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A desconhecida arte do piano-trio de Herbie Nichols

Herbie Nichols: voz própria, improvisações angulares e ostracismo.

Absolutamente, Monk não é o único pianista de toque singular no jazz, mas sim apenas o mais mitológico deles. E a arte do piano-trio de Bill Evans - a cultuada interatividade entre piano, bateria e baixo - não é a mais rebuscada, mas sim apenas a mais famosa. Ok...tú, caro leitor, já estás a pensar: "Que audácia! Quem, em sã consciência, tentaria desclassificar dois dos maiores mestres do piano de forma tão categórica?". Mas aqui vai a explicação: No quesito singularidade harmônica e improvisacional, o desconhecido Herbie Nichols teria méritos mais do que suficientes para peitar o monge Thelonious, ao mesmo tempo em que peitaria facilmente Bill Evans no quesito da ênfase ao estilo de combo chamado piano-trio - ressaltando que essas comparações não são, necessariamente, para efeito de disputa, mas sim para análise. E o motivo pelo qual a maioria dos jazzófilos não sabem disso ainda é que Nichols foi um dos mais subestimados pianistas dos anos 40 e 50, fato que resultou em um ostracismo que permaneceu desde seu início de carreira até sua morte prematura em 1963, aos 44 anos de idade. Consequentemente, Nichols gravou pouquíssimas vezes. Entre suas gravações solos estão o conjunto de composições próprias num total de 3 discos para a Blue Note (conferir no catálogo de box da Mosaic), editadas entre os anos de 1955/ 56, além de um último álbum gravado pela Bethlehem Records em 1957.

Ora, num primeiro momento ninguém diria que, durante o efervescente cenário do bebop, Herbie Nichols já figurava entre os grandes músicos que frequentavam clubes do Harlem, como o Milton's Playhouse, por exemplo. Na verdade, Nichols começou sua carreira no final dos anos 30, chegando a alcançar considerável respeito como compositor em meados dos anos 40. Aliás, foi como compositor que Nichols se assegurou nos cenários da sua época, já que, enquanto músico, não era muito chegado aos climas de disputas entre instrumentistas virtuoses, fato tão comum na era dos beboppers. Tanto que, em 1951/52, a grande pianista Mary Lou Williams gravou um disco com suas composições e, quatro anos mais tarde, Nichols comporia a grande canção Lady Sings the Blues em parceria com ninguem menos que Billie Holiday, carinhosamente conhecida como Lady Day.

Em se tratando da sua maestria ao piano, Herbie Nichols parecia se dispor de características aproximadas às de Monk, assim como este chegou a ser influenciado pelo estilo "stride" de tocar de Mary Lou Williams - e pelo pouco que se sabe, eles, Monk, Nichols e Mary Lou, eram colegas próximos, gênios que frequentemente trocavam figurinhas entre si. No entanto, Nichols firmou seu próprio estilo, sem ficar taxado como um mero seguidor de Monk. Ao contrário, Nichols chega a soar melodicamente mais ousado que Monk e tão angular quanto este, ainda que menos fragmentado e harmonicamente menos "escuro". Ou seja, pra facilitar o entendimento, basta crer que Herbie Nichols era um improvisador de mão cheia, utilizava menos pausas e suas harmonias não chegavam a ter tantas dissonâncias quanto às harmonias escuras de Monk, esse sim afeito ao uso de pausas - como efeito para fragmentar a música - e com uma improvisação mais econômica, ou seja com uma quantidade menor de notas.


Em relação ao estilo de combo denominado como piano-trio (combo composto de piano, baixo e bateria), o qual Bill Evans foi o responsável por popularizar com incomparável sensibilidade, o trio de Herbie Nichols já mostrava uma interação única e avançada para os anos de 1955 e 1956, muito antes de Evans aparecer com seu power trio constituído de Scott LaFaro no contrabaixo e Paul Motian na bateria. E essa arte interativa de tocar num econômico grupo constituído de apenas três dos principais instrumentos - piano, baixo e bateria - pode ser apreciada num box de três discos lançado pela Blue Note/ Mosaic, intitulado Herbie Nichols Complete Blue Note Recordings, onde ele grava 1/3 das suas 170 composições, acompanhado de um trio composto por músicos como Al McKibbon e Teddy Kotick (revezando-se no contrabaixo), além de Art Blakey e Max Roach (revezando-se na bateria). Trata-se, então, de um registro imprescindível que não só mostra a singularidade de Herbie Nichols como pianista, mas é um registro precioso com um dos maiores trios da história do jazz, ainda que esse seja totalmente desconhecido do grande público.


