Em comparação com as décadas mais gloriosas do Jazz, as efervescentes décadas de 80 e 90 não foram as melhores para o piano, apesar do surgimento de um número considerável de pianistas talentosos. Quer dizer: dos pianistas que surgiram, pouquíssimos foram capazes de combinar técnica, personalidade própria e criatividade e, por conseqüência, apenas alguns desses merecem ser incluídos no olimpo dos novos e originais criadores do jazz contemporâneo, assim como aconteceu com Horace Silver, Bill Evans, Thelonious Monk, Paul Bley, Cecil taylor e Herbie Hancock, pianistas que, entre as décadas de 50 e 60, foram considerado marcos novos e distintos tanto em termos de criação como em termos de desenvolvimento técnico. Atualmente, após a passagem dos anos 90 do século 20 para este novo século, presencia-se a evidência de uma nova geração de pianistas inovadores como o ex-young lion Brad Mehldau, Matthew Shipp, Jason Moran, Vijay Iyer, além dos revelados mais recentemente como Aaron Parks e Robert Glasper. Porém, muito antes desses, Geri Allen é , realmente, um daqueles pouquíssimos nomes surgidos na década de 80 que merece figurar no olimpo do piano contemporâneo. Aliás, a pianista iniciou a carreira já fazendo parte do moderníssimo movimento M-Base de Steve Coleman. Desde então, Geri Allen foi não só uma das primeiras pianistas a configurar seu fraseado atravez da polirritimia ousada do M-Base, como também foi uma das únicas que soube transitar fluentemente entre a linguagem do free jazz e o maistream com um discurso totalmente próprio e contemporâneo. Tanto que Allen pode ser facilmente considerada uma das primeiras pianistas - senão a primeira dentre todos os pianistas das décadas de 80 e 90 - a imprimir um personalidade prória através de configurar o fraseado pianístico mesclando as estéticas do M-Base e Neo-Bop com o Free jazz, deixando um “meio caminho andado” para que, mais recentemente, pianistas como Jason Moran e Vijay Iyer pudessem dar continuidade através das suas abordagens únicas.
Inicialmente, em 1979, Geri Allen recebeu sua graduação em música na Howard University em Washington. Depois mudou-se para New York para estudar com o grande pianista Kenny Barron, com o qual estudou improvisação alguns meses antes de ir para a University of Pittsburgh, onde adquiriu um mestrado em etnomusicologia. Em 1982, Geri Allen voltou para New York pronta para iniciar sua carreira como pianista de Jazz, sendo confortavelmente abrigada junto ao movimento do M-Base que, capitaneado por Steve Coleman, estaria prestes a se concretizar em uma nova estética em paralelo à enérgica configuração do Neo-Bop já estabelecida pelos Young Lions. Foi a partir desse cenário que Geri Allen passou a ter contato com músicos veteranos do Free Jazz que também participavam dos projetos de Steve Coleman, conseguindo ter a colaboração de Andrew Cyrille e Anthony Cox em seu disco de estréia, The Printmakers, lançado em 1984. Em seguida, Geri Allen formou aquele que, até hoje, é o seu grupo mais elogiado: o seu trio com o contrabaixista Charlie Haden e o baterista Paul Motian.
Já na década de 90, em boa parte deste período, Geri Allen esteve mais antenada à onda neo-tradicionalista dos Young Lions, passando a lançar discos pela Blue Note e Verve. Mas seu discurso pianístico continuava a fugir daquela linearidade óbvia e estritamente tradicional, característica previsível em discursos de pianistas que prezaram por caminhar pelas vias do conservadorismo excessivo. Ao contrário desses, Allen continuou a transitar livremente entre os dois cenários distintos do jazz norte-americano: o neo-tradicionalista e o vanguardista. Em 1993 e 1994 Geri Allen foi nomeada na categoria Talent Deserving Wider Recognition pelos críticos da revista Down Beat, conseguindo se destacar entre todos os pianistas da época. Em 1996 ela gravou com Ornette Coleman e, posteriormente, passou a colaborar com o trompetista Wallace Roney. Enfim, o campo de atuação dessa pianista continuou sendo amplo e diversificado. Além de compositora e educadora, seu nome é um dos mais respeitados entre os pianistas contemporâneos. Entre seus colaboradores já constaram nomes importantes do Free Jazz como Oliver Lake Arthur Blythe, Julius Hemphill, Andrew Cyrille e Lester Bowie, além dos grandes nomes do modern mainstream como Marcus Belgrave, Ron Carter, Tonny Williams, dentre outros. Suas influências passam por Cecil Taylor, Kenny Barron, Andrew Hill McCoy Tyner e Mary Lou Williams. Em 2006, Geri Allen gravou a Zodiac Suite: Revisited, um interessante tributo à pianista Mary Lou Williams a partir da composição original intitulada Zodiac Suíte, gravada pela prestigiada pianista em 1945.
Aqui deixo uma indicação de simples audição e palatável a todos: seu segundo disco lançado pela Blue Note. Lançado em 1990, The Nurturer é o primeiro disco que evidencia a influência neo-tradicionalista dos Young Lions na obra da pianista. Segue abaixo a ficha técnica. Clique no título e baixe!
The Nurturer - Geri Allen 1990
Geri Allen - Piano
Kenny Garrett - Alto Saxophone
Marcus Belgrave - Trumpet, Flugelhorn
Jeff Watts - Drums
Eli Fountain - Percussion
Bass - Robert Hurst
Recorded on 5, 6 January 1990 at Sound On Sound, New York, NY.
Geri Allen - Piano
Kenny Garrett - Alto Saxophone
Marcus Belgrave - Trumpet, Flugelhorn
Jeff Watts - Drums
Eli Fountain - Percussion
Bass - Robert Hurst
Recorded on 5, 6 January 1990 at Sound On Sound, New York, NY.
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