Depois de um certo tempo sem postar algo mais tradicional, trouxe-vos um disco que por aqui não se encontra nem com a ajuda de todos os deuses. Trata-se de um encontro inusitado que aconteceu em Noruega entre os músicos norte-americanos, o clarinetista Kenny Davern, o saxtenorista Flip Phillips e o saxtenorista norueguês Bjarne Nerem e seu quarteto.
Kenny Davern - clarinet
Flip Philips - tenor sax
Bjarne Nerem - tenor sax
Egil Kapstad - piano
Kare Garnes - bass
Ole Jacob Hansen - drums
Flip Phillips (1915 - 2001) começou a carreira em meados dos anos 30 quando ainda era um adolescente e foi um dos grandes saxtenoristas a surgir nos anos 40 sendo considerado um dos maiores do seu instrumento em sua época: não é novidade quando se encontra o seu nome numa lista de grandes saxtenoristas como Ike Quebec, Illinois Jacquet e Charlie Ventura, todos grandes nomes que transitaram entre os combos do Bebop e as grandes big bands que ainda persistiam em sobreviver com grande sucesso após a decaída das grandes orquestras de jazz em 1940: Flip Phillips, inclusive, foi a estrela maior do saxofone na orquestra de Woody Herman por dois anos (1944-1946) e na Jazz at Philharmonic de Norman Granz (1946-1957). Apesar de não se modernizar, como aconteceu com alguns dos seus contemporâneos como Jimmy Giuffre, Flip Phillips sempre foi muito admirado, pois além de ser um dos maiores saxtenoristas da história do jazz, transitou em vários cenários e estilos: Swing, Bebop, Cool e West Coast. Antes mesmo da consagração de Stan Getz em meados dos anos 40, Flip Phillips já era o saxtenorista branco mais admirado, associado até com Frank Trumbauer, o músico de Chicago considerado não só o primeiro grande solista de sax tenor como um dos primeiros brancos a reinar nos primórdios do Jazz. Flip Phillips que atravessou quase seis décadas de atuação é hoje admirado por grandes contemporâneos como o saxofonista James Carter e Joe Lovano.
Já Kenny Davern nasceu em 1935 e começou a carreira em meados dos anos 50. Apesar de ter começado sua carreira numa data onde o Hard Bop era evidente, Davern optou por ser tradicional, seguindo a escola clássica dos grandes clarinetistas do swing, em geral todos grandes solistas desse instrumento. Por incrível que pareça Kenny Davern sempre disse que sua maior fonte de inspiração era Louis Armstrong, um trompetista ao invés de um dos grandes clarinetistas. Mas Davern decidiu pelo instrumento ao ouvir o grande Pee Wee Russell, revezando, inicialmente, essa preferência com o Barítono, até decidir-se deifitivamente em tocar só a clarineta. Em 1954, após um início na big band de Ralph Flanagan, ele entrou na tradicional banda do trombonista Jack Teagarden, outro grande músico que foi um dos primeiros grandes nomes do seu instrumento e um dos primeiros brancos a reinar nos primórdios do Jazz. Após poucos dias com a banda de Teagarden, Kenny Davern montou uma banda que incluia o pianista Dave Frishberg e o trompetista Johnny Windhurst, todos músicos que numa era já moderna, preferiam por seguir o Jazz tradicional. A troupe de músicos com quem Davern trabalhou nos anos 50 foram quase todos grandes músicos que ou já eram veteranos do jazz tradicional ou jovens músicos que optaram por seguir essa vertente: entre eles Ruby Braff, Wild Bill Davison, Billy Butterfield, Bud Freeman Eddie Condon e muitos outros. Sua carreira seguiu brilhante e tradicional, até que em 1973 ele forma, com seu amigo clarinetista Bob Wilber, o sua mais aventurosa banda chamada Soprano Summit que consistia em dois sax sopranos e uma seção de rítmo. Mas devido considerar o sax soprano um instrumento difícil e moderno, voltou a se dedicar ao tradicional clarinete nos anos posteriores. Em 1987 Kenny Davern foi participar de Festivais na Europa com a New York Jazz Repertory e lá visitou vários países, inclusive a Noruega, onde realizou esta gravação com Flip Phillips. Kenny Davern, apesar de ter se mantido fiel ao jazz tradicional, foi consagrado na era moderna como um dos maiores clarinetistas de todos os tempos.
Uma curiosidade é que ele odiava tocar com microfones: sempre que ia tocar em algum clube desligava o seu microfone e optava por tocar acústico.
Bjarne Nerem foi um dos grandes músicos noruegueses a participar do "início" do Jazz em seu país. Não que o Jazz não existisse, já que as big bands já eram bem populares na Europa. Contudo, devido a Segunda Guerra Mundial, a Noruega, além de ter poucos músicos de Jazz, não desfrutava de nenhuma importação do jazz americano e muito menos de visitas de músicos famosos. Com o final da guerra, esse cenário começou a mudar: vários dos estusiastas do Jazz uniram-se para levantar o estilo nos bares de Oslo. Em pouco tempo a Noruega já era considerado um dos grandes redutos do jazz europeu, atraindo nomes como Count Basie e Dizzy Gillespie. Bjarne Nerem inicicou a carreira logo após o fim da guerra e foi considerado, desde então, um dos maiores saxofonistas do seu país. Alguns des seus discos são encontrados pelo selo Gemini.
Download
Nenhum comentário:
Postar um comentário