BandCamp - Música Independente!
Bandcamp!
Site do Vagner Pitta: Acervo de jazz: discos e fotos!
Site do Pitta
Siga-nos no twitter: dicas, vídeos, links gerais sobre música!!!
Twitter/Siga-nos!
Confira todos os links que indicamos no Farofa Moderna Links!
Best Albums
Facebook do Vagner Pitta
Grupo no Facebook
Last.Fm - Playlists de Vagner Pitta
last.fm - Playlists
Confira nosso acervo de vídeos!!!
Great Videos!
contato.vagnerpitta@hotmail.com
OBS: Produtores, músicos, escritores e outros que quiserem divulgar no Blog Farofa Moderna, consultem nossas políticas na página ABOUT US e contate-nos.
Para uma melhor visualização do blog, use o navegador Google Chrome/To better view the blog, use the Google Chrome browser

Welcome to Blog Farofa Moderna! Search bellow:

Highlights: ensaios, lançamentos, curiosidades, posts mais lidos e etc

Música Erudita!
Eric Dolphy
Eletronic+Jazz!
London Improvisers
Hamilton de Holanda
Mario Pavone
Lançamentos!
Max Roach!

Views since May/ 2010

Translate

Free Improvisation - O processo de entender, o trajeto da estética e a recente conexão Chicago/ São Paulo/ Londres!!!

London Improvisers Orchestra
Marcio Mattos
Recentemente, nos dias 26/ 27/ 28 e 29 de Maio de 2011, eu participei da Oficina de Improvisação Livre no Centro Cultural São Paulo sob a coordenação do violoncelista Marcio Mattos, artista brasileiro que faz parte do cenário da música improvisada inglesa e é integrante da já legendária London Improvisers Orchestra. Na ocasião, fui assaltado por uma nova compreensão do que é realmente a livre improvisação na condição de músico participante: ou seja, através dos conceitos e das dinâmicas aplicadas na prática, bem como do uso das chamadas técnicas instrumentais extendidas, pude sentir os efeitos, as nuances, os mais diversos, inusitados e inesperados propósitos sonoros que se pode produzir individualmente e em grupo. O meu interesse na arte da improvisação livre já vinha chamuscando desde os primeiros momentos onde, aqui mesmo no blog, comecei a abordar alguns trabalhos no ramo do free jazz, tendo, ainda, a expressiva colaboração do amigo Rubens Akira que já postou dezenas de resenhas sobre álbuns relacionados, bem como suas opiniões musicais. A princípio, para ser sincero, eu tinha algumas ressalvas contrárias a alguns artistas representantes desse gênero de música -- talvez por procurar uma tal coerência rítmica, melódica e harmônica numa arte onde a liberdade é total e que, portanto, dispensa conceitualizações, modelos padronizados de coerência musical ou qualquer outro tipo de metodologia impositiva a qual os modelos de escolas musicais vigentes nos ensinam. Nos últimos dois anos, porém, meus ouvidos começaram a permitir um maior interesse em música moderna, música de vanguarda e música contemporânea em geral -- e o caminho, para tanto, foi percorrido justamente através das minhas pesquisas sobre as reminiscências e os arredores do jazz moderno e contemporâneo: é como se nossos ouvidos, ao se permitirem embrenhar por diversas aventuras sonoras, fossem ficando mais ápitos e ávidos para absorver aquele tipo de música que outrora nos parecia difícil de ouvir, talvez por ser estranha, complexa demais ou até aparentemente simples demais -- e aí, quando você ouve aquele tipo estranho de música com os ouvidos e mente preparados, você acaba massacrando seus próprios preconceitos e pré-conceitos
.

