O 70º Aniversário da Blue Note
Quando os imigrantes Alfred Lion (judeu naturalizado alemão) e seu amigo de infância Francis Wolff (alemão) fundaram a Blue Note, uma pequena gravadora independente em 1939, talvez eles não previram que aquela seria a maior etiqueta do jazz na história do gênero. E essa grandiosidade não é representada apenas por números comerciais ou rankings de vendas - o que, para os empresários e produtores, é verdadeiramente uma obsessão -, mas, sobretudo, pela linhagem musical da gravadora norte-americana, que praticamente definiu o Jazz Moderno nas décadas de 50 e 60, décadas de ouro do espirituoso Hard bop e do enérgico Free Jazz. Através da Blue Note já foram descobertos e redescobertos musicos que vão de pioneiros como Sidney Bechett à mestres modernos como Wayne Shorter e Herbie Hancock. Aliás, nas décadas de 50 e 60, a Blue Note alcançou status de excelência e vanguardismo justamente através de lançamentos que definiram o Hard bop, o jazz modal e até ajudaram a divulgar o Free Jazz: alguns músicos como Horace Silver, Miles Davis, Donald Byrd, Lee Morgan, John Coltrane, Wayne Shorter e até Ornette Coleman, por exemplo, foram lançados ao sucesso através da gravadora de Alfred Lion.
Quando os imigrantes Alfred Lion (judeu naturalizado alemão) e seu amigo de infância Francis Wolff (alemão) fundaram a Blue Note, uma pequena gravadora independente em 1939, talvez eles não previram que aquela seria a maior etiqueta do jazz na história do gênero. E essa grandiosidade não é representada apenas por números comerciais ou rankings de vendas - o que, para os empresários e produtores, é verdadeiramente uma obsessão -, mas, sobretudo, pela linhagem musical da gravadora norte-americana, que praticamente definiu o Jazz Moderno nas décadas de 50 e 60, décadas de ouro do espirituoso Hard bop e do enérgico Free Jazz. Através da Blue Note já foram descobertos e redescobertos musicos que vão de pioneiros como Sidney Bechett à mestres modernos como Wayne Shorter e Herbie Hancock. Aliás, nas décadas de 50 e 60, a Blue Note alcançou status de excelência e vanguardismo justamente através de lançamentos que definiram o Hard bop, o jazz modal e até ajudaram a divulgar o Free Jazz: alguns músicos como Horace Silver, Miles Davis, Donald Byrd, Lee Morgan, John Coltrane, Wayne Shorter e até Ornette Coleman, por exemplo, foram lançados ao sucesso através da gravadora de Alfred Lion.
O pianista Bill Charlap comenta sobre o projeto Blue Note 7
Atualmente a Blue Note já não é mais um pequeno selo independente, mas caminha para representar um sucesso nos faturamentos da inglesa EMI, um grupo colossal que recentemente mostrou ousadia ao querer compar a americana Warner Music Group. Essa ascenção comercial é creditada ao seu atual presidente Bruce Lundvall, que revitalizou o selo desde que foi contratado pela EMI em 1984. Ora, depois do fracasso do jazz na década de 70 a Blue Note, até essa data de 1984, era praticamente uma parcela morta no grande grupo. Mas Lundvall, numa constante obsessão de resgatar e aumentar o portfólio jazzístico, empreendeu uma verdadeira busca por novos e promissores nomes: desde então a gravadora contratou cantoras e músicos legendários como Diane Reeves, Cassandra Wilson, Joe Lovano, Greg Osby, Anita Baker, Norah Jones, Terence Blanchard e, mais recentemente, Robert Glasper, Lionel Loueke, Wynton Marsalis, Gianluca Petrella, Jason Moran, o contrabaixista Avishai Cohen e o pianista Aaron Parks, duas das mais recentes especulações. Ao considerar que o atual êxito da gravadora segue entre o estrondoso sucesso comercial do jazz-pop de Norah jones - que chegou a vender 5 milhões de cópias num só ano - e o jazz neo-tradicionalista de Wynton Marsalis - que em 2008 alcançou a grande marca de 100 mil cópias com o disco "Willie Nelson e Wynton Marsalis: Two Man with the Blues" - Robert Lundvall diz que a gravadora caminha para definir sua indentidade entre o jazz e "pop sofisticado adulto". O maior desafio da Blue Note, portanto, é como ela pode continuar a ser um selo e gravadora de jazz rentável no atual e gigantesco universo dos negócios fonográficos. E Bruce Lundvall, com 73 anos de idade e perto de se aposentar, responde: "Estendemos nosso alcance além do jazz, mas continuamos fiéis ao gênero. E será desse jeito enquanto eu estiver aqui, com certeza. Com os