A arte é uma consequência da alma humana que não pede licença para brotar em nenhum lugar. Com elegância ou com feiúra . Marginalizada ou legalmente reconhecida. Mais conceitual ou menos conceitual. Enfim: ela simplesmente surge e se faz reconhecer como arte e ponto final. A arte é a expressão da alma do ser humano, o reflexo da sua aspiração e da sua afinidade ou relutância para com o meio terrestre em que ele vive. E uma das expressões artísticas contemporâneas que mais tem fascinado é o grafite, pela sua capacidade de carregar mensagens mais explícitas e pelo volume de criatividade que seus respectivos artistas - a maioria anônimos - tem mostrado nos muros dos grandes centros urbanos e, atualmente, até nas galerias do museus. Sim, queiram ou não, já trata-se de um autêntico nicho artístico, de uma vertente da arte contemporânea rotulada como Arte de Rua ou Street Art, em inglês.
O grafite foi, inicialmente nos anos 70, uma expressão que surgiu como forma de protesto e anarquismo dentro dos redutos do hip hop americano - usando tintas aerosol ou spray, os jovens negros do Bronx costumavam grafitar (ou pixar) mensagens e imagens em muros, prédios e trens do metrô com críticas ao governo e ao sistema como um todo. A partir dos anos 80, o hip hop passou a ser visto não mais como um estilo musical das ruas ou uma música marginal, mas sim um novo estilo que podia ser sofisticado e moldado aos propósitos do mercado como um novo da chamada "cultura de mídia". Se nos EUA até os jovens brancos de classe-média estavam aderindo ao estilo do hip hop, significava que o estilo - e a filosofia como um todo - tinha um grande poder de absorver as aspirações das novas juventudes em qualquer lugar do mundo onde a apreciação musical e as manifestações sociais fossem livres. Foi aí, então, que o rap e hip hop rapidamente se espalharam pelo mundo todo através da globalização, que permitiu com que gravadoras midiáticas - Columbia, Sony, Verve e cia - exportassem-os como as novas propostas de moda e de musica do mundo pop, a partir dos anos 80 e 90. E o grafite, assim como o estilo hip hop de se vestir e a respectiva dança chamada break , foi exportado junto ao rap aos maiores centros do mundo: era como os jovens deveriam se expressar frente à sociedade injusta em que viviam; era o estigma da rebeldia de uma nova juventude prestes ultrapassar o século 21, assim como o rock havia sido nos anos 60 para a juventude da época. No livro A Cultura da Mídia do filósofo americano Douglas Kellner, há capítulos inteiro dedicados aos impactos da cultura pop e da black music, dos cartoons e quadrinhos, da blaxploitation, bem como do grafite, rap e seus afluentes, com menção inclusive do jazz como uma das possíveis fontes de origem junto ao funk, haja vista que o rapper Gill Scott-Heron foi um autêtico músico de jazz em seu início de carreira e, mais tarde, foi considerado um "divisor de águas" para o novo estilo de rhythm'n'poetry que surgiria a partir de meados da década de 70: o rap.
O grafite foi, inicialmente nos anos 70, uma expressão que surgiu como forma de protesto e anarquismo dentro dos redutos do hip hop americano - usando tintas aerosol ou spray, os jovens negros do Bronx costumavam grafitar (ou pixar) mensagens e imagens em muros, prédios e trens do metrô com críticas ao governo e ao sistema como um todo. A partir dos anos 80, o hip hop passou a ser visto não mais como um estilo musical das ruas ou uma música marginal, mas sim um novo estilo que podia ser sofisticado e moldado aos propósitos do mercado como um novo da chamada "cultura de mídia". Se nos EUA até os jovens brancos de classe-média estavam aderindo ao estilo do hip hop, significava que o estilo - e a filosofia como um todo - tinha um grande poder de absorver as aspirações das novas juventudes em qualquer lugar do mundo onde a apreciação musical e as manifestações sociais fossem livres. Foi aí, então, que o rap e hip hop rapidamente se espalharam pelo mundo todo através da globalização, que permitiu com que gravadoras midiáticas - Columbia, Sony, Verve e cia - exportassem-os como as novas propostas de moda e de musica do mundo pop, a partir dos anos 80 e 90. E o grafite, assim como o estilo hip hop de se vestir e a respectiva dança chamada break , foi exportado junto ao rap aos maiores centros do mundo: era como os jovens deveriam se expressar frente à sociedade injusta em que viviam; era o estigma da rebeldia de uma nova juventude prestes ultrapassar o século 21, assim como o rock havia sido nos anos 60 para a juventude da época. No livro A Cultura da Mídia do filósofo americano Douglas Kellner, há capítulos inteiro dedicados aos impactos da cultura pop e da black music, dos cartoons e quadrinhos, da blaxploitation, bem como do grafite, rap e seus afluentes, com menção inclusive do jazz como uma das possíveis fontes de origem junto ao funk, haja vista que o rapper Gill Scott-Heron foi um autêtico músico de jazz em seu início de carreira e, mais tarde, foi considerado um "divisor de águas" para o novo estilo de rhythm'n'poetry que surgiria a partir de meados da década de 70: o rap.
