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O estilo chamado hard bop foi desenvolvido por músicos negros em resposta ao cenário dos músicos brancos do estilo cool jazz e do West Coast americano que praticamente passaram a dominar o jazz no início dos anos 50. O hard bop é nada mais do que uma retomada e uma extensão do bebop, linguagem fundada pelo genial saxofonista Charlie Parker e pelo trompetista Dizzy Gillespie em 1945. Porém, no hard bop a “levada”, o “swing”, é quase sempre mais lenta do que no bebop, que já nascera como um estilo muito rápido e que exigia do instrumentista uma capacidade excepcional de tocar uma quantidade absurda de notas abruptas em velocidade. O hard bop, ao contrário do bebop dos anos 40, se formalizou através de andamentos mais lentos e balançantes – até mesmo a ponto de se aproximar muito da dança, do swing, só que numa abordagem mais afro e lenta --, isso porque ele condensou outras influências afro-americanas que foram englobadas no jazz nos anos 50 e que não eram englobadas na primeira versão do bebop nos anos 40: há, portanto, uma maior abordagem das variabilidades harmônicas e melódicas em torno dos “riffs” do blues, gospel e da emergente soul music da época (ou Rhythm'n'blues).
No podcast vocês ouvirão nomes conhecidos que fizeram história a partir do hard bop tais como: Max Roach, Horace Silver, Art Blakey, Miles Davis, John Coltrane, Donald Byrd, Wes Montgomery, Lee Morgan, Lou Donaldson, Hank Mobley, Charles Mingus, dentre outros. Entre os nomes menos tarimbados estão: Lucky Thompson, Gigi Gryce, Eric Dolphy, Oliver Nelson, Booker Little, entre outros. Apesar da preponderância do blues, gospel e soul, também há uma tênue influência afro-latina por meio de rítmos como o calypso, o boogaloo, a salsa e o mambo, haja vista que músicos como Dizzy Gillespie e Art Blakey já vinham adicionando elementos afro-latinos na rítmica tradicional do jazz. Contudo, a maior herança deixada pelo hard bop foi o elemento “funky”, um “beat” (batida) que foi se desenvolvendo e se distanciando do swing tradicional do jazz: dois dos grande pioneiros da "pegada" funky foram o saxofonista Lou Donaldson e o pianista Horace Silver. Nos anos 60, a partir das enérgicas batidas do rock'n'roll (talvez originadas da batida “shuffle” já existente nas levadas das bandas de que englobava variabilidades mais animadas do blues, como o boogie-oogie), da síncopação “funky” já existente no jazz e da espiritualidade do gospel e da soul music (o chamado elemento “spiritual” da música negra americana), o cantor James Brown fundou o gênero conhecido hoje como “Funk”, uma marcação rítmica inicialmente simplificada e marcante que se caracterizou e desenvolveu suas variantes a partir dos anos 70. Já o Soul Jazz é uma versão mais “spiritual” do hard bop, onde o gospel é o que fica mais evidente: os expoentes são os organistas Jimmy Smith, Richard Groove Holmes, o saxofonista Lou Donaldson, o guitarrista Wes Montgomery, entre outros. Essas delimitações – entre bebop, hard bop, soul jazz e funky – foram frutos de anos de desenvolvimento musical, onde vários fatores étnicos, folclóricos e, de um modo geral, culturais, foram protagonistas através dos vários músicos que colaboraram com suas personalidades, inovações e abordagens: portanto é muito difícil, até mesmo para o jazzófilo já “macaco velho”, saber exatamente onde acaba um estilo e se inicia o outro. Mas, apesar de tentarmos, por meio de palavras, definir essas variantes do jazz, o objetivo mesmo é esquecer um pouco dos rótulos e deixar que nossos ouvidos e nossas emoções se encarreguem de definir, pra nós mesmo, o que é o bom e velho jazz. Clique nas imagens para saber mais e/ou acesse nossa sessão de rádio e ouça os outros canais!!!
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