artistas de jazz sérios você não ganha nem perde ou tem um pequeno lucro. Você mantém os orçamentos na linha, faz o melhor trabalho de marketing que conseguir, e fica com artistas à medida que crescem. Desde que não estejamos seriamente no vermelho, coisa que nunca aconteceu a partir do momento que assumi, ninguém vai dizer: ‘Livre-se desse ou daquele’". Esse sentimento e amor pelo jazz e a intenção de torná-lo um gênero rentável sem deixar de lado a qualidade musical foi uma marca registrada de Alfred Lion, um homem de grande tino comercial e faro músical. Tanto que Lundvall, quando entrou na presidência do selo em 1984, teve que responder a Lion a seguinte pergunta: "Como você fará para promover o jazz e ser comercialmente viável, ao mesmo tempo?". Com a iminente aposentadoria de Lundvall, essa voltou a ser "a pergunta que não quer calar" e já assusta os atuais diretores da Blue Note.
Musicalmente falando, o saxofonnista Greg Osby, incitado a descrever a representatividade da gravadora, disse: "Hoje eu tenho meu próprio selo, mas eu passei 16 anos sob o comando de Bruce Lundvall: ele é o último sobrevivente, é como Clint Eastwood. E a Blue Note...bem, não existe uma gravadora, em nenhum outro lugar do panteão dos selos de jazz, com tamanha majestade ou realeza de linhagem". Embora a afirmação de Osby seja óbvia, a atual indentidade da Blue Note, outrora sinônimo de vanguardismo e inventividade, é rechaçada por alguns dos mais atuais críticos de jazz que ainda tentam empregar o rótulo "Vanguarda" às atuais abordagens minimalistas ou à discos lançados com técnicas que foram impostas à 60 ou 50 anos atrás pelas vanguardas históricas: eles afirmam que a gravadora segue numa linha neo-tradionalista e está aquém da modernidade e sofisticação impostas por gravadoras seminais como a alemã ECM. Como sempre e mais uma vez, os tais críticos, munidos de preconceitos estéticos, fazem mal juízo ao tentar denegrir a gravadora que, além da grande representavidade histórica, prossegue numa fase crescimento musical, lançando ao sucesso grandes e inventivos músicos como Cassandra Wilson, Jason Moran, Gianluca Petrella, Greg Osby e contratando outros como Robert Glasper, Aaron Parks e Avishai Cohen, todos músicos de grande excelência e criatividade na atual esfera do jazz contemporâneo.
Recentemente a Blue Note segue comemorando seus 70 anos de existência com suntuosos eventos e lançamentos em grande estilo através de shows, livros, “merchandising” (tênis, bonés, camisetas e divulgações afins) e até box sets e discos inéditos. A "festinha de aniversário" ocorreu dia 27 de Fevereiro de 2009, no moderno Dizzy’s Club Coca-Cola (um dos quatros espaços pertencente ao Jazz at Lincoln Center, dirigido por Wynton Marsalis) com a presença do próprio Bruce Lundvall que comandou a noite aos solos do legendário saxtenorista Lou Donaldson e ao canto sussurrado da cantora Norah Jones. Além dessa, a Blue Note estendeu suas comemorações com uma longa invasão nos clubes de jazz da Cidade de Nova York e em outras casas de espetáculo: já foram realizados os shows com Lou Donaldson e Dr. Lonnie Smith no “Dizzy’s Club Coca-Cola” e outros artistas como Anita Baker, Terence Blanchard, Bill Charlap, Robert Glasper, Norah Jones, Joe Lovano, Lionel Loueke, Wynton Marsalis, Jason Moran, Willie Nelson, Aaron Parks, Dianne Reeves e Cassandra Wilson se apresentarão (ou já se apresentaram) em locais como “Blue Note Jazz Club’, “Jazz at Lincoln Center”, “Jazz Standard”, “Town Hall” e “Village Vanguard”. Além das comemorações em Nova Iorque, a capital mundial do jazz, a Blue Note terá muitos festivais de jazz dedicadas a ela: já ocorreu, por exemplo, o 6° Festival de Jazz em Portland no Oregon (13 a 22 de Fevereiro) que foi inteiramente dedicado à celebração do selo com o título “Somethin’ Else: Blue Note Records at 70” , apresentando performances de integrantes, do presente e do passado, do elenco da “ Blue Note”, bem como um painel de discussões sobre o legado da gravadora com Bruce Lundvall, Michael Cuscuna e vários jazzistas, escritores e historiadores. E está para acontecer outros festivais que farão parte das homenagens: “ Blue Note Records Festival” na França (30 de Março a 11 de Abril ), “JVC Jazz Festival” em Nova York, Festival Internacional de Jazz de Montreal, “Newport Jazz Festival” em Rhode Island, dentre outros.