Quer dizer, desde o momento em que me coloquei na situação de pesquisador musical eu tive a noção de que, nessa altura do campeonato em que vivemos, polarizar e estigmatizar a arte da música entre mainstream e vanguarda é uma bobagem a muito tempo ultrapassada -- haja vista a tendência dos músicos e compositores contemporâneos de misturar aspectos das inúmeras tradições musicais com aspectos das técnicaa descobertas e desenvolvidas nas vanguardas da era moderna e contemporânea, iniciadas no século XX --, daí então, a partir do momento em que pesquisei a genialidade de artistas hipercriativos como Ornette Coleman, Igor Stravinsky, Max Roach, Anthony Braxton, Frank Zappa, Hermeto Pascoal, Luciano Berio, John Zorn, Steve Coleman e Alfred Schnittke, ficou ainda mais fácil enchergar a supremacia que a arte da música, assim como outras artes, tem de se desenvolver e evoluir independente de uma cultura comum imposta pela mídia, independente das tendências de verão e independente, mais ainda, dos patéticos conflitos entre os diversos estilos musicais que o mundo moderno criou. Compreender a nova situação da música contemporânea é, portanto, tornar-se um ser humano com uma riqueza enorme nas mãos: a capacidade de enchergar a arte além dos horizontes que a mídia e as escolas tradicionais -- embebecidas do vício de apregoar somente as tradições e tendências de entretenimento -- nos desenhou desde o momento em que aprendemos a ler e a escrever. Para algumas pessoas, essa compreensão acontece rápido, como num susto que lhes fazem acordar e abrir os olhos para uma nova realidade que se afirma por detrás das muralhas entre as quais o sistema nos aprisiona; já para outras pessoas, como foi meu caso, o processo de compreensão acontece aos poucos, o que nos dá a vantagem de aprender mais sobre os diversos estilos e, ao mesmo tempo, expurgar qualquer preconceito da nossa errática consciência; e num caso mais comum, às vezes mais lamentável, a maioria das pessoas, talvez por questões de gostos pessoais ou por razões mercadológicas, preferem não se arriscar por novos mundos além daquele no qual o velho e nefasto sistema lhes aprisionaram. E eu gostaria que algumas dessas pessoas aprisionadas pelo mercado ou por seus próprios medos e preconceitos (ou pré-conceitos) tivessem assistido a performance magnífica do Stellari String Quartet  -- formado pelo violinista Philipp Wachsmann (Inglaterra), pela violista Charlotte Hug (Suiça/ Inglaterra), pelo violoncelista Marcio Mattos (Brasil/ Inglaterra) e pelo contrabaixista John Edwards (Inglaterra) --, a qual presenciei com muito entusiasmo na Sala Jardel Filho, no Centro Cultural São Paulo. Para quem não esteve lá, deixo aqui a entrevista que o grupo deu à web rádio do CCSP, onde se pode ouvir, também, algumas faixas dos álbuns lançados pelo grupo.