Os Gêmeos
O Grafite - ou grafitti em inglês - também foi se sofisticando na mão de talentosos pixadores de parede nos grandes centros urbanos. As pessoas mais jovens, que cresceram nesses centros, não precisam ser lembradas da má imagem que um pixador de parede tinha - e ainda tem - frente à sociedade: era quase um criminoso. Mas, sem teorias sociais e muito menos leis que pudessem fundamentar a má índole que um pixador de parede pudesse ter, o movimento do grafite foi se expandindo e criando artistas autênticos que deixaram de ser simples pixadores rebeldes para serem autênticos artistas de rua ou os precursores da chamada Street Art - aliás, hoje em dia não só há uma distinção de um autêntico artista de rua em relação à um pixador, como também há rivalidades entre essas duas classes de manisfestantes urbanos: um é artista, o outro um vândalo. E assim como o rap se tornou uma música de mercado e até de pesquisa, o grafite passou a ser visto não mais como uma expressão marginal, mas como uma nova vertente da arte contemporânea, um novo nicho artístico. Trata-se, portanto, de um fenômeno mundial - não é uma especulação. Trata-se de um fato.
Ora, bem antes lá nos anos 80 já ocorrera um fato de sofisticação da arte de rua que ficou mundialmente conhecido: o sucesso do grande pintor Jean-Michel Basquiat, que começou a se expressar com frases e assinaturas nas paredes e metrôs de Nova Iorque e ,logo depois, apadrinhado por Andy Warhol (pioneiro da Pop-Art), chegou com grande sucesso às galerias dos museus de arte moderna, sendo reconhecido como um dos artistas mais originais de todos os tempos. E de uns tempos para cá, então, cada vez mais outros talentosos artistas de rua estão subindo os degraus do reconhecimento midiático e passando a ser contratados por grandes museus e instituições de arte para expor suas pinturas. Inclusive, temos exemplos desse fenômeno aqui mesmo no Brasil: em São Paulo, onde há um relevante pioneirismo do grafite desde o final da década de 70, houve grandes pioneiros do desenvovimento da Street Art: como os artistas paulistanos Allex Valauri e Hudinilson Jr e, mais tarde, Gustavo Pandolfo e Otávio Pandolfo, que assinam como osgêmeos, e Hamilton Yokota, que assina como Titi Freak, foram alguns dos pioneiros do gênero aqui no Brasil.
No caso de Allex Valauri e Hudinilson Jr, a escolha de muros como telas de pintura não foi um reflexo apenas da influencia do hip hop, mas sim uma consequência do estudo às novas formas de se expressar, bem como da necessidade de diversificar a arte e quebrar velhos paradigmas artisticos, impondo outras vias de expressão: os dois artistas trabalhavam com outras expressões como a gravura, a pintura sobre bottons, o uso do papel stencil, adesivos, camisetas e objetos e até foram os pioneiros da pequisa do uso do kitsch dentro do espaço urbano aqui no Brasil. Inclusive eles fizeram parte de um coletivo de artistas trangressores chamado 3NÓS3, que desde o final dos anos 70 já vinham fazendo manifestações como pintar imagens e mensagens em muros da cidade de São Paulo, encapuzar as principais esculturas públicas da cidade com sacos de lixo e escrever mensagens de libertação nas portas das principais galerias de arte: como aconteceu em 1979, quando o grupo deixou um X com fita crepe nas portas das galerias acrescido da mensagem "O que está dentro fica, o que está fora se expande" - era uma petição do reconhecimento à arte performática acabada de surgir nas ruas dos rappers, skatistas, punkers e libertários afins.
