Andrew Hill foi um peculiaríssimo pianista moderno que sofreu um ostracismo de mais 20 anos apartir da década da década de 70, vindo a ser lembrado recentemente com o relançamento de suas obras pela Blue Note e com a gravação de alguns ótimos discos que o firmaram e o confirmaram como um importante pianista dentro da evolução do Jazz Moderno. Tanto que não seria nenhum exagero dizer que Andrew Hill é um dos últimos e mais importantes pianistas do Jazz Moderno: hoje seu estilo influencia pianistas modernistas como Jason Moran e Keith Jarrett, além de ser citado constantemente pelas novas gerações como um modelo a se seguir, ou seja, Hill foi um pianista que inovou o seu instrumento e a abordagem jazzística sem apelar para a absoluta abstração ou abandonar o requinte harmônico e melódico do jazz. E este disco de 1956, que é seu debut como líder em estudio, já mostra um Andrew Hill muito a frente de seu tempo, apesar de ser marcado por standards já tão comuns como So in Love e Body in Soul e outros: o fato é que aqui neste disco de estréia, Andrew Hill já mostra uma abordagem de piano-trio bem peculiar já com aquela levada originada de sua inclinação pela música erudita, caractetística tão aparente em toda sua obra. Os standards aqui são literalmente violados, são elegantementes deformados com mundaças rítmicas e modulações mais "livres", ou seja, em alguns temas o aspecto de balada até perdura mas sempre com variações rítmicas e de uma forma bem peculiar e característica de Hill que é tocar uma tema de jazz como se fosse uma peça impressionista de Debussy. Dessa forma, Andrew Hill nunca soa cansativo, pois num mesmo tema ele combina o rítmo suave de balada, um rítmo mais funky e swingado de Hard Bop trazendo, ao mesmo tempo, atributos da música erudita, costume que herdou de sua inclinação por esse universo e de suas aulas com o seu professor de composição, o maestro e compositor de Música Erudita Moderna Paul Hindemith com o qual estudou entre 1953 a 1955.
O contrabaixista que o acompanha, o distinto Malachi Favors soa como um suporte à altura das modulações de Hill com um timbre que as vezes funde com o piano e outrora parece soar bem contrapontístico. O baterista é James Slaughter, um tanto desconhecido para mim e, acredito, para a maioria dos adeptos ao cenário Hard Bop da época. Mas, enfim, o trio soa muitas vezes bem contrapostístico e bem artístico, ou seja, o som que se ouve aqui é, realmente, uma arte, uma nova abordagem de piano-trio com novas modulações: Hill trabalha diferentes formas rítmicas (muitas vezes soa bem estranho como numa marcação em 6/8 no meio de uma balada) dentro de um mesmo tema combinando lirismo, swing e efeitos timbrísticos com uma fluência espantosa. Para os interessados em pesquisar mais sobre esse interessante pianista, deixarei os links para o site do artista e o site com a resenha desse disco. Mas se pesquisarem mais a fundo verão que Andrew Hill sofreu o mesmo desdém que Thelonious Monk sofrera na era Bebop, ou seja, Hill soava tão estranho que muitos de seus contemporâneos dos anos 60 diziam que sua inspiração erudita não combinava com jazz. Quatro décadas depois, agora em nosso chegado século 21, Andrew Hill mostrou que a sua arte era um dos caminhos a se seguir. Este disco foi gravado pelo selo Fresh Sound em 1956 e foi liberado em 1960. É um disco de lindas baladas que até dá pra ouvir como fundo natalino...
1. So in Love
2. Chiconga
3. Body and Soul
4. Old Devil Moon
5. Spring Is Here
6. Penthouse Party
7. That's All
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3 comentários:
Good piece or archeology! As always, excellent choice.
Thanks
Ola Wagner, mais uma vez vc presta um grande serviço a história verdadeira do jazz, falar sobre Andrew Hill é e primeiro lugar fazer justiça a quem por muito tempo foi injustiçado e esquecido no seu proprio pais e principalmente desconhecido aqui no Brasil pela grande maioria dos musicos que atuam neste cenário, seria importante vc complementar este excelente post
abordando o Black Fire um disco de 1969 o qual seria para alguns uma revolução no jazz da epoca principalmente no que se refere a harmonia,conheci este disco exatamente em 1969 no CANJA um clube voltado para o estudo e audição do jazz em São paulo, no qual o diretor era o pianista Samuel Khuri Jr, juntamente com o nosso Zé Bicão, Nestico, ouviam discos como este e como alguns trabalhos do Coltrane que sequereram considerados por aqui,
falando em injustiça proponho que vc pesquise quem foi Samuel Khuri
e o que representou para a história
do jazz no Brasil, vc verificara que na proporção é semelhante ao que fizeram com o Andrew, grande abraço e parabens mais uma vez, Antonio Panda Gianfratti
Muito obrigado, Gianfratti por nos honrar com sua visita e, mais ainda, com suas dicas e informações: elas já estão devidamente anotadas.
Abraços!
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