Rob Mazureck
Pois bem, é exatamente pelas inúmeras possibilidades contemporâneas que o mais interessante da free improvisation atual já não é apenas a suposta liberdade total de improvisação em si -- já que esse conceito é antigo e já bem conhecido, pois passou a existir prioritariamente desde o momento em que os saxofonistas Ornette Coleman e Eric Dolphy entraram em estúdio em 1959, e com seus respectivos quartetos, para gravar o cacofônico e legendário álbum "Free Jazz" de forma livremente improvisada --, mas o mais interessante é a onda de novas intenções disseminadas pelos improvisadores contemporâneos: ja há muito tempo em que fala-se em criar novos procedimentos, realizar misturas com outros gêneros, em buscar novas cores e dinâmicas e aplicar formas inéditas de manipulação à performance da improvisação -- aspirações essas que, apesar de impor algumas regras, não anulam a liberdade do improvisador no momento da sua performance; ao contrario: elas conferem mais musicalidade e requinte criativo aos músicos, bandas e orquestras de livre improvisação. Seria difícil fazer um desenho sucinto de um determinado mapa da improvisação livre de forma lógica ou metódica, haja vista seu desenvolvimento heterogênio, seus vários níveis e processos que aconteceram em territórios espalhados pelos EUA e pela Europa de forma ilógica e nem sempre sincronizada, mas houve, sim, um desenvolvimento cronológico que partiu da necessidade de rompimento com as tradições impostas do jazz norte-americano nos anos 60 e adentrou ao continente europeu nas décadas posteriores, continuando nos dias de hoje não mais com aquela necessidade e a identidade estrita de ser uma arte para chocar o público e que se fazia contraditória e contradizente em relação a uma situação socio-política específica ou à tradição do jazz, propriamente dito, ou em relação a qualquer outra música já bem disseminada pela mídia, mas agora ela se desenvolve como uma arte madura que caminha em paralelo com as manifestações midiáticas e contemporâneas, apesar do seu inerente aspecto outside e dela continuar relegada ao circuito underground. Ou seja, podemos pensar na improvisação livre como uma vertente libertária, a princípio surgida do free jazz de músicos adeptos a cultura americana do blues e dos direitos civis afro-americanos, tais como Ornette Coleman, Eric Dolphy, John Coltrane, Abert Ayler, Archie Sheep, Anthony Braxton, Art Ensemble of Chicago e etc; depois de comprender essa fase americana, podemos pesquisar a explosiva free improvisation que se desenhou no cenário europeu, essa sim já bem distante de qualquer influência tradicional do blues ou do jazz; mas no caso de alguns músicos que continuaram ou continuam a cultuar a autêntica cultura do jazz, mas foram influenciados por essa liberdade e improvisam livremente sem terem aderido a todas características ou ao movimento dos músicos da free improvisation (como Keith Jarrett, por exemplo), podemos pensar nela como sendo mais um método de improviso do que uma vertente independente; e, por fim, podemos constatar o frescor e as novas cores que improvisadores contemporâneos, como Matthew Shipp, Vijay Iyer, Ken Vandermark, Mats Gustafson, Nels Cline, Satoko Fujii, Mary Halvorson e tantos outros, estão conferindo ao gênero através de miscigenações que englobam até mesmo influências dantes demonizadas por alguns dos primeiros vanguardistas, tais como o pop, o rock e o hip hop. Para nós brasileiros, esses e outros desdobramentos continuariam distantes e desconhecidos se não fossem os esforços de alguns blogueiros, produtores aventureiros e alguns artistas guerreiros que estão tentando criar conexões entre os já avançados redutos dos EUA (mais propriamente Chicago) e da Europa com o recém nascido reduto brasileiro, formado por alguns jovens músicos que, inicialmente graças à tecnologia da internet, começaram a conhecer a improvisação livre. Aqui em São Paulo, ao menos quatro músicos merecem destaque por intermediar essas conexões: o paulistano Antonio Panda Gianfratti e o suíço naturalizado brasileiro Thomas Rohrer (os quais tem sido responsáveis pelo Festival de Improvisação Livre realizado nos espaços do Centro Cultural São Paulo), o violoncelista Marcio Mattos (que ajuda a elaborar oficinas e a trazer improvisadores de Londres, da London Improvisers Orchestra para ministrá-las) e, por fim, não se pode esquecer do bandleader e cornetista Rob Mazureck (que junto ao baterista Maurício Takara e os membros da banda Hurtmold, fixou por aqui o projeto São Paulo Underground no mesmos moldes dos seus projetos em Chicago e baseado em suas experiência com as orquestras Exploding Star Orchestra e Chicago Underground Orchestra). Graças a esses músicos um novo e recente cenário de música improvisada começa a se desenhar em São Paulo. E considerando todas essas conexões, bem como todas as recentes apresentações de improvisadores em São Paulo, podemos dizer que além de músicos paulistanos interessados nessa vertente, também há público ávido em conhecer novos meios de expressão musical: a prova disso é que, recentemente, já aportaram por aqui uma legião de improvisadores americanos e europeus como Matthew Shipp, Ivo Perelman, Hans Koch, Peter Broztmann, Han Benninck, Ken Vandermark, Mats Gustafsson, John Edwards, entre outros.