Já no caso dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, os osgêmeos, o movimento hip hop paulistano foi o principal ponto de origem à caminhada para a arte que hoje representam. Moradores do bairro paulistano Cambuci, eles passaram a desenvolver um estilo próprio diferente do já tarimbado estilo do grafite americano. Tanto que em meados dos anos 90 eles passaram a ser reconhecidos pelos principais pesquisadores do gênero e, logo após esse reconhecimento, passaram a ser chamados para desenvolver trabalhos em grandes espaços e galerias internacionais. As fachadas da galeria Tate Modern, em Londres, e do castelo de Kelburn, na Escócia, foram ilustratas pelas mãos dos dois artistas de São Paulo que, quando mais jovens, viviam perambulando entre os points do movimento hip hop e as ruas da cidade à procura de muros que pudessem ser ilustrados. No entanto, apesar de surgirem das ruas e do hip hop, eles são sinceros e condizentes quanto à transposição e sofisticação que os talentosos representantes da chamada Street Art vém recebendo: "Ao sairmos das ruas para os museus, o nosso trabalho deixou de ser Street Art. O grafite sempre foi das ruas e nós nunca esperávamos que ele fosse parar nas galerias. Mas foram uma consquência dos trabalhos que ficaram mais sérios e profissionais. Para nós foi uma experiência trabalhar com novos objetos e com novos espaços".
4 comentários:
Desculpe pela resposta não aprofundada, é porquê está bem tarde e confesso que lí a matéria meio de forma corrida, levando em conta mais o título mesmo. Mas uma coisa é fato inegável diante da aceitação do grafitti no circuito comercial das artes, uma questão de mera adaptação para manter o mercado vivo, pois o circuito de consumo médio de arte estava sem saída. O mercado das artes plásticas se tornou tão inecessível e restrito às classes ricas que praticamente já haviam consumido todas as mercadorias de maior valor que estavam à venda e as outras já eram patrimônio de museus. Ainda é muito recente este nicho, mesmo com a publicação de vários livros e documentários. No Brasil o grafitti ainda não chegou aos museus, que ainda tem uma conotação erroneamente de antiguidades. Galerias , mesmo que abram as portas ao pública como os museus, ainda não deixa de ser uma loja.
Um personagem essencial da chamada street art e grafitti, é o artísta Keith Haring, que era amigo de Basquiat.
http://www.haring.com/
valeu por comentar Akira!
na verdade eu escrevi baseado naquele post do seu blog. E como gosto de artes e sempre visito museus e galerias, sempre tou pesquisando...então resolvi falar um pouco da ascenção do grafite aqui no blog. E concordo plenamente com vc: as artes precisam se diversificar mais no Brasil!
Inclusive estou lendo um livro chamado Arte Internacional Brasileira de Tadeu Chiarelli, onde ele indaga:
Há hoje uma arte brasileira ou há uma arte internacional no Brasil?
Mesmo que seja uma tendência internacional o grafite empolga e é uma boa esperança pra quem procura apreciar novas criações!
Araços!
vagner,
apenas agora sobrou tempo pra ler esse post...bacana destacar manifestações e movimentos de arte de rua.
lembro-me do 3nós3,com um trabalho bacanérrimo naquele túnel no final da paulista em direção à av.rebouças...anos 80, talvez?
poraqui, há grafiteiros também...e dos bons...
só que a prefeitura oferece um determinado local(muro)pra exposição durante um tempo pré-definido a cada artista...rs(não sei se se pode considerar street art?)
valeô o post
e poderias indicar alguns blogs de grafiteiros?
abraçsonoros
namaste
sim, claro pituco!
Gosto deste tipo de manifestação...acho um estilo de arte autêntica. Claro que procuro reconhecer se o cara é um artista de rua ou se é um vândalo! rs
Mas acho que é um viés artístico que clamará por sua própria sofisticação! Uma tendência talvez...
Abraços!
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