Já os lançamentos fonográficos inclui clássicos remasterizados - que dão continuidade à linhagem dos lançamentos da série Rudy Van Gelder (série dedicado ao genial engenheiro de som que masterizou a maioria das grandes pepitas da Blue Note) - e um album inédito com uma formação especial para o aniversário: trata-se do Blue Note 7, disco lançado pela Mosaic (fatia da Blue Note) com a formação de septeto, tendo como integantes Nicholas Payton (trompete), Ravi Coltrane (sax-tenor), Steve Wilson (sax-alto), Bill Charlap (piano), Peter Bernstein (guitarra), Peter Washington (contrabaixo) e Lewis Nash (bateria e direção artística). Nas estatísticas de 2008 os álbuns da série remasterizada que tiveram mais sucesso de venda foram "Blue Train" (John Coltrane,1957), que vendeu 15 mil cópias e "Maiden Voyage" (Herbie Hancock, 1965), que vendeu 10 mil. Esses números até são modestos para catálogos de jazz, mas depois de considerar que esses lançamentos já corresponderam à metade da receita e agora estão perto de um terço, o selo decidiu fazer uma faxina no seu antigo catálogo, deixando de comercializar qualquer título que vendesse menos de 350 cópias em um ano. Os fãs de jazz, por sua vez, ficaram assustados e reclamaram com o fato de títulos significativos estarem na lista, mas os álbuns descartados ainda são oferecidos em formato digital através dos meios da internet. A não perder estão as promoções de catálogo por meio de serviços como iTunes e Rhapsody. Além desses meios, na onda do 70º aniversário, a Amazon apresentou uma série de CDs exclusivos, com mais de 200 títulos fora de circulação. Então, não há desculpas para os fãs iniciantes que queiram conhecer o jazz através dos registros da Blue Note e, muito menos, para os jazzófilos que queiram ampliar suas coleções e/ou adquirir as pepitas mais inéditas do selo.
(Vagner Pitta)
Musicalmente falando, o saxofonnista Greg Osby, incitado a descrever a representatividade da gravadora, disse: "Hoje eu tenho meu próprio selo, mas eu passei 16 anos sob o comando de Bruce Lundvall: ele é o último sobrevivente, é como Clint Eastwood. E a Blue Note...bem, não existe uma gravadora, em nenhum outro lugar do panteão dos selos de jazz, com tamanha majestade ou realeza de linhagem". Embora a afirmação de Osby seja óbvia, a atual indentidade da Blue Note, outrora sinônimo de vanguardismo e inventividade, é rechaçada por alguns dos mais atuais críticos de jazz que ainda tentam empregar o rótulo "Vanguarda" às atuais abordagens minimalistas ou à discos lançados com técnicas que foram impostas à 60 ou 50 anos atrás pelas vanguardas históricas: eles afirmam que a gravadora segue numa linha neo-tradionalista e está aquém da modernidade e sofisticação impostas por gravadoras seminais como a alemã ECM. Como sempre e mais uma vez, os tais críticos, munidos de preconceitos estéticos, fazem mal juízo ao tentar denegrir a gravadora que, além da grande representavidade histórica, prossegue numa fase crescimento musical, lançando ao sucesso grandes e inventivos músicos como Cassandra Wilson, Jason Moran, Gianluca Petrella, Greg Osby e contratando outros como Robert Glasper, Aaron Parks e Avishai Cohen, todos músicos de grande excelência e criatividade na atual esfera do jazz contemporâneo.