Hans Koch, Panda Gianfratti, Thomas Rohrer
Pois bem. Citado todo esse processo pelo qual já passou o free jazz até desembocar na independente vertente da free improvisation, também quero enfatizar neste post -- mediante minhas descobertas através da participação na oficina de Marcio Mattos, onde pude conversar com músicos extrangeiros como o violinista inglês Philipp Wachsmann e a suiça violinista Charlotte Hug -- é a atuação das orquestras e coletivos de improvisação, as quais tem vivido momentos muito animadores, para além das atuações solistas dos músicos e das suas formações em duo, trio, quarteto, quinteto e afins. Nos EUA, os coletivos e orquestras são mais apegados à tradição das big bands, por isso existem poucas orquestras que trabalham estritamente no âmbito da improvisação livre, mas há, sim, formações interessantes que trabalham neste âmbito: como, por exemplo, a já citada Exploding Star Orchestra e a Black Earth Ensemble, ambas de Chicago. Na Europa, porém, já existe uma preponderância de orquestras livres: isso desde o momento em que, nos anos 60, o pianista sulafricano Chris McGregor fundou a Brotherhood of Breath na Inglaterra ou desde os primeiros rompantes da explosiva Globe Unity Orchestra, fundada pelo alemão Alexander von Schlippenbach. Nesse aspecto uma figura muito importante nos dias atuais -- e que nem sempre é lembrada na mídia especializada, mas é um das mais influentes entre os redutos progressistas americanos e europeus -- é o trompetista, bandleader e maestro americano Lawrence Butch Morris, o inventor de uma técnica de regência chamada "conduction" que permite manipular toda uma orquestra de livre improvisação -- lembrando que, recentemente, ele esteve no Brasil para se apresentar na Mostra Sesc de Artes com a sua aclamada Nublu Orchestra, conjunto orquestral formado com músicos de vários países (inclusive de São Paulo). Foi graças a Butch Morris, então, que os improvisadores ingleses criaram a London Improvisers Orchestra, uma orquestra de livre improvisação que é considerada um dos mais notáveis conjuntos musicais da Europa. A origem da orquestra data de Novembro de 1997, quando Butch Morris realizou uma turnê na capital inglesa com seu projeto chamado London Skyscraper, organizado pela Contemporary Music Network, importante instituição fomentadora da música contemporânea, atuante desde a década de 70. A princípio, Butch Morris realizou oficinas onde houve o encontro de uma legião de jovens e veteranos improvisadores, o que deu origem ao London Music Collective. Alguns dos músicos ficaram fascinados com o conceito de improvisação livre em grupo aliado aos sinais de condução criados por Butch Morris e resolveram explorar essas novas possibilidades levando adiante o projeto de fundar uma orquestra de improvisação através dos seus próprios esforços: o veterano saxofonista Evan Parker, o multiinstrumentista Steve Beresford e o trompetista Ian Smith foram três dos responsáveis por recrutar os músicos interessados, reunindo um número um grupo de 20 a 30 improvisadores em ensaios públicos mensais no clube Red Rose, processo que deu resultado na London Improvisers Orchestra. A programação da LIO seguiu variadamente de acordo com a disponibilidade e interesse dos músicos e do público até a idéia se consolidar, sendo, desde então, uma porta aberta para diversos músicos, com diferentes experiências e de diversas localidades, conhecer e explorar o universo da livre improvisação: a orquestra recebe colaboração não apenas de músicos ingleses, mas de músicos de outros países como é o caso do violoncelista brasileiro Marcio Mattos, o violoncelista grego Nikos Veliotis e a violista suiça Charlotte Hug, dentre outros. Aberta a convidados diversificados, a orquestra já recebeu, além da presença seminal de Evan Parker, a colaboração de nomes ilustres do ramo da free improvisation, tais como o guitarrista Derek Bailey, o pianista Veryan Weston, o violinista Philipp Wachsmann, o saxofonista John Butcher, o trompetista inglês Harry Beckett, o trompetista americano Wadada Leo Smith, dentre muitos outros. E é baseado nas experiências relacionadas à formação da London Improvisers Orchestra, que músicos brasileiros -- que têm acesso a diversos improvisadores extrageiros e ao cenário da música improvisada americana e européia, tais como Marcio Mattos, Antonio Panda Gianfratti e Thomas Rohrer  - estão procurando esboçar por aqui um cenário para essa expressão musical, sendo São Paulo um dos lugares mais vívidos em relação a   músicos e público interessados. Para quem se interessar em conhecer o catálogo de lançamentos da London Improvisers Orchestra, não pode deixar de dar uma escarafunchada no site do selo Emanem, responsável por muitas gravações interessantes no ramo da improvisação livre. Uma ruidosa e emocionante aventura sonora lhe aguarda!

Nenhum comentário:

Outros Excelentes Sites Informativos (mais sites nas páginas de mídia e links)