espécie de "conflito de idéias" entre os redutos brancos e os redutos negros (para exemplificar basta apenas ler algo sobre o período do cool e west coast - Miles Davis, por exemplo, sempre odiou Chet Baker e, atualmente, Dave Douglas não se bica com Wynton Marsalis)...agora, influências de fora sempre tiveram, mas o jazz americano continua a se desenvolver prezando seus elementos genuínos, mesmo quando é influenciado por elementos que não sejam americanos: por exemplo, Dizzy Gillespie foi um dos primeiros a fundir jazz com música afro-cubana, Miles usou música flamenca com Gil Evans, Duke Ellington usou arranjos sinfônicos ocidentais, Lennie Tristano mostrou as primeiras influências da vanguarda européia, Ornette Coleman seria o cara que inventou a concepção de Free Jazz, mas até ele mesmo nunca deixou de soar americano (note que suas composições sempre trabalha com modulações de blues), e até Wynton Marsalis já afirmou que Ornette Coleman preza o blues e swing), John Coltrane e Pharoah Sanders usou muito da música indiana e , mais recentemente, Steve coleman usou música tibetana, atonalismo e uma salada de influências para compor sua filosofia chamada M-Base e até mesmo Wynton funde música erudita, espanhola e francesa em suas composições : mas todas essas fusões foram e são desenvolvidas sem destoar ou desfuncionalizar os elementos norte-americanos principais: por exemplo, o blues, o groove, o funky, o swing - esses elementos são jazzísticos e são americanos, não são europeus nem latinos.


...conheço bem a polêmica que existe quando se tenta delimitar o que é jazz. Muitos críticos dizem que jazz não é um gênero músical, mas uma manisfestação artística aberta a várias influências. E Eu concordo com isso, desde que se atribua que essa manisfestação artística está ligada ao desenvolvimento cultural do povo norte-americano, é uma invenção norte-americana. Aliás, eu gosto mesmo é de imaginar e curtir a música como sendo apenas Música (como disse Duke Ellington): sem rótulos, determinações estéticas ou fronteiras culturais. Realmente seria uma coisa muito bonita se isso fosse verdade, mas infelizmente não é assim, pois quando vamos estudar vemos que essas diferenciações estéticas existem e sempre existirão: não podemos dissociar a bossa, por exemplo, de ser uma música genuinamente brasileira só porque ela surgiu de um influência do jazz e influenciou o jazz através dos sopros de Stan Getz. Do mesmo modo o Mambo cubano pode e deve ser tocado em vários lugares do mundo ou ser usado por quem quiser, mas ele continuará sendo o mambo de Cuba. É como eu disse: o Jazz é hoje como a música erudita, pois está no mundo todo. Mas não podemos dizer que "o jazz deixou de ser música norte-americana", por mais que ele influencie outras estéticas musicais ou seja influenciado - como ja foi várias vezes e nem por isso deixou de ser jazz.

dizer que o jazz é uma música tocada no mundo todo não é a mesma coisa que dizer que ele deixou de ser norte-americano...o mercado quer que as pessoas pensam assim porque além de ser uma rotulagem fácil, jazz carrega não só o poder de entreter como também uma sofisticação estética. Então, chamar a música de Keiji Haino de "Jazz" é, sem dúvida, uma deliberação mercadológica para elevá-la à picos de vendas que o rótulo "Noise" ou "New Music" não conseguriam alcançar por sí só.


Bom, acabo aqui minhas declarações quanto à esse post...pra não ficar repetitivo, convido-o, em breve, a participar dos coments de um post que estou a escrever ...mais ou menos sobre esse mesmo assunto, só que com mais abrangência.

Abraços Thelonious!

Anônimo disse...

Ok, Meu amigo! Importante é que apesar dos pesares sempre nos enriquecemos com nossos bate-papos. Um abraço, meu camarada!

Thelo

Anônimo disse...

Como musicista posso dizer: Tocamos com alguns detalhes influenciados pelo jazz, MAS não fazemos jazz, como eles fazem NÃO. Tem até um amigo que diz: Podemos tocar jazz brincando no início do ensaio mas na hora de tocar é algo que automático Na hora de tocar o negócio muda, fazemos
o que é genuinamente NOSSO o que "nasceu" aqui.

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