Recentemente a Blue Note segue comemorando seus 70 anos de existência com suntuosos eventos e lançamentos em grande estilo através de shows, livros, “merchandising” (tênis, bonés, camisetas e divulgações afins) e até box sets e discos inéditos. A "festinha de aniversário" ocorreu dia 27 de Fevereiro de 2009, no moderno Dizzy’s Club Coca-Cola (um dos quatros espaços pertencente ao Jazz at Lincoln Center, dirigido por Wynton Marsalis) com a presença do próprio Bruce Lundvall que comandou a noite aos solos do legendário saxtenorista Lou Donaldson e ao canto sussurrado da cantora Norah Jones. Além dessa, a Blue Note estendeu suas comemorações com uma longa invasão nos clubes de jazz da Cidade de Nova York e em outras casas de espetáculo: já foram realizados os shows com Lou Donaldson e Dr. Lonnie Smith no “Dizzy’s Club Coca-Cola” e outros artistas como Anita Baker, Terence Blanchard, Bill Charlap, Robert Glasper, Norah Jones, Joe Lovano, Lionel Loueke, Wynton Marsalis, Jason Moran, Willie Nelson, Aaron Parks, Dianne Reeves e Cassandra Wilson se apresentarão (ou já se apresentaram) em locais como “Blue Note Jazz Club’, “Jazz at Lincoln Center”, “Jazz Standard”, “Town Hall” e “Village Vanguard”. Além das comemorações em Nova Iorque, a capital mundial do jazz, a Blue Note terá muitos festivais de jazz dedicadas a ela: já ocorreu, por exemplo, o 6° Festival de Jazz em Portland no Oregon (13 a 22 de Fevereiro) que foi inteiramente dedicado à celebração do selo com o título “Somethin’ Else: Blue Note Records at 70” , apresentando performances de integrantes, do presente e do passado, do elenco da “ Blue Note”, bem como um painel de discussões sobre o legado da gravadora com Bruce Lundvall, Michael Cuscuna e vários jazzistas, escritores e historiadores. E está para acontecer outros festivais que farão parte das homenagens: “ Blue Note Records Festival” na França (30 de Março a 11 de Abril ), “JVC Jazz Festival” em Nova York, Festival Internacional de Jazz de Montreal, “Newport Jazz Festival” em Rhode Island, dentre outros.
Já os lançamentos fonográficos inclui clássicos remasterizados - que dão continuidade à linhagem dos lançamentos da série Rudy Van Gelder (série dedicado ao genial engenheiro de som que masterizou a maioria das grandes pepitas da Blue Note) - e um album inédito com uma formação especial para o aniversário: trata-se do Blue Note 7, disco lançado pela Mosaic (fatia da Blue Note) com a formação de septeto, tendo como integantes Nicholas Payton (trompete), Ravi Coltrane (sax-tenor), Steve Wilson (sax-alto), Bill Charlap (piano), Peter Bernstein (guitarra), Peter Washington (contrabaixo) e Lewis Nash (bateria e direção artística). Nas estatísticas de 2008 os álbuns da série remasterizada que tiveram mais sucesso de venda foram "Blue Train" (John Coltrane,1957), que vendeu 15 mil cópias e "Maiden Voyage" (Herbie Hancock, 1965), que vendeu 10 mil. Esses números até são modestos para catálogos de jazz, mas depois de considerar que esses lançamentos já corresponderam à metade da receita e agora estão perto de um terço, o selo decidiu fazer uma faxina no seu antigo catálogo, deixando de comercializar qualquer título que vendesse menos de 350 cópias em um ano. Os fãs de jazz, por sua vez, ficaram assustados e reclamaram com o fato de títulos significativos estarem na lista, mas os álbuns descartados ainda são oferecidos em formato digital através dos meios da internet. A não perder estão as promoções de catálogo por meio de serviços como iTunes e Rhapsody. Além desses meios, na onda do 70º aniversário, a Amazon apresentou uma série de CDs exclusivos, com mais de 200 títulos fora de circulação. Então, não há desculpas para os fãs iniciantes que queiram conhecer o jazz através dos registros da Blue Note e, muito menos, para os jazzófilos que queiram ampliar suas coleções e/ou adquirir as pepitas mais inéditas do selo.
(Vagner Pitta)
Nenhum comentário:
Postar um comentário