Curiosamente, um outro pianista que mostraria um estilo singular e avançado - e também gravaria pelo selo Blue Note - seria Andrew Hill que, coincidentemente ou não, iniciou sua carreira em 1956 gravando o album So in Love justamente com piano-trio (constituído do desconhecido baterista James Slaughter e do contrabaixista Malachi Favors). Ambos, Herbie Nichols e Andrew Hill, moldaram seus estilos de improvisar com as influências da música erudita moderna: Nichols adorava Bela Bartók e Erik Satie, enquanto Hill chegou a estudar com o grande compositor Paul Hindemith. Sobre a comparação entre Thelonious Monk, Herbie Nichols e Andrew Hill no quesito de singularidade, o produtor Michael Cuscuna disse em uma entrevista ao canal NPR (National Public Radio) logo após a morte de Hill, em Março de 2007: "He (Hill) had a different way of looking at things. A completely different view point - not unlike Thelonious Monk or Herbie Nichols - people that just develop their own vocabulary. And like Herbie Nichols or the Thelonious Monk, there was no mistaking four bars of Andrew Hill piano, or a Andrew Hill composition. There was no mistaking them". Conclusão: enquanto pianistas contemporâneos, como Brad Mehldau e Keith Jarrett, ampliam a arte de tocar em trio como forma de mostrar influências diretas do supra-reverenciado Bill Evans, o peculiaríssimo Nichols perdura esquecido em mais de uma centena de composições, folhas quase que totalmente intocadas. Há algumas ressalvas. Como aconteceu em 1984, quando o pianista do free jazz europeu Misha Mengelberg lançou o disco Change of Season: The Music of Herbie Nichols, com o saxofonista Steve Lacy, o baterista Han Bennink, o contrabaixista Arjen Gorter e o trombonista George Lewis. Mais recentemente, o grupo de compositores do Jazz Composers Collective (Ted Nash, Ben Allison, Frank Kimbrough, Ron Horton e Michael Blake) criaram um projeto chamado The Herbie Nichols Project, que foi um dos principais acontecimentos a resgatar as singulares composições do "underrated" pianista. Esse projeto merece, portanto, uma outra ocasião com uma resenha que faça jus ao seu esmero.

6 comentários:

Roberto Cuzco disse...

Bela indicação Vagner. Estive ausente por uns tempos, mas pelo que vejo o blog esta cada vez melhor heim

abraço.

Érico Cordeiro disse...

Caramba, Mr. Pitta,
Excelente resenha sobre um músico fabuloso e injustamente esquecido.
Esse triplo é fantástico. E tava separadinho ali, para uma futura postagem (agora só me resta esperar, mas de logo peço a sua autorização para adicionar trechos de suas brilhantes elucubrações aos meus escritos, ok?).
Um fraterno abraço e parabéns!!!!

Unknown disse...

Pitta, coloca na próxima o Elmo Hope, que foi muito importante para o desenvolvimento de Coltrane, e não apenas Monk, como muitos dizem. abs

Unknown disse...

Pitta, coloca na próxima o Elmo Hope, que foi muito importante para o desenvolvimento de Coltrane, e não apenas Monk, como muitos dizem. abs

Érico Cordeiro disse...

Grande lembrança.
Sugiro uma postagem sobre o Trio And Quintet (Blue Note 11499) ou o Homecoming (OJC1810-2), porque a postagem sobre o Elmo Hope Trio (OJC477-2) já tá prontinha, prontinha (vou postar no final de semana, creio, porque já pus um pianista no JAZZ + BOSSA ontem - o grande Tommy Flanagan).
Esse é o Farofa Moderna, um blog com raízes e antenas, de olho (e ouvidos) no futuro mas nunca esquecendo o passado!!!!!!!

Vagner Pitta disse...

Grande Roberto!Sinceramente senti falta dos seus comentários: sempre curtos, mas de gandre valia!

Érico, seu blog é tbm muito legal. Vou lá sempre porque vejo paixão na sua forma de mostrar o jazz: gostas de mostrar o jazz de uma corma narrada quase que cronicamente, sem esquecer detalhes importantes. Muito Obrigado por nos visitar aqui! Obrigado mesmo!

Akira, sinceramente sei pouco sobre Elmo Hope, assim como sabia pouco de Herbie Nichols, mas me peguei nesses ultimos finais de semana uma paixão desenfreada pela música do cara. Consegui baixar algumas faixas e já logo percebi o estilo muito singular! Até pensei que era um pianista da década de 60, mas quando vi que era da década de 50, ví que era um pianista à frente do seu tempo! Aí fui lendo e dando uma pesquisada aos poucos, até surgir esses escritos!

Muito obrigado pela sujestão! Vou aguardar os posts de Érico sobre o Hope. E mais à frente tbm poderei abordá-lo aqui!


Abraços a todos!

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