Seguindo com nossa série retrospectiva de posts sobre os principais músicos de jazz desta primeira década do século 21, eu vos apresento o versátil contrabaixista e compositor Ben Allison, um dos principais músicos a transitar entre as vertentes jazzísticas conhecidas como modern post-bop e modern creative. Residente em Nova Iorque, e nascido em 1966, Allison é um daqueles músicos que, apesar de estarem saindo dos 40 para a casa dos 50 anos de idade, ainda permanecem joviais tanto na aparência física quanto na musica a que se propõe criar. Apesar dele ser pouco conhecido fora dos EUA, ele é indubitavelmente um dos mais notáveis músicos de Nova Iorque, um instigante inovador do jazz contemporâneo, um músico e compositor de voz e estilo únicos que, ano a ano e a cada disco que lança, mostra como e o quanto é possível produzir um jazz jovem, com o rosto do século 21, usando, como influência, resquícios elementares da música popular moderna e pós-moderna: isto é, além dos arranjos e improvisos genuinamente jazzísticos (que vão do estilos post-bop à livre improvisação), suas composições também trazem elementos do rock (vide sonoridades que vão de Beatles até Coldplay e Radiohead, por exemplo), do pop contemporâneo de vertente mais sofisticada (vide sonoridades que se aproximam dos arranjos pop da cantora Björk, por exemplo) e, em alguns álbuns, até tênues citações sonoras de estilos musicais afros, étnicos ou urbanos (rhythm'n'blues, world music, funk, hip hop e reggae, por exemplo). Mas é preciso frisar, contudo, que Ben Allison toca e compõe em favor unicamente do desenvolvimento do jazz: embora em álbuns mais recentes, como Action-Refraction (Palmetto, 2011), ele trabalha em cima de temas de artistas do pop e rock -- temas como "Philadelphia", do roqueiro e cantor folk Neil Young, "We've Only Just Begun", da dupla de soft-rock The Carpenters, e "Missed" da criativa cantora do pop-rock britânico PJ Harvey --, sua contribuição ao jazz contemporâneo não se resume apenas em criar meras releituras instrumentais de temas alheios; o barato dele é compor temas originais onde ele usa, como já citado, elementos musicais modernos e pós-modernos do pop e do rock contemporâneos, mas os quais, ao final do processo de arranjo e improviso, convertem-se em temas genuinamente jazzísticos, com fraseados e grooves (pegadas rítmicas) que desafiam classificações.
Ben Allison & Medicine Wheel - Buzz
Com uma dezena de discos lançados em sua carreira solo, a maioria deles pelo ótimo selo Palmetto Records, pode-se dizer que Ben Allison não só já impôs sua voz única, mas também segue primorosamente como um dos grandes músicos a ditarem o futuro do jazz – não à toa, ele já foi relacionado, pela aclamada revista Downbeat, na categoria "25 Rising Jazz Stars for the Future", ou seja, um dos 25 novos músicos mais importantes para o futuro do gênero. Trabalhando sempre com instrumentos acústicos, suas bandas e grupos, além de serem nomeados com títulos inusitados -- tais como a Medicine Wheel e a Man Size Safe, duas das suas principais bandas --, alguns deles são constituídos de variadas combinações instrumentais que fogem dos padrões de combos do jazz moderno, tais como os convencionais trios (piano, baixo e bateria), quartetos (sax, piano, baixo e bateria), quintetos (trompete, sax, piano, baixo e bateria), entre outros combos padronizados. Com idéias instigantes impressas em cada um dos seus álbuns, podemos dizer que todos seus lançamentos nesta primeira década do século 21 são obrigatórios – principalmente para ouvintes mais aventureiros que gostam de prestar atenção nas minúcias, nos detalhes de uma música elaboradamente composta. Porém, indico apenas quatro álbuns de Allison – e deixo faixas de dois deles para audição aqui no blog – os quais possuo e acredito serem indispensáveis: Peace Pipe (Palmetto, 2002), álbum de temas belos e agradáveis, com destaque para a atuação exótica do músico africano Mamadou Diabate, tocador de kora, uma espécie de harpa africana; Buzz (Palmetto, 2004), álbum com a sua banda Medicine Wheel, onde se encontra uma versão da canção Across the Universe (Paul McCartney, Beatles) e algumas das suas mais interessantes composições; Cawboy Justice (Palmetto, 2006), onde ele faz um protesto sonoro, através de climas de melancolia sarcástica, contra a controversa política americana à época da administração de George Bush; e, por fim, o fantástico álbum Think Free (Palmetto, 2009), onde ele mais se aproxima, de forma sofisticada e simples, das texturas do pop e do rock contemporâneos através de uma inusitada banda constituída de trompete, violino, bateria, contrabaixo e uma guitarra levemente eletrificada.
Kramer vs. Kramer vs. Godzilla
Ben Allison (contrabaixo), Steve Cardenas (guitarra); Jenny Scheinman (violino); Shane Endsley (trompete); Rudy Royston (bateria).
Ademais, Allison não é elogiado apenas por causa da suas composições geniais ou por causa dos seus grupos e bandas de formações anti-convencionais, mas também por causa dos seus projetos que são caracterizados por um certo ativismo musical e educacional. Na década de 90, por exemplo, ele fundou projetos importantes que fizeram e ainda fazem sucesso na crítica especializada de Nova Iorque: um deles é o Jazz Composers Collective (coletivo de músicos e compositores aventureiros formado pelos saxofonistas Ted Nash e Michael Blake, pelo trompetista Ron Horton e pelo pianista Frank Kimbrough – os quais, inclusive, estiveram no Brasil, em São Paulo, em 2006), um projeto sem fins lucrativos que visa fomentar e apoiar a criatividade através de concertos, composições e workshops em favor de um jazz mais contemporâneo e rebuscado; já o outro deles, é o Herbie Nichols Project, projeto que visou resgatar as geniais composições do esquecido pianista Herbie Nichols (1919-1963) em versões contemporâneas -- vide os álbuns Love is Proximity (Soul Note, 1997), Dr Cyclop's Dream (Soul Note, 1999) e Strange City (2001, Palmetto Records). Então, galera, aqui está esta breve resenha com um panorama resumido da obra e do estilo desse grande contrabaixista e compositor chamado bem Allison. Clique nas imagens para acessar outras fontes de informação ou comprar os álbuns sugeridos. Conheçam-no!!!
Um comentário:
Que dica excelente. Não conhecia esse baixista ainda, mais ao ler as resenhas fiquei interessado em conhecer melhor o som dele.
Obrigado pela dica.
Abraço
Daniel
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