"Eu gostaria de fazer um livro com alguns músicos que sinto que foram deixados para trás... Como Kenny Dorham. Muita gente conhece Kenny, mas durante toda sua vida, ele nunca recebeu as honras nem as rosas que deveria ter recebido por tudo o que ele nos deu."
--Jackie McLean
Por JazzMan!
Talvez você nunca tenha ouvido falar no nome Kenny Dorham, mas trata-se de um dos trompetistas mais influentes e talentosos da história do Jazz. Sua pouca popularidade deve-se ao fato de ter sido por muito tempo músico de músicos. No seu currículo, estão registradas participações em bandas de músicos de renome como Dizzy Gillespie, Art Blakey, Bud Powell, Max Roach, Thelonious Monk, Charlie Parker e John Coltrane. Outro fato que pode ter pesado na carreira do trompetista foi seu estilo complexo e a inclinação para outras vertentes, o que o deixava em desvantagem com trompetistas mais evidentes, como Miles Davis, Dizzy Gillespie e Clifford Brown.
Nascido em 1924, no Texas, Dorham começou a tocar piano aos sete anos. Na adolescência, iniciou o estudo de trompete na Wiley College Band com Russell Jacquet. Em 1942, foi recrutado pelo exército, onde tocava com a delegação de boxe. Ao sair do exército, muda-se para Nova York, onde atuou com grandes figurões, como Dizzy Gillespie em 1945, BilIy Eckstine no ano seguinte, com Lionel Hampton em 1947, com Mercer Ellington (filho de Duke) um ano depois e Charlie Parker entre 1948-50, substituindo Miles Davis.
Em 1953, aos 29 anos, gravou Kenny Dorham Quintet, seu primeiro álbum como líder, acompanhado por grandes nomes como Bud Powell (piano), Sonny Stitt (sax alto), Percy Heath (bass), Jimmy Heath (sax tenor) e Kenny Clarke (bateria). Esta gravação já mostrava um músico maduro, mostrando que não estava ali apenas para ser uma sombra de outros músicos. (Foto: Kenny Dorham Quintet - 1953)
Sua complexidade harmônica e a capacidade de fazer melodias marcantes e improvisar eram características que geravam muita admiração em vários músicos, o que gerou um paradigma em sua carreira: pouco conhecido entre o grande público e muito admirado pelas pessoas do seu meio.
É impressionante imaginar que um músico com este talento peculiar teve que fazer "bicos" para sustentar sua família. O dinheiro que vinha do Jazz não era suficiente, o que o obrigou a dividir suas atividades musicais com tarefas extras, como escrever uma coluna na revista Down Beat, vender plantas medicinais e trabalhar em uma refinaria de açúcar.
A partir de 1955, Dorham foi influente em formações que revigoraram o bop e mostrou uma faceta inovadora: aderiu ao estilo “Afro-Cuban Jazz”, misturando elementos latinos e africanos ao seu Jazz. Nesta época, formou o grupo Jazz Messengers com o baterista Art Blakey e o pianista Horace Silver. A formação não durou muito tempo e Dorham saiu para formar o Jazz Prophets que, assim como o Jazz Messengers, serviu de ponte para o lançamento de novos talentos, como Joe Henderson, Kenny Burrell, Herbie Hancock e Tony Williams (os dois últimos tocaram com Dorham antes de tocar com Davis). Ainda em 1955, grava o respeitado LP Afro-Cuban que, como o nome diz, mostra a sua aproximação e amor pelo recém-adotado estilo, que persistiu até os últimos álbuns de sua carreira. Em 1956, substituiu Clifford Brown no Max Roach Quintet, após a morte prematura do trompetista. Em 1957, liderou o mesmo Max Roach Quintet para a gravação de Jazz Contrasts, um memorável registro de 41 minutos, mostrando uma sintonia perfeita de seu trompete com o sax de Sonny Rollins. (Foto: Afro-Cuban - 1955 e Jazz Contrasts - 1957)
No final da década de 50, Dorham se firmou definitivamente na carreira solo, liderando seus próprios Quarteto e Quinteto e gravando obras que hoje são verdadeiras referências. Em 1958, mostrou que além de grande trompetista, tinha autoridade para cantar, gravando Kenny Dorham Sings and Plays: This Is The Moment!. Em 1959, registrou um dueto histórico com o saxofonista Cannonball Adderley, gravando o memorável Blue Spring. (Foto: Kenny Dorham Sings and Plays: This Is The Moment! - 1959)
Esteve no Brasil em 1960, onde se encantou pela “batida” da bossa nova e a diversidade da nossa música. Essa viagem serviu de inspiração direta para álbuns, como Matador, onde toca Prelude de Heitor Villa-Lobos e Una Mas, que incluiu a faixa São Paulo, uma homenagem à cidade. Permaneceu gravando grandes álbuns até a metade dos anos 60, onde também colaborou com os amigos Joe Henderson e Tony Williams, levando-os a gravar uma série de álbuns, como Our Thing, In'n'Out e Page One, este último com a gravação do standard Blue Bossa, mais um investida do trompetista na fonte da música brasileira. (Foto: Una Mas - 1963)
Além de grande músico, Dorham se mostrou engajado nas questões sociais de seu país. Foi consultor da “Harlem Youth Act Anti-Poverty”, programa social para jovens pobres de Nova Iorque. Foi membro do conselho administrativo da New York Neophonic Orchestra antes de sua morte, em 1972, causada por problemas renais que já o atormentavam há algum tempo.
Um comentário:
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é impossível falar do Hard Bop sem tocar no nome de kenny dorham...ele foi o co-fundador do Art blakey Jazz Messengers, um dos grandes fomentadores um dos "pais" do hard bop, junto a Art Blakey e Horace Silver
ótimo post !
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